Até o ano passado a jovem Yasmin Campos, 23 anos, se desdobrava entre um cargo no serviço público, a faculdade de Letras na UFMT e até mesmo, trabalhos como freelancer em produções audiovisuais.

Neste ano, de forma inesperada para amigos e familiares, largou tudo para se dedicar inteiramente ao aprendizado da Bhakti Yoga, conhecida como o yoga do amor. É por meio dela – acreditam os adeptos desta filosofia devocional – que se pode atingir a comunhão divina e a sabedoria. Com os mantras e as práticas da Bhakti Yoga, o ser humano se desprenderia do mundo espiritual para se identificar com a alma.

E foi assim, que mergulhou fundo em um processo de busca pelo autoconhecimento que analisa, teve início aos 18 anos. “Foi então que comecei a transformar minha vida passo a passo, intuitivamente, ia nesta direção. Antes eu achava que a realização era ser bem-sucedida, ter fama, reputação, mas na verdade o que importa é a nossa essência. A partir daí vários padrões foram se dissolvendo tanto em relacionamentos quanto trabalho”, relembra.

“Krishna já estava me chamando e essa mudança de vida não é uma concepção egóica, é de chamado espiritual”, diz. A jovem, que já havia morado em São Paulo há algum tempo, conta que não pensava em retornar à cidade diante do cotidiano caótico.

“Mas mudaram as concepções. Encontrei o meu lar na associação dos devotos. Preciso estar perto dos irmãos espirituais, perto do templo, aprendendo continuamente sobre o Bhakti Yoga nessa grande escola de evolução”. Ela mora atualmente, no Templo Gangamata Gaudiya Matha, em Pinheiros.

O início da jornada foi em dezembro, quando foi iniciada como Yamuna Sundari. Logo, em janeiro, Yasmin partiu para o Rio de Janeiro para participar do Festival Indiano Rhata Yatra, que contou com a presença do seu guru, Srila Gurudev Bhaktivedanta Vana Goswami Maharaj. Os devotos levaram a deidade, do Senhor Jagannatha, reconhecido como Senhor do Universo, para passear pelas ruas de Ipanema. O evento tradicional ocorre uma vez ao ano, assim como na Índia.

Ao incorporar a nova vida, o cotidiano transformou-se consideravelmente. Agora, o dia-a-dia é dedicado a cuidar do templo, aos mantras, ao aprendizado e às missões, quando junto aos outros devotos, ela vai para cidades realizar pregação.

“Todos os dias participamos de práticas dos mantras e palestras. Mas aproveitamos ao máximo a presença de nosso guru, pois ele vem ao Brasil apenas duas vezes ao ano”. Além disso, os devotos percorrem várias cidades, nas quais participam de vários Hari Kathas, palestras sobre Krishna.

“Para cá vim com minha mudança, bem reduzida, diante do que eu necessito, do que realmente preciso para minha vida. Para mim foi um grande descarte, não sinto falta de nada, pelo contrário, me sinto completa”. Antes da viagem, vendeu boa parte de suas roupas em comunidades do Facebook voltadas à compra e venda.

A tendência espiritual, verifica ter vislumbrado já na infância. Mas o ambiente familiar, crenças e padrões não davam vazão para que ela compreendesse o quão grande é a vida espiritual e quão vasto é o seu entendimento.

“Para todos nós, é ainda muito inacessível. Especialmente no ocidente, onde foi mais forte a pregação católica e cristã. Estes novos padrões a que me dedico hoje são ainda difíceis de se aceitar. Estou me reconectando a esse despertar que eu já sentia desde criança. Lembro que eu sentia uma saudade muito grande e não sabia do quê. Foi só quando comecei a chamar por Deus, do fundo do meu coração, quando comecei a buscar o autoconhecimento quando comecei a ler coisas diferentes”.

Yamuna já tinha essa tendência a buscar livros sobre o misticismo, ocultismo. “Era pura intuição, minha alma foi me levando, me conduzindo passo a passo como quem sobe por escadas. Hoje, meu lar é a consciência Hare Krishna”.

A filosofia Krishna norteia seus devotos a se aproximarem do amor transcendental de Deus. “A gente faz a prática da meditação a partir do mantra, que simplificadamente quer dizer controle da mente. O maha mantra é o cantar dos santos nomes, ‘rosário’ este, conhecido como japamala, que contém 108 contos. Quando nos abrigamos aos pés de lótus de um guru fidedigno – uma alma autorealizada -, ele dá a potência do mantra para o seu coração se purificar. A gente o entoa várias vezes ao dia.  Nos abrigamos aos pés do guru. Ele tem esse poder de estar com Krishna, trazê-lo para perto da gente e todo esse conhecimento deste vasto mundo espiritual”, explica Yamuna, que aos 23 anos foi buscar a paz de espírito em um movimento que teve seu início há quinhentos anos. Com sua prática, ela espera obter purificação, autoconhecimento, desapego, renúncia, santidade, paz interior e amor puro por Deus.

Conheça a filosofia

“Hare Krishna” é uma abreviação do famoso maha-mantra: Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare. Esse antiquíssimo mantra, encontrado nos Upanishads, é uma invocação direta a Deus, em amor e devoção.

Hare é uma invocação ao aspecto feminino de Deus (Deus Mãe). Krishna é um nome de Deus que significa “o todo atraente”. E Rama é um outro nome de Deus que significa “a fonte do prazer”. Esse mantra, então, é um chamado a Deus em Seu aspecto masculino e feminino, todo-atraente, a fonte de todo prazer – ou seja, Deus reconhecido como tudo de bom, tudo que possa ser desejado, a pessoa mais amorosa e amável.

O “Movimento Hare Krishna” tem suas origens na Índia e é parte de um contexto muito amplo e diversificado chamado “hinduísmo”. O hinduísmo, por sua vez, é constituído de múltiplas tradições religiosas. No caso particular, o “Movimento Hare Krishna” está inserido na tradição vaishnava (vaishnavismo). O termo “vaishnava” deriva-se de “Vishnu”, que é o aspecto imanente de Deus, presente na criação material.

O vaishnavismo é a linha estritamente monoteísta do hinduísmo. Embora lide com múltiplos aspectos de Deus e hierarquias subordinadas a Ele, que atuam nos diferentes aspectos de Sua criação, a ideia central da religião é estabelecer a relação com o Deus Único. Dessa forma, a consciência do devoto transmuta-se de “consciência de ego” para “consciência de Deus”, e ele se torna um recipiente da graça divina. Somente pela graça do Senhor a pessoa pode obter a salvação.

O responsável pela difusão do movimento foi o santo Sri Chaitanya (lê-se Tcheitânya) Mahaprabhu. Chaitanya, que foi um acadêmico e intelectual sem rival em sua juventude, teve uma reviravolta radical em sua vida, passando a manifestar uma natureza mística sem precedentes, certamente, na história da humanidade.

A mensagem de Chaitanya resume-se basicamente na compreensão de que o método mais eficaz para restabelecermos nossa conexão com Deus é através do canto e da meditação de Seus santos nomes. Os santos nomes do Senhor, diz Chaitanya, possuem energias espirituais que atuarão na consciência, tornando-a cada vez mais espiritualizada.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes