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Projeto doa pés de sapato a amputados

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Projeto doa pés de sapato a amputados

Reprodução/ Estadão

Projeto Calçados

Um dos dilemas de quem tem apenas um pé é conviver com o desperdício de comprar um par de sapato e só usar um. Buscar amputados para doar o outro pé ou acumular calçados em casa até conseguir fazer uma doação faz parte da rotina dessas pessoas. Há um ano, isso mudou para 400 beneficiados do Projeto Ímpar, iniciativa do Sindicato das Indústrias do Calçado e Vestuário de Birigui (Sinbi), que já doou 2,4 mil calçados.

O segurança Paulo Rogerio Rodrigues, de 39 anos, conheceu o projeto em uma feira voltada para deficientes físicos, em julho deste ano, e se cadastrou assim que chegou em casa. “De lá para cá, tenho recebido os calçados. Só tenho a perna direita e também estou mandando o pé esquerdo dos meus sapatos para eles doarem. Mando com muito carinho e muito prazer, porque penso em ajudar as outras pessoas.”

Rodrigues, que precisou ter a perna esquerda amputada em 2001 por causa de um tumor ósseo, conta que já recebeu cinco calçados e aguarda novos modelos.

“Estou para receber mais alguns tênis, porque faço caminhada, ando muito de condução, trem, metrô. Também tenho mais cinco (sapatos) para mandar para eles.”

Antes de conhecer o projeto do sindicato da cidade do interior paulista, o auxiliar administrativo Willian Luís de Oliveira Vaz, de 33 anos, doava o pé esquerdo dos seus sapatos para um vizinho, mas nem sempre tinha sucesso ao tentar passar os calçados adiante. “Às vezes, ele não gostava dos tênis que eu gosto. Eu dava para ele ou jogava no lixo, mas dá dó jogar fora.” O vizinho dele acabou morrendo, mas, logo depois, um amigo falou sobre o projeto. “São produtos novos e de qualidade”, diz.

Vaz teve um câncer na perna esquerda aos 8 anos e, por falta de condições financeiras, não usa prótese. Mas faz questão de caprichar no visual para ir ao trabalho. “Uso uniforme e peguei sapato social para ir trabalhar.”

Há 23 anos, a dona de casa Adriana da Silva Clementino Ressurreição, de 41 anos, foi atropelada e teve um encurtamento na perna direita. Ela usa bota ortopédica e só precisa dos calçados para o outro pé. Antes, Adriana doava os sapatos a um primo, mas ele conseguiu uma prótese e não precisou mais.

“Preciso usar rasteira e tênis, mas não consigo um valor acessível. O mais barato custa R$ 100. Agora, eu entro no site, mando a cor e o número, e recebo.” A dona de casa conheceu o projeto no fim do ano passado e pegou dois calçados.

Lixo

O projeto teve como inspiração o caso de uma moradora de Belo Horizonte que encontrou calçados no lixo e, ao ver que não havia pares, resolveu procurar quem tinha apenas um dos membros inferiores para doar os sapatos.

“Estava indo visitar uma amiga e vi uma caixa com sapatos. Sorte que cheguei antes de o caminhão de lixo levar. Cheguei em casa, comecei a colocar na sala e vi que era sapato demais, muito mais do que imaginava. Coloquei no Facebook e no WhatsApp que tinha encontrado os sapatos. No outro dia, não conseguia atender ligações. Eram várias pessoas que queriam doar e receber”, relembra Élida Castor Rodrigues, de 53 anos, administradora da Instituição Fraternidade Espírita Luz e Caridade.

Inicialmente, ela fazia as doações por conta própria, mas as despesas começaram a ficar altas. “Chegou a situação de gastar R$ 1 mil de correio. Então, me limitei às áreas de Belo Horizonte e da Grande Belo Horizonte para entregar pessoalmente. Meu trabalho é de formiguinha, mas o projeto deu amplitude a quem precisa.” Atualmente, Élida tem 1 mil calçados para doar ao Projeto Ímpar.

Segundo o presidente do Sinbi, Carlos Mestriner, os resultados do projeto vieram mais rápido do que o esperado. “Não imaginávamos que criaria essa magia e um resultado tão bacana. As pessoas vão percebendo a magnitude do bem que isso faz. Temos doações individuais de pessoas que compraram um par e o sapato ficou pequeno. Também é um movimento em que quem recebe ajuda sente vontade de ajudar.”

Atualmente, 200 empresas também colaboram para o projeto tanto com doações quanto com ajuda para a parte logística. “Temos produtos novos, calçados que vão para mostras ou quando a empresa destrói um pé fora do padrão e sobra outro perfeito e de altíssima qualidade. O que era um problema acaba ajudando as pessoas.”

Mestriner diz que não há limite para o número de calçados solicitados e qualquer pessoa pode doar, basta se cadastrar no site. Em novembro do ano passado, o Sinbi foi o primeiro colocado no Prêmio Melhores Práticas Sindicais, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

(Com Agência Estado)

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