Ela é filha de um branco com uma negra. Cresceu no subúrbio de Los Angeles, onde viu a mãe ser confundida por uma babá, diversas vezes, por elas serem de cores diferentes. Sentiu angústia por não conseguir escolher sua raça quando teve que preencher um questionário na escola (não existia nada parecido ao que classificamos de mulato ou pardo nos EUA).

Suas dúvidas continuaram. Aos 11 anos, viu um comercial de um detergente que dizia: “As mulheres do país estão lidando com tampas e panelas engorduradas”. Na hora, um amigo vibrou: “Isso mesmo. Lugar de mulher é na cozinha”. Não concordou. Achou que algo estava errado. Desabafou com o pai que a incentivou e insistiu para que ela fizesse algo. Ela fez.

Escreveu para Hillary Clinton, na época a primeira-dama do país, e para a empresa do produto. Ela não só obteve uma resposta de Clinton como teve o comercial mudado. Após sua reclamação, ficou: “As pessoas do país estão lidando com panelas e tampas engorduradas”. Percebeu que tinha voz.

Desde jovem, ela se interessou pelos problemas dos outros. Para seguir o exemplo dos pais, passou a servir refeições na Skid Row, a área onde fica a maioria dos moradores de rua de Los Angeles.

Depois de concluir o curso de relações internacionais na prestigiada Northwestern University, na região de Chicago, que lhe rendeu uma passagem pela embaixada dos EUA na Argentina, decidiu que iria seguir um sonho: virar uma atriz famosa.

Lutou. Enfrentou preconceito por não se encaixar num padrão, já que não era negra demais nem branca demais. Não desistiu até conseguir o papel principal em uma série de tevê que fez sucesso e já teve sete temporadas. Encontrou um amor que acreditava que fosse durar para sempre. Não durou. Divorciou-se.

A fama lhe deu a oportunidade de usar a sua voz para fazer a diferença, como aprendeu lá atrás, com aquele comercial. Criou um blog de estilo de vida, The Tig, No qual refletia sobre questões das mulheres, opiniões pessoais, viagens. Falou com tanta coerência que chamou a atenção da ONU, que a nomeou Defensora das Mulheres. Em seu discurso, na sede da entidade, em 2015, disse: “Igualdade quer dizer que o Secretário Geral da ONU é igual à jovem estagiária que sonha em apertar suas mãos. Significa que uma esposa é igual ao seu marido; uma irmã igual ao seu irmão. Nem melhor, nem pior – apenas iguais”.

Um belo dia, a atriz feminista encontrou um príncipe de verdade. E se apaixonou. A esperança é a de que viverão felizes para sempre, exatamente como nos contos de fadas. Apresento-lhes Meghan Markle, a norte-americana de 36 anos, que roubou o coração do príncipe Harry, da Inglaterra. Será a primeira mulher multirracial a entrar para a família real inglesa. Se a história desta mulher não parece roteiro de filme de Hollywood, eu não sei mais o que seria.

Assinatura Debora Nunes

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes