Cidades

Policiais civis acusados de tortura teriam dado socos, joelhadas e tentado asfixiar suspeitos

7 minutos de leitura
Policiais civis acusados de tortura teriam dado socos, joelhadas e tentado asfixiar suspeitos
(Foto:Ednilson Aguiar/ O Livre)

Agressões, tentativa de asfixia e ameaças de morte são as acusações que pesam contra o delegado de polícia Edison Ricardo Pick e os investigadores Woshington Kester Vieira e Ricardo Sanches, lotados no município de Colniza (1.070 km de Cuiabá). As denúncias foram feitas ao Ministério Público do Estado (MPE) e reafirmadas por meio de oitivas com testemunhas e envolvidos.

Alvos da operação Cruciatus, deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) na terça-feira (16), os três policiais civis estão presos no Centro de Custódia da Capital (CCC), por determinação judicial. Eles passaram por audiência de custódia, por volta das 16h daquele dia, e tiveram o pedido de liberdade negado.

Conforme relatório do Ministério Público, os três policiais são investigados por suspeitas de tortura contra três pessoas. Duas delas são rapazes jovens, que teriam sofrido asfixia no processo de tortura. Eles foram procurados por tráfico de drogas. A terceira denúncia partiu de outro homem, de 38 anos, que foi agredido dentro da delegacia, quando foi prestar depoimento. Os hematomas foram vistos por agentes penitenciários, no momento em que ele retornou para a cadeia.

[related_news ids=”107842,107582,107145″][/related_news]Denúncias feitas ao MPE

Victor Silva Oliveira: Consta no processo que o rapaz, que tinha 17 anos no momento do caso, é morador de Juína e estava na casa dos tios, em Colniza, quando sofreu o episódio apontado como tortura, no dia 31 de janeiro. Na casa estavam os tios e a prima, de 11 anos, quando quatro policiais civis, entre eles o delegado Pick, entraram com mandado de busca.

Em revista, os agentes encontraram 60 gramas de maconha e, diante do achado, o algemaram. Depois, passaram a agredi-lo com socos e chutes na costela. “Ainda, os policiais colocavam uma sacola na cabeça do declarante, com intuito de tapar sua respiração por um período, asfixiando-o”, diz trecho do depoimento.

Foto: Reprodução/MPE

Segundo o documento do MPE, “a tortura era praticada com finalidade de que ele informasse a existência de novas drogas e supostamente de uma pistola”. Victor disse ainda que, depois das agressões, os policiais os ameaçaram de morte, dizendo que se houvesse denúncia, todos iriam morrer.

Sobre o caso, também foram ouvidos a tia, Rejane, e o tio, Marcelo, que foi preso no dia do caso. Rejane disse que Victor estava com a prima, dormindo, quando os policiais chegaram. Confirmou que ele foi algemado, colocado no chão e agredido. Também confirmou que houve ameaça e registrou no depoimento que, caso algum dos quatro aparecesse morto, seria a mando dos civis envolvidos. Já o tio do menino disse que ele não sofreu agressão, mas que o sobrinho apanhou bastante.

“Quem bateu no Victor era um gordinho, de óculos, provavelmente seja de Juína”. Marcelo disse que a agressão começou depois que o policial viu uma tatuagem de Gueixa no menino. Victor foi agredido no pescoço, chamado de vagabundo e questionado se ele seria um “matador de polícia”. Ele teria sido levado para o fundo da casa, onde teria apanhado mais e sido asfixiado.

Wesley da Gama Oliveira: O caso do rapaz foi denunciado na audiência de custódia, quando ele relatou ao juiz, em maio deste ano, que, quando quatro policiais civis foram cumprir mandado de busca em sua casa, teriam chegado ‘metendo o pé”. Ele, que estava pelado, colocou uma bermuda e foi levado para uma cadeira, onde foi asfixiado.

Disse que os agentes buscavam por drogas e que o ameaçaram de morte. “Se você abrir a boca pro juiz vou te matar”, reproduziu para o juiz, acrescentando que sua mulher teria presenciado tudo. Uma audiência de instrução foi marcada junto ao Ministério Público, onde a esposa, Graciele, disse que os agentes chegaram colocando a sacola na cabeça do marido. Quando perceberam que ela estava presenciando, teriam a mandado para outro canto. Ainda assim, ela afirmou que ouvia o marido respirando fundo.

[featured_paragraph]Wesley, por sua vez, contou que foi algemado e que, depois que um policial encontrou uma porção de droga, pediram por mais. Ele informou que um outro agente colocou uma sacola em sua cabeça, enquanto outro o segurava.[/featured_paragraph]

“Eu quase desmaiava. Aí faltava o ar, preferia morrer. Foi sete sacolada, uma atrás da outra. Se tivesse droga tinha entregado tudo, eu preferia morrer , um tiro pra morrer. Eu pedia para me matar logo, era uma falta de ar”, disse na audiência.

Marcelo Wypychovoski: O homem, de 38 anos, já estava na cadeia de Colniza quando foi chamado para prestar esclarecimento na delegacia, em maio. Quando chegou, depois de ser revistado, teria sido colocado “no corró” e lá ficou por cerca de 30 minutos. O policial Kester teria ido buscá-lo e o levado para a sala da escrivã.

No local, ficou em uma cadeira e passou a ser espancado, com murros e joelhadas. Contou que, lá, era ameaçado, que “se abrisse a boca no fórum, iria morrer”. Isso porque, em audiência de custódia anterior, em outubro de 2017, ele já teria denunciado ter sido agredido pelo policial Kester quando ainda estava em casa. Durante o depoimento, estariam na sala o delegado Pick e uma escrivã, que presenciaram a tortura em silêncio.

Marcelo foi levado de volta para a cadeia de Colniza, onde agentes penitenciários perceberam a agressão. O diretor foi comunicado e, por sua vez, comunicou o Ministério Público e o Fórum. Ele foi encaminhado para exame de corpo de delito, onde foi comprovada a agressão. O fato foi comunicado à Corregedoria-Geral da PJC e MPE no dia 10 de maio, quando o juiz decretou sigilo no caso.

O diretor da cadeia foi chamado para audiência de instrução sobre o caso de Marcelo e confirmou as informações. Agentes penitenciários que estiveram com o preso no dia do caso também depuseram e confirmaram que ele saiu da cadeia sem hematomas e voltou agredido.

Delegado é intimado

Sobre os três casos foram instaurados procedimentos investigatórios criminais. O de Victor foi instaurado no dia 22 de agosto, enquanto o de Wesley foi no dia 23 do mesmo mês. Já o Marcelo foi no dia 17 de julho.

Documento obtido pelo LIVRE junto ao MPE mostra que o delegado Edison Ricardo Pick chegou a se manifestar sobre um dos casos – o de Victor. Ele disse que o ocorrido não se tratou de agressão, mas de imobilização do menor. Alegou que ele teria tentado escapar e que foi utilizada força moderada por parte dos agentes.

O delegado também alegou que a tia do rapaz, Rejane, não estava presente na casa na hora do ocorrido, como ela, o tio e Victor haviam declarado. Segundo ele, a tia foi comunicada da prisão dos dois quando estava em uma escola, onde trabalha, e, inclusive, teria pedido que deixassem sua filha de 11 anos lá. Ainda, Pick disse que ela é mãe de um menor infrator. Ao caso foram anexados quatro boletins de ocorrência contra Victor e três contra o filho do casal.

Audiência de custódia

Os policiais civis passaram por audiência no dia 16, quando foram presos pela manhã. A defesa tinha pedido a liberdade, alegando que seriam réus primários, com residência fixa, provedores de suas famílias, possuem boa conduta social e que os fatos apurados teriam acontecido há mais de nove meses, demonstrando que a liberdade dos três não comprometeria a ordem pública.

No entanto, o juiz Ricardo Frazon Menegucci observou que “os motivos que deram azo à decretação da prisão preventiva continuam presentes” – e que a decisão foi devidamente fundamentada. Por isso, eles foram transferidos para o Centro de Custódia da Capital. O magistrado determinou que o diretor do presídio forneça mecanismos para garantir a segurança dos envolvidos no local.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
0
Inspirado

Principais Manchetes