Os seguidores do premiado e cultuado internacionalmente Al Manzul receberam com pesar o comunicado do fechamento do restaurante árabe, nesta quarta-feira (31), em Cuiabá. O comunicado foi divulgado há duas horas, na conta do Instagram do restaurante. Diversas personalidades da cultura e autoridades políticas frequentavam o restaurante com mais de duas décadas de história. “Os rapazes do Titãs pegaram voo particular só para vir comer aqui”, contou certa vez o empresário Jamil Ayoub.

Hoje, muita gente foi pega de surpresa. “Comunicamos a todos nossos clientes e amigos o encerramento das atividades do restaurante Al Manzul. Foram exatos três anos e meio de uma história familiar com quase três décadas de profundo amor, dedicação e acima de tudo, respeito a todos que nos brindaram com o prazer da convivência reconhecimento e admiração”, diz trecho do comunicado.

Diversos comentários realçam a relevância de uma das cozinhas mais premiadas e celebradas de Mato Grosso – com sete primeiros lugares no Guia Quatro Rodas, por exemplo, e reconhecimento internacional. Nas duas recentes edições do guia Comer e Beber da Revista Veja, o Al Manzul também figurou entre os melhores estabelecimentos da capital.

Entre os melhores de Cuiabá

Na primeira edição, a exemplo, ficou em ficou em terceiro lugar na eleição do Melhor Restaurante, de acordo com o júri de Veja Comer e Beber Cuiabá 2017/2018. O estabelecimento teve duas fases de operação. A primeira, entre 1991 e 2013, funcionou sob o comando do libanês Salah Ayoub e a esposa Clariman, na casa da família. Após o falecimento de Salah Ayoub e um hiato de dois anos, voltou em novo endereço tendo à frente Jamil Ayoub, filho do casal fundador. O suntuoso ambiente, composto de três salões temáticos e um lounge, estava localizado à avenida Archimedes Pereira Lima – ou Estrada do Moinho como é também chamada.

A necessidade de se reposicionar no mercado levou o restaurante tradicional da cidade para região boêmia da Capital, no bairro Duque de Caxias. Nesta empreitada, abria também para happy hour. Enquanto isso, a unidade da avenida Archimedes Pereira Lima, funcionava como espaço de eventos.

“A ideia foi trazer a qualidade da comida que fez fãs no mundo inteiro, para uma área boêmia, charmosa e que concentra os melhores restaurantes da cidade”, disse à época. No Duque de Caxias a proposta era contar com a qualidade de sempre, porém, em um ambiente mais descontraído.

A saga da família Ayoub

Em entrevista ao LIVRE, à ocasião da abertura do novo espaço, com os banquetes de sempre – e opções mais em conta – e claro, sempre com as apresentações de dança do ventre, Jamil contou um pouco sobre a história da chegada da família Ayoub em Cuiabá. Tudo começou quando Salah chegou ao Brasil nos anos 50, atuando como representante comercial e sócio de loja de calçados tradicional na capital, em parceria com o tio Elias. “Toda cuiabania realmente comprava na loja”, contou Jamil.

“Meu pai sempre foi um bom cozinheiro, um gourmet. Na casa dos meus avós se comia muito bem, o Líbano é um dos países com maior tradição culinária do mundo, inclusive é considerado patrimônio histórico da humanidade como berço da gastronomia mundial”.

Em Cuiabá, o libanês encontrou a mato-grossense de Aquidauana e ensinou a esposa a cozinhar nos moldes árabes. “Desde criança ela sempre foi muito prendada na cozinha e ela aprendeu até mais do que deveria. A aluna superou o mestre”.

Somando a colônia libanesa em Cuiabá que já era expressiva na época, o casal ofereceu festas e banquetes na Chácara onde moravam para arrecadar fundos para a construção do Clube Monte Líbano, na estrada de Chapada. Na época, quase duas mil pessoas se reuniam para comer carneiro recheado e comida libanesa da família. “Foi assim que criou-se a tradição que Salah e Clariman tinham uma comida excepcional”.

No início dos anos 2000, o pai resolveu abrir o restaurante onde a família foi criada, na beira do Rio Coxipó. “O foco era ter uma fonte de renda trabalhando em casa”. No segundo ano com o restaurante aberto, receberam representantes do Guia Quatro Rodas de Turismo, que os premiaram como o melhor restaurante de culinária libanesa.

Vários outros prêmios do mesmo guia, não só da especializado no Brasil, mas como a melhor culinária do Centro Oeste em 2010, foram recebidos pelo Al Manzul por 22 anos consecutivos. Prêmios internacionais também fazem parte do currículo. “Prêmios na França, Espanha, Bélgica, minha mãe foi receber entre 40 empresas em todo mundo”.

Jamil garante que o sucesso vai além do luxo ou as atrações, mas a qualidade da comida. “Era um Chácara na beira do Rio, um lugar diferente, escondido, de difícil acesso, sem marketing. Tinha tudo para não dar certo”.

Titãs voltaram também para conhecer o novo espaço e claro, encontraram a qualidade de sempre (Foto: Rildo Amorim)

Na contramão da localização, o estabelecimento ganhou ainda mais visibilidade com a presença de celebridades, artistas, autoridades locais, turistas e cuiabanos. A ponto de receber um presidente do Banco Mundial e bandas de sucesso como Titãs e Biquini Cavadão.

“Quando chegou na Itália escreveu uma matéria de jornal dizendo que o Al Manzul não era o melhor restaurante do Brasil, mas do planeta em uma época que não existia a palavra moderna ‘gastronomia’, era comida boa mesmo. Em termos de turismo, o Al Manzul levou o nome de Cuiabá e Mato Grosso para o mundo inteiro”, disse Jamil ao LIVRE.

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