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Quanto você vale? Como plataformas de assinatura na internet destroem a dignidade humana

Artigo de Luiz Felipe Costa sobre a proibição do OnlyFans de conteúdo sexual explícito

4 minutos de leitura
Quanto você vale? Como plataformas de assinatura na internet destroem a dignidade humana
(Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A recente notícia de que a plataforma de assinatura OnlyFans irá proibir conteúdo sexual explícito causou agitação nos produtores de conteúdos e no público que utiliza essa rede social, que foi até mesmo chamada de “vítima da guerra contra a pornografia” por um veículo de comunicação.

A popularidade do OnlyFans

Criado em 2016 por Timothy Stokely e com 75% de seu capital nas mãos do “barão da pornografia” Leonid Radvinsky desde 2018, o OnlyFans é um serviço de assinatura em que os produtores de conteúdo postam fotos e vídeos geralmente de teor erótico para seus assinantes, cobrando uma taxa que varia de US$4,99 a US$49,99 por mês – ou seja, de R$30,00 a R$300,00.

Desistindo de enfrentar as dificuldades do trabalho duro e buscando o “sonho” de se ganhar “dinheiro fácil”, pessoas de todas as idades se rendem cada vez mais a este novo, porém velho, meio de sustento.

Além da chance de se obter renda, outro fator que contribui para o aumento dos produtores de conteúdo dessa rede e para sua crescente popularidade é a pandemia do vírus chinês covid-19, que ceifou as possibilidades de trabalho – e até mesmo de buscar trabalho – de muitas pessoas no mundo todo graças ao “fique em casa” exagerado.

O lockdown também é um dos culpados por levar muitos à ociosidade dentro de suas próprias residências, ocasionando na busca desenfreada por outras alternativas de “diversão”.

Qual o motivo do banimento?

Ao mexer com o bolso, e também com as paixões desordenadas do ser humano, a decisão do OnlyFans gerou revolta tanto em produtores quanto em espectadores. Porém, esse banimento de conteúdo explícito não se deu pela empresa ter finalmente entrado nos eixos morais. Em entrevista à revista americana Complex, um representante do OnlyFans explicou que o motivo do banimento é não entrar em conflito com seus parceiros financeiros, como provedores de pagamento e bancos, que querem se distanciar de conteúdos impróprios – pelo menos por enquanto.

Entretanto, em tweets mais recentes, a plataforma informou que suspenderá essa proibição e continuará permitindo conteúdos explícitos. Sendo assim, fotos e vídeos indecentes continuarão sendo veiculados no OnlyFans.

Quem se sujeita a isso?

Contando com cerca de 130 milhões de usuários e dois milhões de produtores de conteúdo, segundo o site The Sun, o OnlyFans também é um espaço para artistas mostrarem seus trabalhos exclusivos e suas rotinas a seus seguidores mais ferrenhos. Contudo, a maioria dos produtores, celebridades ou anônimos, promove material sexualmente explícito. Os (maus) exemplos de conteúdos são variados e não serão citados para que os leitores não se escandalizem.

Segundo a BBC, foram descobertas inclusive contas atribuídas a menores de idade no site devido a falhas de verificação de identidade.

O dinheiro envolvido nisso é alto. De acordo com a Forbes, 80% do valor da assinatura é destinado ao produtor de conteúdo, enquanto o restante fica com o OnlyFans. Isso permite que muitos “modelos” levem uma vida milionária graças à plataforma.

Sob a visão cristã

Há até pessoas que se dizem cristãs produzindo conteúdo adulto para o OnlyFans – e não veem incompatibilidade nisso. Estão, pois, enganadas, obviamente, já que essa atividade tem um nome: “pornografia”, considerado pecado grave no cristianismo por ofender à castidade e à cobiça do próximo como um objeto – 6º e 9º Mandamentos.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC), no artigo 2354, define claramente a pornografia como algo que “consiste em retirar os atos sexuais, reais ou simulados, da intimidade dos parceiros para exibi-los a terceiros de maneira deliberada.” É exatamente isso que os produtores de conteúdo explícito do OnlyFans fazem. Mais à frente no mesmo artigo, o CIC confirma: “É pecado grave.”

O mesmo Catecismo diz que a pornografia “atenta gravemente à dignidade daqueles que a praticam (atores, comerciantes, público), porque cada um se torna para o outro um objeto de prazer”. Ou seja, as pessoas estão se deixando tornar objetos e fazendo outras de objeto pelo mísero valor que varia de 30 a trezentos reais por mês.

Em texto escrito para o Canção Nova, o psicólogo e filósofo Adriano Gonçalves diz que “a pornografia deturpa a dignidade dos filhos de Deus”, criando-se “a fantasia de que o ser humano é uma máquina a ser manipulada na obtenção máxima do prazer”.

Em outras palavras, os produtores e seu público estão utilizando máquinas – celulares, câmeras, computadores – com o objetivo de transformar o ser humano em meras máquinas. Em reunião com a Rede Internacional de Legisladores Católicos no último dia 27, o próprio Papa Francisco alertou: “as maravilhas da ciência e tecnologias modernas aumentaram a nossa qualidade de vida (…), mas, abandonadas a si mesmas e apenas às forças do mercado, (…) essas inovações podem ameaçar a dignidade do ser humano”.

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