Sônia Maria Bordoni Manzeppi, 64 anos, voltava a pé de mais uma sessão de fisioterapia no Hospital Jardim Cuiabá. Era por volta das 9h da manhã e seu trajeto foi interrompido por um pedido de socorro que vinha de dentro de um dos bueiros da calçada.
Um gato que miava desesperadamente e a chuva se aproximava. A situação exigia um salvamento rápido, que foi realizado com a ajuda de uma moradora do bairro, dos bombeiros e ainda um aplicativo de celular que se propõe a facilitar a comunicação com os bichanos.
“Eu comecei a chamar pelo gatinho, mas ele se assuntou e entrou mais ainda para dentro do bueiro. Então, comecei a chorar. Meu medo era de que começasse a chover e a água arrastasse o gato para o córrego”, recordou a amante dos animais.
A tentativa dos bombeiros também fracassou e eles retornaram para o batalhão, que fica a cerca de dois quilômetros do local onde o gato estava. Sônia, então, também seguiu seu caminho para casa – por ali pelas redondezas.
Mas a preocupação, não a deixou em paz. Ela decidiu voltar ao bueiro e, dessa vez, foi munida de comida, água e toalhas para resgatar o animal.
Já passava das 16h e a ameaça de chuva era cada vez maior.
Aflita ao ouvir o miado do gatinho, ela começou a chorar debruçada na calçada novo. Com o rosto virado para o bueiro, chamando a atenção de quem passava pelo local.
“As pessoas passavam e me viam ali na rua agachada e chorando. Pensavam que eu tinha caído e me machucado. Quando eu contava que estava tentando salvar um gatinho, riam e seguiam viagem”.
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Até que alguém resolveu ajudar. Thatiane Mariana passeava com seu cachorro, Bob, pelo bairro. Vendo a dificuldade de Sônia e do bichano preso no bueiro, foi até o batalhão do Corpo de Bombeiros e pediu o auxílio.
“Eu tinha passado mais cedo por ali e, depois, vi novamente aquela senhora aflita, no sol e chorando. Sozinhas não iríamos conseguir. E ela só dizia que estava com medo da chuva levar o gato e ele morrer afogado”, contou a moça.
Novamente os militares foram até o local. Mas dessa vez – assim como Sônia – o sargento Matias foi “equipado”. Ele sugeriu o uso de um aplicativo de celular para atrair o gatinho: Cat Sounds.
“O plano foi perfeito. O aplicativo imitava o miado de uma mamãe gata, o que atraiu o filhotinho rapidamente para a entrada do bueiro. Foi uma emoção! Eu chorava e ria ao mesmo tempo”, contou Sônia, que não só adotou como já deu nome a gata: Nina!
Amor x abandono
Nina não foi o primeiro resgate de Sônia. Ela tem quatro cachorros e cinco gatos. Todos adotados.
Alguns moram junto com ela, na casa onde reside em Cuiabá. Outros ficam em uma chácara no Distrito da Guia, onde a senhora passa os finais de semana com o marido.
Mas eles não foram os únicos. Sônia já perdeu a conta de quantos animais resgatou.
“Meu marido já me proibiu de trazer mais animais de rua para dentro de casa. Além dos gastos, tem o apego. Sempre que algum deles morre, eu fico de luto”.
Com Nina, não teve proibição que resistisse. O apego foi diferente, dada toda essa situação.
A gata de apenas 60 dias já recebeu os primeiros paparicos como banho, alimentação e cama quentinha. Foi medicada e agora recebe, da veterinária Bernadete Santos, os cuidados para sarna e vacinas necessárias.
“Ela e o Chico, meu outro gato que também foi resgatado das ruas, se deram muito bem e já estão brincando alegres pela casa”.
“Quando ouvi aquele miado de pedido de socorro vindo do bueiro, eu já sabia que levaria mais um animal para casa”.