“Uma experiência e tanto”, descreve o fotógrafo José Medeiros que percorreu a Transpantaneira para registrar o cenário das queimadas que atingiram o Pantanal em 2020. O bioma já teve quase 3 milhões de hectares queimados, fazendo desse o pior cenário de queimadas em 22 anos.
O resultado da expedição é o ensaio intitulado de ‘Pantanal: céu e inferno em terras alagadas’. O nome faz referência tanto ao santuário natural, que é o Pantanal, quanto à devastação que o bioma sofre com as queimadas e o desmatamento.
Nos corixos, cobras, rãs, sucuris, jacarés e bois mortos. As perdas, segundo Medeiros, são inestimáveis. “É uma situação muito triste. Parece história, cenário de pós-guerra e caiu uma bomba causando esse fogo todo.”
É a arte de fotografar seres humanos que interessa José. Desses personagens, está Tutu, um idoso de 79 anos que teve um dos pés queimados ao ajudar brigadistas a apagar o fogo.
“As pessoas estavam queimando o que podiam ao redor para salvar a casa. É uma coisa muito triste”, lembra. São cerca de 100 famílias que, segundo Medeiros, dependem do turismo, da pesca e de pequenas roças para a manutenção da vida.
Fotografar é documentar. Deixar algo para daqui 50, 100 anos é uma das importâncias do agora, para Medeiros. “Alguma coisa que possa fazer a diferença”. Não é de hoje que Medeiros se dedica ao Pantanal. Ele passou 11 anos entre Cuiabá e o bioma para registrar a vida do homem pantaneiro.
O registro de um jacaré que morreu queimado também é um dos que mais marca o fotógrafo. O animal estava com a boca aberta. “Parece que ele estava nadando no meio da cinza com tudo seco em volta. Vi macaco chupando limão para se alimentar. ”, narra.
Mexer com a fotografia é fazer o leitor refletir, explica Medeiros. “Tenho que tentar mexer com você. Preciso colocar na mira o olhar, depois a cabeça e o coração”. Outras fotos do fotógrafo podem ser vistas no Instagram.
Crônica visual
O fotógrafo da National Geographic BrasiI, Izan Petterle também visitou o Pantanal para documentar as perdas para o meio ambiente e para o povo pantaneiro. Ele esteve em fazendas e conversou com moradores da região.
Dos relatos, dois pontos sempre aparecem: “Ninguém se lembra de uma queimada nessa magnitude e nem de uma seca como essa”, diz.
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Vaqueiros tocam o gado, através do rio Pixaim, para fugir dos focos de incêndios.
O que o fotógrafo viu é, para ele, indescritível. A grande quantidade de bichos mortos (entre animais de criação, como búfalos, bezerros e animais selvagens) impressiona Petterle.
É uma espécie de crônica visual. “A ideia foi retratar – através da minha perspectiva – a vida de vaqueiros e pantaneiros. É tentar dar uma dimensão humanística desse desastre. Meu olhar foi direcionado para contextualizar a experiência de quem sofre”, explica.
A cobertura de Petterle no Pantanal pode ser visualizada no perfil dele no Instagram.
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