Tornar-se uma profissional é o sonho de muitas mulheres que buscam independência financeira. Não é diferente para aquelas que tentam uma segunda chance e a reinserção na sociedade.

No município de Nortelândia, a equipe do LIVRE conheceu o projeto Japuíra, desenvolvido pelo Instituto Mato-grossense do Algodão (IMAmt), que oferece treinamento em costura industrial para reeducandas da Cadeia Pública Feminina do município e para a comunidade local.

Izabel Farias dos Santos, 23 anos, faz parte da turma. Ela já cumpriu um ano e três meses dos quase nove a que foi condenada por tráfico de drogas. Ao lado do marido, foi pega com entorpecentes em casa, em Lucas do Rio Verde. O companheiro também está preso. O casal agora pensa em construir um futuro diferente.

“É uma oportunidade para mudarmos de vida”, afirma a jovem de olhos verdes e cabelos vermelho. “Só a gente sabe o quanto é ruim perder a nossa liberdade”, lamenta.

À reportagem, Izabel afirma que viu na capacitação um leque de oportunidades, antes distante para ela devido à falta de acesso.

“Um curso como esse num grande centro é disputado e caro, não é todo mundo consegue fazer”, lembra a instrutora Rose da Silva, que ensina cada alinhavado novo com paciência.

Nesta turma, são 15 mulheres. Oito são reeducandas e as demais, moradoras das proximidades de Nortelândia. Outras três turmas já passaram por ali, um galpão improvisado, mas cheio de matéria-prima, máquinas novas e força de vontade.

A capacitação leva cerca de três meses. Ao fim do curso, as alunas saem prontas para o mercado de trabalho, garante Rose, que acompanhou as primeiras turmas, antes abertas apenas para a comunidade.

“Muitas mulheres conquistaram a independência financeira depois do curso, abriram cooperativas e juntas transformaram a renda da família”, disse.

K.C., que já cumpriu metade dos quatro anos a que foi condenada por tráfico de drogas, vê no projeto um motivo para voltar para casa de “cabeça erguida”. “Isso vai me auxiliar para quando eu sair. Terei chances de arrumar um serviço digno”, comemora.

Mas a tristeza no rosto da jovem surge quando assunto é família. Com dois filhos pequenos, um de quatro e outro de três anos, ela se dedica às aulas de costura durante todo o dia e à noite aos estudos, tentando finalizar o colégio.

“O mais velho não vejo há seis meses e o mais novo há um ano e sete meses. A saudade sufoca”, lamenta.

Apesar das lágrimas e da angústia que diz carregar no peito, os planos para o futuro são os melhores possíveis. “Minha avó e minha mãe costuram. Quem sabe mais pra frente a gente forme o trio da costura”, sonha.

Em Rondonópolis, outros 25 reeducandos da Penitenciária Major PM Eldo Sá Correa, mais conhecida como Mata Grande, participaram da capacitação, iniciada em março.

“Deu tão certo que agora os reeducandos estão recebendo um complemento, voltado para camisetas de malha”, revela o coordenador do Japuíra, Osmar Rodrigues. A cerimônia de entrega dos diplomas ocorreu na sexta-feira (18/08).

O IMAmt e a Ampa não trabalham sozinhos neste projeto. Contam com apoio de prefeituras ou entidades beneficentes que assumem uma contrapartida como a formação do grupo e o local para o treinamento.

“O Japuíra é a forma que os cotonicultores associados à Ampa encontraram para estender à população os benefícios da produção algodoeira”, pontua o presidente da Ampa, Alexandre Schenkel. O projeto também conta com apoio financeiro do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA).

 

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