Dias antes da operação do patriarca, a família se reuniu em volta da mesa. A troca de insultos era o prato do dia.
Política. Economia. Criação dos filhos. Tudo virou motivo de brigas e troca de farpas. Nem as crianças escapavam. Todos estavam com os nervos à flor da pele.
Mas ninguém falava o que estava na cara e era evidente para qualquer um: todos estavam com medo.
Medo de perder o pai, o avô, o marido, o sogro. A operação seria simples, mas seria uma operação mesmo assim. Anestesia geral, alguns dias no hospital, o constante risco de complicações.
Ah, como seria melhor desabafar do que brigar.
E foi quando pensou: por que brigamos e ofendemos quem a gente ama quando seria muito mais fácil admitir nossa fragilidade? Tão mais simples admitir o óbvio, mas aquela família insistia em brigar em vez de falar a verdade.
Sim, expor nossa vulnerabilidade não é o caminho mais natural. Assim como não é o melhor preencher o tempo com discussões acaloradas e brigas inúteis.
Então, para aquela família que estava com os nervos à flor da pele, ela só queria dizer uma coisa: não tenham receio de ter medo. Medo de perder alguém. Medo do adoecer. Medo de não saber prever o futuro. Medo de ver a vida mudar de uma hora para outro.
De verdade, queria que eles entendessem que só nos sentimos assim porque somos como todo mundo. Somos humanos.
E que é muito melhor colocar o dedo na ferida do que brigar por futilidades.
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