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Por que o Brasil não tem uma política para terremotos

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Por que o Brasil não tem uma política para terremotos

Marco Sberveglieri

Terremoto

Terremoto rachou casa ao meio na Itália

Na terça-feira da semana passada, 21 de fevereiro, um tremor de 6,5 graus na escala Richter aconteceu a 597 quilômetros abaixo do solo de Chuquisaca, na Bolívia. Os bolivianos não registraram nenhuma ocorrência grave, mas o impacto foi sentido nos municípios de Marília, em São Paulo, e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Ambas as cidades tiveram de evacuar prédios inteiros.

No Brasil, terremotos acontecem com certa frequência, mas quase sempre com intensidade baixa. O primeiro centro de estudos de eventos sismológicos do país nasceu em 1968, em Brasília. À época, pesquisadores que posteriormente fundaram o Observatório Sismológico (SIS) da Universidade de Brasília (UnB) se instalaram no Parque Nacional de Brasília e, a partir dali, passaram a monitorar tremores na região da cordilheira dos Andes. Quase cinquenta anos depois, muita coisa mudou.

Em 2011, o SIS ajudou a criar, em parceria com a Petrobras, a Rede Sismográfica Brasileira (RSBR), um grupo de pesquisadores de várias universidades – entre elas, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) – que hoje se reúnem para trabalhar em 80 estações sismológicas espalhadas pelo país, a maior parte nas regiões Norte e Centro-Oeste. O município de Porto dos Gaúchos, no Norte de Mato Grosso, é um dos lugares do Brasil onde mais há atividade sismológica.

A área acadêmica que concentra os estudos sobre terremotos parece estar bem suprida. O problema é que, no Brasil, não há uma política definida para prevenção de terremotos. Não há imóveis preparados nem o mínimo resquício de preocupação da administração pública com a construção de fundações e vigas que absorvam o movimento da terra. Em parte, um dos motivos que explica isso é o fato de metade do país “flutuar” sobre o aquífero Guarani, uma enorme massa de água com potencial para abastecer a população brasileira por milhares de anos que, na visão dos especialistas, poderia absorver facilmente o impacto do deslocamento de placas tectônicas.

Para se ter uma ideia, uma das primeiras vezes em que despontou no noticiário brasileiro uma preocupação com terremotos aconteceu em janeiro deste ano. Depois de um tremor sacudir São Luís, no Maranhão, no início daquele mês, um vereador decidiu apresentar um projeto de lei que obriga estabelecimentos privados e públicos a instalar tecnologia anti-terremoto em suas estruturas, como sistemas de amortecimento entre vigas de aço e lajes de concreto, assim como é feito em países como Chile, Japão e Nova Zelândia. A proposta não chegou a ser votada.

O terremoto que brotou quilômetros abaixo da superfície boliviana e veio refletir no Brasil, na terça-feira passada, foi previsto com dezenove dias de antecedência pelo especialista em estatísticas Aroldo Maciel, que também é colunista do LIVRE. Com base em cálculos, Aroldo havia previsto um evento sísmico na costa peruana. Errou, por 600 quilômetros de diferença, o local exato do epicentro – o que, do ângulo científico, pode ser considerado um tremendo acerto.

Em recente coluna, publicada no início do ano, Aroldo explica que o país nunca foi preparado para a eventual ocorrência de terremotos de grande magnitude. “Nossas praias estão sempre lotadas, mas nunca vi uma placa sinalizando áreas seguras em caso de tsunamis”, escreveu. “Em minha última palestra para a Defesa Civil do Chile, ao ser indagado sobre a preparação do meu país, me dei conta de que não temos um plano de emergência, não temos a cultura sísmica, não temos sinalização ou um estudo para praias em caso de tsunamis. Nem mesmo temos os famosos kits de emergência para o caso de terremotos. Em cinco anos de trabalho, percebi que o problema não são os terremotos, mas sim as construções sem preparo”.

Nesta segunda-feira (27), uma semana depois do terremoto que previu ter sacudido duas cidades brasileiras, Aroldo publica sua sexta coluna no LIVRE, na qual esmiúça os acontecimentos sismológicos recentes e questiona a tese de cientistas segundo os quais o Brasil não deve temer terremotos. E cita Charles Darwin: “Um terremoto destrói, em apenas um segundo, a mais arraigada de nossas convicções, a de que caminhamos sobre terreno sólido”. Clique aqui para ler.

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