Alguns dias, tenho dificuldade em encontrar inspiração para escrever. Já em outros, não vejo a hora de colocar o que penso no papel. O tópico que me incomoda, há mais de uma semana, é aquele que vem causando nojo em quase todas as pessoas normais: a de Diego Ferreira de Novais, o homem que ejaculou em uma passageira de um ônibus na cidade de São Paulo.

O rapaz, de 27 anos, tem no currículo 17 boletins de ocorrência por crimes sexuais e andava solto por aí, atormentando a vida das mulheres.

Se for provado que ele sofre de transtornos mentais, como alega sua família, isso mostra que estamos nos esquecendo dos que precisam de tratamento e negligenciando nossos doentes. 

Porém, independente do seu diagnóstico, algo me chama atenção: se desde 2009 ele tinha tantas passagens pela polícia, como sua família só foi descobrir nos últimos anos? Ninguém sabia de seus atos? Como ele vivia impune (e sem tratamento), escolhendo suas vítimas há quase uma década?
 Pois Diego precisou atacar duas vezes em menos de uma semana para ser considerado um perigo à sociedade e, finalmente, ser preso.

A decisão do juiz José Eugenio do Amaral Souza Neto, que o liberou na primeira ocorrência, foi uma afronta aos direitos das mulheres. Quer dizer que a lei precisa mudar só porque não está escrito explicitamente que ejacular em público é crime?

Será que o Dr. José Eugenio teria deixado Diego solto se o fato tivesse ocorrido com alguém da sua família?
 Duvido.

E vou mais longe. 

Para mim, isso é mais uma prova de que vivemos num mundo machista, no qual o homem faz o que quer, porque pensa que pode. 

Em sua cabeça, ele pode estuprar, pode ejacular em público, pode mexer com uma mulher na rua. Ele pode assediar no trabalho. 
Afinal, quantas vezes alguém já ouviu as acusações acima serem praticadas por uma mulher? Já ouviu falar de homens sendo assediados no transporte público?

Raríssimo, não é?

Então, algo está errado.

Se são os homens que praticam tais crimes, há algo errado no modo como enxergamos o mundo.

Está na hora de parar de passar a mão na cabeça de nossos animais de estimação. Sim, porque, desculpem, mas isso não é comportamento de gente. É comportamento de bicho.

É doente? Vá se tratar, então. 

A mulher provocou? — é a desculpa que sempre ouvimos. Pois passou da hora de os homens aprenderem a se comportar e entender que só é certo avançar quando há consenso.
 Estou defendendo um mundo onde o homem abaixa a cabeça e fala “sim” para tudo o que dizemos?

Claro que não.

Acredito num mundo de respeito mútuo, de troca. Nada feito pela força ou que nos deixe constrangidas.

Sonho com um mundo onde mulheres podem andar em transporte público sem medo de serem assediadas.

Isso é pedir muito?

Assinatura Debora Nunes

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