O otimismo natural de Flávia Goulart ficou ainda maior desde que ela voltou da Universidade de Harvard, na última semana. A professora de 27 anos leciona na Escola Estadual Zélia Costa de Almeida, no bairro Jardim Presidente II em Cuiabá, e foi uma das escolhidas para representar os professores brasileiros na Brazil Conference.
Durante o evento, que é organizado por alunos brasileiros de Harvard e do MIT (Massachusetts Institute of Technology), Flávia e o professor Ivan Gontijo deram alguns exemplos bem-sucedidos de ferramentas e técnicas de ensino em escolas públicas, os dois integram a rede da ONG Ensina Brasil. Na escola onde leciona, a professora chegou a usar funk para ensinar os alunos do 9ª ano do Ensino Médio sobre gramática.
“Uma das coisas que percebi é que os adolescentes do nono ano são muito criativos e eles gostam muito de funk. Então eu aglutinei explicar os porquês com funk”, relembra. A professora diz que aulas neste sentido vão além da expectativa. “Eu não estava aqui, mas no aniversário de Cuiabá eles estavam cantando o funk dos porquês na escola”, diz entre risos.
A música composta pela professora é uma paródia de “Cerol na Mão” do grupo Bonde do Tigrão. Utilizando uma espécie de “censo” com os alunos, Goulart tenta entender as particularidades de cada estudante e a partir disto atraí-los para o ensino.
“O grande X da questão é fazer com que o aluno de escola pública pare de copiar e comece a ser um ser pensante, muitos vêm de uma cultura de cópia, e não estão acostumados a criar, só decoram”, lamenta.
Mas para chegar a esse estágio, Flávia defende que é preciso “exigir” do professor de escola pública. Ela entende que, apesar das dificuldades sistêmicas e estruturais, os professores precisam ser melhores qualificados e cobrados pelo serviço prestado.
“É exigir assim como a gente exige das outras profissões. Não podemos exigir menos devido às condições [estruturais]. Não exigimos menos do médico quando vamos ser atendidos e a gente sabe das condições. Eu sempre penso em poder dar meu máximo para o meu aluno”, diz.
Defesa da escola pública
Crítica à retirada de disciplinas antes consideradas obrigatórias, como Filosofia e Sociologia, a jovem professora de Língua Portuguesa se coloca como uma defensora da escola pública. “Eu sou uma professora que acredita que a escola pública é tão boa quanto a particular”, sentencia.
“Sempre que um aluno me conta um sonho, eu digo a ele que ele pode conseguir aquele sonho através da educação. Toda vez que eu planejo minha aula, eu sempre penso que ele quer realizar um sonho e através disso eu posso fazer com que ele chegue mais próximo desse sonho. É claro que tem uma parcela que também é dele, mas o professor contribui muito com isto”.