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Polícia Civil contabiliza mais de seis mil crimes contra idosos em MT

Os dados são de 2019 e, geralmente, as ocorrências são motivadas pelo dinheiro ou pelo descaso

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Polícia Civil contabiliza mais de seis mil crimes contra idosos em MT

Salvar os idosos dos aproveitadores, impacientes, estressados e mal-intencionados de plantão não é tarefa fácil. No ano passado, a Polícia Civil de Mato Grosso registrou 6.326 crimes cuja vítima tem mais de 60 anos. Desse total, 2.291 foram de ameaça e 1.043 de estelionato. Juntas, as categorias correspondem a 52% dos casos.

O delegado Vitor Chab Domingues diz que grande parte dos crimes são referentes a maus-tratos, descaso, crimes contra a honra, ameaça, discriminação por motivo de idade e até mesmo lesão corporal.

Com frequência, o acusado é alguém da família, que age na tentativa de usar a aposentadoria da vítima ou deixa de agir com o mínimo de respeito que a faixa etária, considerada vulnerável, exige.

Entre os diversos casos que aparecem todos os dias, os que deixaram Domingues mais chocado foram o estupro de uma idosa pelo médico e o de um filho de  aproximadamente 30 anos que causou lesões corporais no pai, um senhor de 80 anos.

“Você também é filho e vê ali o seu pai ou um avô. E olha que vemos de tudo aqui, mas tem situações marcantes”.

Delegado Vitor Domingues afirma que trabalho exige muita paciência e respeito à vítima (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

Apropriação indébita

O cartão do recebimento da aposentadoria e os documentos do idosos pertencem a ele e, quando alguém tenta retê-los, é apropriação indébita.

“As pessoas agem como se mandassem na vida e no dinheiro da vítima, mas não é assim. Quando a família é grande, sempre haverá um dos filhos para denunciar o caso por não concordar”.

Em caso de morador de abrigo, o núcleo verifica se a lei é cumprida. Ela determina que 70% da aposentadoria fique por conta da instituição, porém 30% devem ser entregues nas mãos do beneficiário.

Idoso deve ter acesso aos seus documentos e ao dinheiro da aposentaria (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O dinheiro entregue para instituição é para o pagamento de todas as despesas que o idoso tenha com alimentação, cuidados e medicamentos. O restante fica para ele usar como quiser.

Acesso a serviços públicos

Outros problemas frequentes que aparecem no Núcleo Especializado do Idoso são reclamações sobre obstáculos para se ter acesso a serviços públicos, principalmente em transportes públicos, bancos e nas unidades de saúde.

Em 90% dos casos, avalia o delegado, diálogo e paciência resolvem o problema. Ele cita como exemplo um idoso que foi impedido de entrar no banco porque tinha um marcapasso.

A vítima estava com um documento que atestava a sua condição, porém, a foto não estava atual e legível.

Vítimas reclamam de falta de acesso aos serviços públicos (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

“Só era analisar o cenário. Um senhor, com as vestes puídas e uma carteira gasta de uso. Não era melhor chamar o gerente ou encaminhá-lo até o local de atendimento?”, argumenta Domingues.

Resultado: o constrangimento e a falta de educação do segurança acabaram se transformando em um caso de polícia.

Segundo o delegado, esse tipo de recepção ou atendimento inadequado e violento dificilmente acaba em prisão, no entanto, traz danos à vida profissional do agressor.

“Ele ficará com a ficha suja, responderá o processo e ainda há risco de a vítima entrar na Justiça pedindo indenização para a pessoa e para a empresa, o que pode comprometer a situação dele no emprego”.

Para que existe o núcleo?

O delegado Vitor Chab Domingues explica que o público precisa ser atendido de uma maneira específica e ter seus processos encaminhados com mais celeridade.

Um crime de ameaça ou apropriação indébita, por exemplo, pode comprometer diretamente a sobrevivência do idoso.

“Precisamos, antes de tudo, ter paciência e aprender a ouvir muito. Tem idoso que volta a ser criança e outros têm limitações que precisam ser respeitadas. E, apenas com o diálogo podemos entender o que está acontecendo”.

Delegacia está sendo reformada para dar mais conforto ao atendimento dos idosos (Foto: Ednilson Aguiar/O Livre)

O núcleo, que hoje funciona na antiga unidade do Centro de Segurança e Cidadania do bairro Planalto, age em parceria com o Conselho Municipal do Idoso e, além de fazer as atividades de polícia, atua na prevenção.

Domingues explica que constantemente fazem palestras e dão orientações para empresas e órgãos públicos.

Também acompanham o funcionamento dos abrigos de idosos, bem como dos moradores.

Conforme o delegado, os planos do governo para a segurança incluem fortalecer a unidade e ainda agrupar a ela o atendimento de pessoas com deficiência.

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