Centro efervescente da dança no Brasil, Joinville (SC) atrai bailarinos de todo o país que estão em busca de formação. Eles sonham brilhar nos palcos nacionais e internacionais e assim, buscam as diversas escolas de dança das mais variadas vertentes, da dança clássica à contemporânea.
Dentre eles figuram os artistas do sapateado, tendo que avançar sobre um mercado de trabalho que é bastante restrito. A artistas da Orquestra Brasileira de Sapateado, Gabriela Dias, explica que é preciso ser persistente em meio a um campo profissional com poucas opções.
“É possível dar aulas em escolas de dança, workshops e festivais. Também pode coreografar para teatro, TV ou cinema, mas como se vê, são poucas as oportunidades. Temos um grande número de sapateadores brasileiros extremamente talentosos, mas o ‘ganha pão’ continua mesmo sendo as aulas”, explica.
Já o coreógrafo e bailarino tetracampeão do Festival de Dança de Joinville, Derick Jacinto, é um pouco mais otimista. Ele diz que é possível viver só do sapateado, sem ter que se dedicar a outros estilos. E considera dar aulas, só uma primeira etapa.
“É assim que a maioria dos sapateadores encontra meios para sobreviver e começar outros projetos a partir daí. É o ‘start’, tem que acontecer. Pra ser um grande produtor ou coreógrafo, você precisa saber o que acontece na sala de aula. É o básico! Sala de aula é a base da vida humana em qualquer área e ninguém deve pular essa etapa!”.
Arte politizada
Ele é diretor e coreógrafo da companhia Tinkle Group, que em 2019 conquistou pela quarta vez consecutiva o primeiro lugar no Festival de Dança de Joinville na categoria sênior de sapateado. A coreografia campeã, ‘Identidade’, tinha um cunho político e social, abordando críticas ao governo Bolsonaro e apoio à diversidade e à comunidade LGBT.
Quando questionado sobre o processo de criação, Derick declara que surgiu da vontade de expor minorias injustiçadas e mostrar para o mundo que essas pessoas tem voz.
“Eu como diretor, coreógrafo, negro e gay me via numa posição de respeito dentro do meu grupo e dentro de uma sociedade artística. Um tempo onde as pessoas não se calam, por que não usar isso como pauta para uma nova coreografia?”.
Ele diz que estava um pouco receoso, porém acredita que todo coreógrafo coloca seu melhor em um trabalho. “Eu fiz a minha parte, me dediquei com a minha verdade e acho que foi isso que me fez ficar em primeiro lugar”.
Ainda sobre o cunho político apresentado, ele afirma: “acho que toda arte pode e deve ser usada como meio de comunicação. É uma maneira até mais bonita de protestar. Mais inteligente. Tudo que envolve arte fica mais poderoso”.
Estima-se que o sapateado americano chegou ao Brasil em meados da década de 1950, mas começou realmente a ser difundido por volta da década de 1980. Atualmente existem sapateadores brasileiros de grande relevância tanto dentro do Brasil como fora dele, atuando em algumas das maiores companhias do mundo.