A disputa por uma fazenda de calcário localizada em Rosário Oeste, que foi à leilão na Justiça do Trabalho e chegou a ser arrematada pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, à época senador, acabou levantando suspeita de vendas de sentenças por juízes de Mato Grosso, cujas investigações correram desde 2005 sob segredo de justiça nas corregedorias da Justiça do Trabalho e do Tribunal de Justiça de Mato Grosso.
Conforme material ao qual o jornal O GLOBO teve acesso, Maggi acabou desistindo do lance, de R$ 22,7 milhões, e sub-rogou o direito de arrematação a Gilberto Eglair Possamai, que arcou com o valor e adquiriu a fazenda.
Segundo O Globo, ex-vereador de Sorriso pelo PSDB, Possamai se elegeu em 2004 sem declarar patrimônio e com despesas de campanha que somaram R$ 11 mil. Agora, em 2018, articula uma candidatura a suplente de senador.
A Procuradoria-Geral da República chegou a pedir a abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal para investigar as condições em que se deram o leilão que teve a participação de Maggi, sob suspeita de que Possamai fosse seu “laranja”. O inquérito, no entanto, acabou arquivado por falta de provas.
De olho no calcário, o herdeiro da fazenda, Alain Borges, e os inquilinos para quem alugava as terras, passaram a questionar a propriedade do imóvel na Justiça, com o intuito de anular o leilão e impedir a falência da empresa Cotton King, uma fábrica de tecidos em Cuiabá de propriedade do falecido pai de Alain, que entrou em recuperação judicial e acabou penhorando os bens de Borges, inclusive a fazenda.
Com a briga judicial, a ideia era ainda tentar transferir a massa falida da empresa para as mãos de Jorge Zanette, um empresário que já foi preso em São Paulo por estelionato. O leilão chegou a ser anulado na 7ª Vara do Trabalho de Cuiabá. Na 1ª Vara Cível da cidade, por sua vez, o juiz Flavio Miraglia Fernandes homologou o arrendamento da Cotton King para a empresa Darling Harbour Confecções, de Zanette.
Em 2014, entretanto, o empresário brigou com a turma de Alain Borges e decidiu munir Possamai com o histórico de conversas de um mês que manteve no WhatsApp com a advogada Cláudia Regina Ferreira, que supostamente intermediava vendas de sentenças no Judiciário mato-grossense. O material, que possui 22 páginas e ao qual O GLOBO teve acesso, sugeria uma trama para manter as terras com seus antigos donos.