É curioso que todos os candidatos dizem o mesmo: “se for pela vontade de Deus”, vou me eleger. Bem, no caso de Mato Grosso, Deus tem uma dura tarefa. Escolher entre Mauro Mendes, Wellington Fagundes e Pedro Taques. Isso significa que o Todo Poderoso autoriza ou desautoriza a eleição e, pela Sua vontade, elege homens como Silval Barbosa, por exemplo. Deus apronta, não é mesmo? E quando Deus apronta, bota pra quebrar.

[featured_paragraph]Imagine o Onisciente, sabendo de tudo o que foi, o que é e o que será, diante de uma quizila como o VLT. Somente Ele sabe quando essa novela acaba. Sim, porque Taques prometeu e não cumpriu. Somente Ele sabe quando o novo Pronto Socorro será entregue. Sim, porque Neneu prometeu e não fez.[/featured_paragraph]

Pelo que acreditam os candidatos, o maior cabo eleitoral do mundo é Ele Mesmo, sem dúvida, Deus. Mas é curioso que todas as religiões dizem que Deus não toma partido político. Queria não imaginar o Senhor de boton de campanha ou adesivo no carro. Imagine, por exemplo, o que Deus pediria em troca para dar esse voto de confiança: “sejam honestos, meus filhos”.

Deus é mesmo um romântico incorrigível. Fico me perguntando para que terceirizar o poder do Senhor. O que os candidatos fariam, aliás, que o próprio cabo eleitoral não pode fazer?! Não é querendo falar mal Dele, claro. Mas preciso lembrar que, se for verdade essa história da intervenção divina nas eleições, foi Deus quem nos mandou o Michel Temer, por exemplo. Pior: antes havia Dilma, uma coisa parecida com o dilúvio. Tudo depende da vontade do Pai. Assim sendo, não foi golpe coisa nenhuma! De forma que, mesmo em tempos republicanos e laicos, fica fácil o retorno à antiga ciência política que legitimava o poder com base nas escolhas divinas.

Aliás, quem deveria diplomar o candidato eleito em Mato Grosso não é o Tribunal Regional Eleitoral e sim o Arcebispo. Imaginem o pastor Waldomiro assinando o diploma da eleição. Ou o Edir Macedo. Quem sabe o Silas Malafaia, que é mais politizado. E se o candidato for ateu? Bem, nesse caso, Deus não pode deixar ele ser eleito. Ponto final. Não se elegem ateus. Mas e os contumazes pecadores? Bem, esses acertarão suas contas longe do Judiciário brasileiro. Vão se ver às voltas com processos sumaríssimos onde Deus acusa, defende e condena, mais ou menos igual a um Sérgio Moro, um Bretas, uma Selma. No céu, não tem STF. De Supremo mesmo, só Deus. Infelizmente, Ele é inimputável. Porque, do contrário, se fosse responsável pelas barbaridades que fazem, deveria ir em cana com um Paulo Maluf, por exemplo. Não deixaria no Congresso um Renan, um Jader, um Collor. Se voltarmos ao passado, foi Deus que vetou a emenda Diretas Já, acolheu Tancredo em Seus braços e, de quebra, colocou Sarney sentado no Planalto. Toma cuidado, Senhor!

O Supremo julgou nesta semana que improbidade administrativa dolosa é imprescritível. Mas eu sei que Ele não está nem aí. Deus é meio irresponsável, para falar francamente. Deve ser a falta de oxigênio. Todo mundo que sobe grandes alturas, diz que falta oxigênio no cérebro. A pessoa não consegue pensar direito. Esse é o problema de Deus: viver nas nuvens e se meter na política brasileira. Todo o dia, toda a hora.

Em campanha, o candidato aperta a mão do povo e diz: “se Deus quiser” isto, “Se Deus quiser” aquilo, “Se Deus quiser” aquilo outro. E vai falando da vontade de Deus como se fosse o próprio papa. Pelo jeito, todo político conhece intimamente o Todo Poderoso. Imaginem, porém, se fosse o eleitor, somente ele, quem decidisse a parada. O eleitor, esse sujeito crítico e mal agradecido. O candidato chega com aquela costumeira cara de pau e solta essa: curei de catarata milhares de pessoas! O eleitor daria um passa-fora no camarada. Outro pamonha promete: acabo com o seu sofrimento! O eleitor torceria o nariz e mandaria o candidato às favas. Talvez por isso mesmo, Deus participe ativamente, ungindo os eleitos com votos.

Tem gente que se elege inexplicavelmente, mas agora sabemos que foi Ele. Peço a Deus que chegue mais próximo de Mato Grosso, faça uma avaliação mais criteriosa dos candidatos. Ele tem errado muito conosco, ultimamente. E quando há essas cagadas de dimensões celestiais, só Deus na causa para nos salvar.

Eduardo Mahon é escritor, advogado e colunista do LIVRE 

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