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Precisamos falar sobre o Adail

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Precisamos falar sobre o Adail

EBC

Congresso nacional

Alunos de uma escola acabam de embarcar para Brasília. Ficarão cinco dias entre a capital do poder do Brasil e a Chapada dos Veadeiros.

A viagem é interessante. Vão discutir política, entender como foi planejada a cidade, conhecer a história dos imigrantes que a construíram, observar a geografia peculiar da área.

O passeio só seria melhor se não vivêssemos um momento tão delicado de nossa política.

Como dizer para um adolescente que o serviço público é importante, mas que não podem se espelhar na maioria dos políticos que encontrarão?

Como dizer que é nobre escolher melhorar a vida de seus semelhantes, mas que essa vocação está quase em extinção nos dias de hoje?

Como dizer que um país não funciona sem as instituições que conhecerão de perto, mas que elas foram corrompidas pelos homens que as ocupam?

Instintivamente, pensei no meu avô Adail.

Quando éramos pequenos, sua maior alegria era nos colocar no carro e andar pelas ruas da cidade que governava. No caminho, cumprimentava todo mundo que encontrava, sem distinção.

Fazia isso em qualquer época do ano, com a mesma naturalidade com que assobiava.

Meu avô gostava de gente, amava a cidade que o elegera tantas vezes. Era feliz como eu sempre me lembrarei dele: prefeito de Taquaritinga.

E fiquei pensando como o Brasil poderia ter mais Adails na política. Homens públicos que governam porque amam seu povo e são conscientes do cargo que ocupam. Sabem que estão ali para servir uma população e não o contrário.

Eu tinha apenas 10 anos quando ele faleceu, mas foi o suficiente para ele causar impacto em minha vida. Advogado, tinha o dom da oratória e enfeitiçava as pessoas. Era o centro de todos os lugares pelos quais circulava. Dinâmico e alegre por natureza, aos 70 anos tinha a aparência e a vitalidade de alguém com 50. Ou menos.

Mas foi depois de sua passagem que entendi sua grandeza. Seu velório foi um marco em minha vida. Primeiro, porque foi quando a morte entrou na família. Por fim, ver milhares de pessoas da cidade e da região se agrupando para dar seu último adeus, fizeram com que passasse a acreditar que ali estava alguém especial.

Governava para os menos favorecidos e quase sempre, quando visitamos seu túmulo, encontramos alguém que nos conta uma história de como fora ajudado pelo Adail. Isso quase 31 anos depois de sua morte.

Meu avô poderia ter enriquecido com a advocacia, mas preferiu se dedicar ao próximo. Deixou apenas uma casa, mas seu grande legado, além de ajudar quem precisava, foi deixar um nome limpo. Algo tão raro na política brasileira.

E pensei: quero muito falar sobre Brasília com meu filho. Mas, mais importante, será falar sobre o Adail.

Assinatura Debora Nunes

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