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Resistência: por que taxistas não abandonam a profissão ou migram para os app?

O faturamento caiu, mas ainda há clientes fiéis. No centro de Cuiabá, alguns deles contam porque insistem

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Resistência: por que taxistas não abandonam a profissão ou migram para os app?
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Um projeto de lei complementar que tramita no Senado quer isentar as cooperativas de táxi do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS). O objetivo é que o tributo – cobrado pelas prefeituras – não incida sobre o valor pago pelos passageiros aos taxistas, assim, na teoria, as corridas ficariam mais baratas.

O projeto, de autoria do senador Major Olímpio (PSL/SP), também autoriza os municípios a concederem incentivos ou benefícios fiscais às cooperativas.

“O taxista já é um ferrado por natureza com a duplicidade de cobrança em relação ao imposto sobre serviços. [O projeto] só está facultando aos municípios darem um tratamento igualitário”, argumenta o senador.

A proposta é vista com bom olhos pelos taxistas de Cuiabá. Desde o nascimento de empresas como a Uber, esses profissionais vem tentando se reinventar para sobreviver no ofício. E acredite, ainda tem gente nova entrando no mercado.

Leonardo de Faria, 23, está no ramo há 4 anos. Ele e o pai – há 15 anos na praça – dividem os turnos no volante.

Ele reconhece uma diferença no faturamento após a chegada dos motoristas de aplicativo, mas sustentar que trocar o táxi por um deles, está fora de cogitação. 

“Está cada vez mais difícil. Temos que trabalhar mais para conseguir metade do que fazíamos antes”, conta. Os lucros dele e do pai passaram de R$ 500 para cerca de R$ 200 por dia.

Mesmo assim, a avaliação é que “é melhor fazer uma corrida boa do que corridas pequenas com preços baixos”. 

Leonardo de Faria, 23, é taxista há quatro anos (Foto: André Souza/ O Livre)

Francisco Ferreira Barbosa, 75, trabalha como taxista há 33 anos. Nesta quinta-feira (13), ele chegou para trabalhar às 6h. Por volta das 10h, a única corrida que havia feito tinha lhe rendido R$ 10.

“Não tem mais lucro. Tem dia que a gente faz, tem dia que não. O camarada hoje em dia trabalha para se manter, sobreviver”, ele lamenta.

O ponto, a Praça Alencastro, no Centro de Cuiabá, é dividido com outros 15 motoristas. E o perfil dos clientes que ainda preferem os táxis, segundo ele, é o de passageiros idosos. 

Em tempos de “vacas gordas”, Francisco diz que já lucrou R$ 6 mil por mês. Hoje, o faturamento mensal não passa de R$ 2 mil.

Francisco Ferreira Barbosa (à esquerda) e Lúcio Henrique da Silva (à direita) (Foto: André Souza/O Livre)

Tratamento diferenciado

A estratégia de quem permanece no táxi é fidelizar o cliente com um tratamento diferenciado. Boa conversa é o mínimo que se oferece, eles garantem.

Sempre de óculos escuros, camisa de botão, calça jeans e sapatos mocassim, Francisco diz que esse – estar bem arruado – é um dos segredos para manter a freguesia.

“O motorista de aplicativo não carrega uma sacola de supermercado, trabalha de bermuda e chinelo”, alfineta.

Bem no centro de Cuiabá, a Praça Alencastro é um dos pontos de táxi mais tradicionais da cidade (Foto: André Souza/O Livre)

Em outro ponto, também pela região central, trabalha Lúcio Henrique da Silva, 60. Há 35 anos no ramo, ele diz que os taxistas estão “num mato sem cachorro”. A falta de apoio político, para ele, é a principal mazela da categoria.

Lúcio e Francisco criticam também as taxas cobradas pela prefeitura. Segundo eles, o alvará anual para liberação dos carros é de R$ 695, além de taxas como vistoria.

Entre as obrigações estão: retirar carteira de habilitação para atividade remunerada, certidão criminal, exame toxicológico e exame de sanidade mental.

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