Cidades

Poluição obriga pescadores a sair de Cuiabá em busca de peixe

3 minutos de leitura
Poluição obriga pescadores a sair de Cuiabá em busca de peixe

Há dias em que, para encontrar peixe, José Aparecido Neires, tem de dirigir mais de 500 km até chegar na região do Rio Arinos, no norte do estado. O pescador profissional de 58 anos mora no bairro Altos do Coxipó, em Cuiabá, mas o rio que dá nome a cidade já não oferece a mesma quantidade de pescado de outrora.

Cerca de 15 anos atrás, a história era diferente. “Antes era farto demais, você ia lá e pescava o suficiente rapidinho. Hoje você vai lá, fica duas horas e não pega nada”, afirma o pescador. Com algumas economias, Aparecido conseguiu reverter a escassez do pescado ao comprar um carro com o qual viaja pelo estado em busca do peixe.

Quem não tem a mesma autonomia viaja menos quilômetros. O Pantanal é o principal destino destes pescadores. “Eu até pesco no rio Cuiabá, mas só lá para baixo, em Porto Jofre e Porto Cercado”, pontua Aparecido.

Mas nem sempre foi assim, a antiga estiva do Porto, era o ponto de encontro de pescadores. O rio alimentava a cidade, principalmente no período da Páscoa. Mas peixe santo que chegará à mesa dos cuiabanos este ano provavelmente não virá do rio. Segundo cálculos da Cooperativa de Pescadores e Aguicultores do Mato Grosso (Coopemat), 80% do peixe consumido nas feiras de Cuiabá e Várzea Grande vem da piscicultura.

O presidente da Coopemat, Claudionor Angeli, diz que a redução do número de peixe de água doce tem sido veloz e gradual. Ele afirma que se a escassez continuar como está os pescadores terão que viajar ainda mais longe para conseguir pescar o suficiente.

“Hoje não dá para viver como pescador. Você apenas vegeta, não tem qualidade de vida, não consegue criar um filho decentemente”, lamenta ele.

A falta de tratamento de esgoto, de proteção às nascentes e a pesca predatória motivam a movimentação dos pescadores em Mato Grosso. Mas, para Angeli, o pescador é o menor culpado na história. Segundo ele, é preciso oferecer linhas de crédito e apoio governamental para fazer com que estes profissionais migrem para a piscicultura.

A Coopeamat tem cerca de 37 pescadores espalhados por municípios como Barão de Melgaço e Santo Antônio do Leverger. Angeli diz que a atração do seguro-defeso aumentou o número de pescadores, mas gerou uma contradição. “Tem quase mais pescadores do que peixe”, critica ele com ironia.

O ictiólogo Francisco de Arruda Machado, conhecido como “Chico Peixe”, faz um cálculo provisório: se antes havia 150 peixes pescadores, hoje o número é de 150 pescadores por peixe. Para Chico, o número do pescado caiu ao mesmo tempo em que mais pessoas pescam.

Mas, para ele, o pescador é o menor dos problemas. A degradação ambiental, o aumento das pequenas usinas hidrelétricas nos rios, e o lançamento de animais híbridos ocasionou a precariedade de pescado que vivemos atualmente.

“Nós estamos trocando uma proteína de excelente qualidade, que é a proteína do peixe, por uma energia que atualmente já não é mais tão necessária.”, questiona o especialista. A diversidade de problemas e fatores preocupa Chico: “Eu vejo um futuro negro para a pescaria em Mato Grosso”, sentencia.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes