Nas últimas semanas, dois assuntos que tomaram conta da mídia e das escolas estão tirando o sono dos pais de filhos adolescentes: a série 13 Reasons Why, da Netflix, e o desafio da Baleia Azul. Apesar de serem bem diferentes, ambos têm em comum o suicídio.

O tema é tabu. Sempre esteve aí para todo mundo discutir e é uma das maiores causas de morte entre adolescentes. Mesmo assim, muitos preferem fingir que não existe.

Sou a favor de falar sobre o tema.

Mas vamos entender primeiro o que está causando temor nos pais.

A série da Netflix conta a história de uma jovem, Hannah Baker, que comete suicídio e deixa 13 fitas para explicar o motivo de sua atitude. Num primeiro momento, podemos apenas simplificar e dizer: “Ah, ela era doente, por isso fez o que fez”.

Não há novidade em dizer que quem comete suicídio está doente ou num grau de sofrimento intolerável . Não é preciso ser médico para chegar a tal conclusão.

Mas, nas fitas de Hannah, o espectador se passa a conhecer o bullying que sofria na escola. Com o tempo, ela virou a vítima preferida de quase toda a turma do colegial. E ninguém percebeu ou tentou ajudar. Nem seus pais, professores e amigos.

Ela parecia invisível, virou presa fácil. É angustiante ver sua dor e solidão.

Não há justificativa para o que ela fez nem para o que os outros fizeram. No fundo, temos a impressão de que são todos doentes. Uma porque não verbalizou a dor e, os outros, porque massacraram um ser humano até ele não aguentar mais.

A série é perturbadora.

Não incentivo nem incentivarei meu filho a assisti-la. Aliás, ele já disse que não tem o menor interesse (Ufa!). Mas há muitos adolescentes de sua classe interessados – embora seja recomendada só  para adultos.

O que os pais devem fazer? Aquilo que sempre tem que ser feito, independente de séries, livros ou fatos concretos: conversar com nossos filhos.

Assista a série com ele. Comente as cenas de bullying, assédio e injustiça. Mostre o quanto Hannah estava desamparada e sozinha e como deveria ter procurado ajuda. Insista que há sempre um outro caminho.

Depois, olhe para a vida de seu filho. Veja quem são seus amigos. Ele está triste? Não quer mais ir para a escola? Está indo mal nas provas? Mudou o jeito de ser de uma hora para outra? Reclama de alguns colegas? Está isolado ou vive trancado no quarto? Teve mudança na aparência? Está comendo demais ou de menos?

Tudo é motivo de atenção. Nenhum sinal deve ser ignorado.

Já no Baleia Azul, adolescentes são convidados a participar de 50 tarefas, todas com um certo risco de vida, que levam o participante ao desafio final: cometer suicídio. Aqui, o que prende eles ao jogo é a ameaça. Se você desistir pode ser isolado do grupo de amigos ou ter membros de sua família prejudicados.

Novamente, a questão principal é o cuidado com aqueles que são suscetíveis e estão deprimidos. Podem pensar: será que se eu participar vou pertencer a um grupo? Será que serei aceito? Será que eles reconhecerão que tenho coragem para topar desafios e, por isso, sou bacana?

O recado para os pais é o mesmo: fique atento. Converse com seu filho sobre o desafio. Veja se está sendo ameaçado. Você pode até pedir para entrar no Facebook ou WhatsApp dele para saber se há algo importante. Tente descobrir se recebeu o convite. Se sim, vá atrás de quem o enviou. Não deixe passar.

Muitos especialistas garantem que o índice de suicídio aumenta quando um famoso acaba com a própria vida ou o tema aparece na mídia. Já outros dizem que a procura por ajuda cresce quando um caso vem à tona.

Para mim, quem é atraído é quem precisa de ajuda e já está no fundo do poço. Por isso, não podemos nos calar sobre o assunto. Temos que falar. E lutar para que eles não sejam ouvidos só depois da morte, como Hannah Baker, a personagem da série. Vamos lutar para que os deprimidos encontrem voz em vida. E não será pelo silêncio que conseguiremos isso. Será por meio de conversas. Muitas.

Então, que tal sentar com o seu filho hoje? Pode começar a falar sobre um tema mórbido como o suicídio, mas terminar nas dezenas de razões para amar a vida. Se nada funcionar, procure ajuda. Temos especialistas preparados para lidar com o sofrimento e a angústia e há muitos medicamentos que funcionam no combate à depressão. O importante é ele saber que não está sozinho. Afinal, a solidão e o silêncio levam à morte. Já a conversa, o amor e a compreensão podem ser a luz que traz de volta à vida.

Não tenha medo de conversar sobre algo tão profundo e inquietante. Você pode fazer toda a diferença na vida de seu filho. 

 

Assinatura Debora Nunes

 

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