Salvar os idosos dos aproveitadores, impacientes, estressados e mal-intencionados de plantão não é tarefa fácil. No ano passado, a Polícia Civil de Mato Grosso registrou 6.326 crimes cuja vítima tem mais de 60 anos. Desse total, 2.291 foram de ameaça e 1.043 de estelionato. Juntas, as categorias correspondem a 52% dos casos.
O delegado Vitor Chab Domingues diz que grande parte dos crimes são referentes a maus-tratos, descaso, crimes contra a honra, ameaça, discriminação por motivo de idade e até mesmo lesão corporal.
Com frequência, o acusado é alguém da família, que age na tentativa de usar a aposentadoria da vítima ou deixa de agir com o mínimo de respeito que a faixa etária, considerada vulnerável, exige.
Entre os diversos casos que aparecem todos os dias, os que deixaram Domingues mais chocado foram o estupro de uma idosa pelo médico e o de um filho de aproximadamente 30 anos que causou lesões corporais no pai, um senhor de 80 anos.
“Você também é filho e vê ali o seu pai ou um avô. E olha que vemos de tudo aqui, mas tem situações marcantes”.
Apropriação indébita
O cartão do recebimento da aposentadoria e os documentos do idosos pertencem a ele e, quando alguém tenta retê-los, é apropriação indébita.
“As pessoas agem como se mandassem na vida e no dinheiro da vítima, mas não é assim. Quando a família é grande, sempre haverá um dos filhos para denunciar o caso por não concordar”.
Em caso de morador de abrigo, o núcleo verifica se a lei é cumprida. Ela determina que 70% da aposentadoria fique por conta da instituição, porém 30% devem ser entregues nas mãos do beneficiário.
O dinheiro entregue para instituição é para o pagamento de todas as despesas que o idoso tenha com alimentação, cuidados e medicamentos. O restante fica para ele usar como quiser.
Acesso a serviços públicos
Outros problemas frequentes que aparecem no Núcleo Especializado do Idoso são reclamações sobre obstáculos para se ter acesso a serviços públicos, principalmente em transportes públicos, bancos e nas unidades de saúde.
Em 90% dos casos, avalia o delegado, diálogo e paciência resolvem o problema. Ele cita como exemplo um idoso que foi impedido de entrar no banco porque tinha um marcapasso.
A vítima estava com um documento que atestava a sua condição, porém, a foto não estava atual e legível.
“Só era analisar o cenário. Um senhor, com as vestes puídas e uma carteira gasta de uso. Não era melhor chamar o gerente ou encaminhá-lo até o local de atendimento?”, argumenta Domingues.
Resultado: o constrangimento e a falta de educação do segurança acabaram se transformando em um caso de polícia.
Segundo o delegado, esse tipo de recepção ou atendimento inadequado e violento dificilmente acaba em prisão, no entanto, traz danos à vida profissional do agressor.
“Ele ficará com a ficha suja, responderá o processo e ainda há risco de a vítima entrar na Justiça pedindo indenização para a pessoa e para a empresa, o que pode comprometer a situação dele no emprego”.
Para que existe o núcleo?
O delegado Vitor Chab Domingues explica que o público precisa ser atendido de uma maneira específica e ter seus processos encaminhados com mais celeridade.
Um crime de ameaça ou apropriação indébita, por exemplo, pode comprometer diretamente a sobrevivência do idoso.
“Precisamos, antes de tudo, ter paciência e aprender a ouvir muito. Tem idoso que volta a ser criança e outros têm limitações que precisam ser respeitadas. E, apenas com o diálogo podemos entender o que está acontecendo”.
O núcleo, que hoje funciona na antiga unidade do Centro de Segurança e Cidadania do bairro Planalto, age em parceria com o Conselho Municipal do Idoso e, além de fazer as atividades de polícia, atua na prevenção.
Domingues explica que constantemente fazem palestras e dão orientações para empresas e órgãos públicos.
Também acompanham o funcionamento dos abrigos de idosos, bem como dos moradores.
Conforme o delegado, os planos do governo para a segurança incluem fortalecer a unidade e ainda agrupar a ela o atendimento de pessoas com deficiência.