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Saúde: investimento cresceu em Cuiabá, mas não melhorou o sistema

Capital tem índices alarmantes de hanseníase, mortalidade infantil e materna, mesmo investindo quase 30% de seu orçamento no setor

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Saúde: investimento cresceu em Cuiabá, mas não melhorou o sistema
Reprodução/Assessoria PMMT

A pandemia do novo coronavírus pode ser um teste para as propostas dos candidatos nas eleições municipais 2020. A crise de saúde gerada pelo contágio expôs as dificuldades do Sistema Único de Saúde (SUS). 

Cuiabá é um caso típico. O município aumentou o investimento no setor nos últimos anos, elevando para perto 30% do orçamento, mas os serviços continuam precários. 

O relatório das contas de gestão de 2019 feito pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) indica que a Capital tem a sexta pior cobertura do país na atenção básica, mesmo com orçamento acima de meio milhão de reais. 

A ineficiência tem amostra em números. Em 2018, Cuiabá era a Capital com maior taxa de mortalidade entre crianças com menos de 5 anos. Em média, quatro a cada grupo de 100 mil, nessa faixa etária, morreram por falta de cuidados apropriados ou por ausência completa deles. 

O número de mulheres que morreram no mesmo ano por causa materna colocou Cuiabá na 11ª posição nacional no registro de óbitos. Em Mato Grosso, foi o terceiro município em incidência da hanseníase. 

Investimento em ascensão 

Esse cenário foi registrado em paralelo com o crescimento do orçamento da Secretaria de Saúde do município. Conforme o relatório do TCE, em 2018, a cidade ficou em quarto lugar dentre as Capitais na quantia aplicada em saúde, por habitante. Marcou uma média de R$ 1,3 mil investidos por pessoa. 

Na comparação com o valor de quatro anos antes, isso representou aumento de 51%. Nos mesmos anos, a fatia do orçamento destinada para a área passou de 24,59% para 27,40%.

O que esses números mostram é que a situação podia estar bem pior? 

(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Ineficácia 

Os piores resultados de saúde em Cuiabá estão ligados aos serviços que poderiam ser executados pela atenção básica, a mesma que poderia implantar medidas sanitárias durante a pandemia, mas não o fez. 

Professor de saúde coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), o médico Reinaldo Gaspar diz que as dificuldades do SUS têm várias caras, mas poderiam ser mitigadas com a adoção de planos de prevenção de doenças, frente que deveria ser o carro-chefe do sistema. 

“O que nós temos é uma prioridade à atenção terciária, que é mais complexa, e teve implementação maior durante a pandemia. Isso é natural numa pandemia, quando não se tem serviços adequados de acompanhamento, controle, orientação da população”, afirma. 

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Direção errada 

A pandemia impulsionou, por exemplo, uma alta histórica em Mato Grosso de leitos de enfermaria e Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), que ficam nas redes secundária e terciária. 

O primeiro nó na rede teve problemas, conforme a Secretaria de Estado de Saúde (SES), em vários municípios em consequência da falta de preparo para receber e orientar as pessoas com sintomas da covid-19. 

Para o professor, os índices alarmantes da hanseníase, por exemplo, são característicos de um município que cresceu nas últimas décadas, mas cujos serviços da atenção básica se deslocam com lentidão tediosa. 

“Existe sobrecarga na atenção básica. Uma equipe de saúde cuidando de 7 mil pacientes não é adequado. O ideal seria até 3 mil pacientes. Se investe muito em pronto-atendimento e não em orientação”, pontua 

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