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Pipoqueiro de 61 anos aprende a escrever e agora sonha ser engenheiro

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Pipoqueiro de 61 anos aprende a escrever e agora sonha ser engenheiro

Com o dever de casa nas mãos e o sorriso no rosto, o pipoqueiro Clóvis Augusto de Oliveira, 61 anos, chega para mais uma aula no Centro de Convivência para Idosos João Maria dos Santos, conhecido como CCI João Guerreiro. Exemplo de assiduidade e dedicação, Clóvis começou o curso de alfabetização há três anos e agora sonha em se tornar engenheiro civil.

Uma história um pouquinho diferente do convencional, geralmente os filhos seguem a profissão do pai, mas, nesse caso, é Clóvis quem quer seguir a do filho, que se formou em engenharia civil neste ano e o apoia na realização do sonho.

Ele começou o aprendizado no CCI do zero, mas com muita vontade de aprender. Queria, como disse, “assinar papel” e, assim que surgiu a oportunidade, correu para a sala de aula.

“Assim que surgiu essa oportunidade aqui no colégio eu vim pra cá estudar, para tentar formar, ter um estudo melhor”, disse.

Clóvis teve uma infância difícil, que o impediu de estudar quando novo. Foi criado sem o pai, que morreu quando ele tinha apenas nove anos. O mais velho de 10 filhos, ele teve que arregaçar as mangas e começar a ajudar a mãe, que acabara de se tornar viúva.

“Eu tinha que ajudar minha mãe a criar meus irmãos, eu era o mais velho, ai não tive como estudar, lá era um sítio”, contou.

Quando veio para a cidade, já adulto, não encontrou nenhum lugar que dava aulas para adultos nos períodos matutino, ou vespertino, e como já trabalhava como pipoqueiro a noite, não tinha outro horário para estudar além do noturno.

Foi por isso que Clóvis só começou os estudos aos 58 anos, quando encontrou o CCI João Guerreiro, onde cursou até a 4ª série. “E quero continuar para frente, estou esperando a oportunidade para continuar”, disse o pipoqueiro.

O que ele chama de “oportunidade” é uma sala de aula para adultos além da 4ª série durante o dia, que ainda não existe em Cuiabá. Ele até tentou estudar em uma sala comum, na Escola Estadual Cesário Neto, mas não se adaptou.

“Estou matriculado lá, mas não consegui ficar, porque lá é misturado adulto, criança; na hora que a gente está estudando eles estão bagunçando, na hora do intervalo vai para o banheiro e não consegue respirar, por causa do cheiro de maconha, ai eu não consegui ficar lá”, lamentou.

A falta de vontade de aprender dos alunos mais novos fez com que o pipoqueiro desanimasse, mas não que desistisse. Ele ainda sonha em conseguir terminar os estudos e cursar sua tão sonhada faculdade de engenharia civil. Clóvis garantiu que se encontrasse um colégio com sala para adultos durante o dia em qualquer lugar de Cuiabá, iria.

A força de vontade dele é tão grande, que o pessoal da faculdade em que ele vende pipoca na frente, a Anhanguera, o convidou para conversar com os alunos jovens e contar sua história de vida.

“Eles pediram para eu dar uma palestra para os jovens que estão lá e não querem estudar. E eu, com 60 anos, fui lá para eles saberem que eu, na idade que estou, estudo e trabalho, porque não tive oportunidade antes”, contou.

Apaixonado pelos estudos e pelo trabalho realizado no CCI João Guerreiro, Clóvis, sempre que pode, convida os colegas a também aprender.

“Mas eles falam que não, que depois de certa idade não conseguem. Falo para eles: ‘lá no CCI João Ferreiro tem um colégio que é ótimo, bom para ensinar, bom para a gente aprender, eu estudo lá e adoro ficar lá’”, disse o pipoqueiro, com sorriso no rosto.

“A gente, quando aprende a estudar, enxerga o mundo melhor, porque se você não sabe ler não consegue nada na vida”.

Agora, Clóvis está à espera para conseguir continuar os estudos e ele tem convicção de que irá conquistar o sonho de se tornar um grande engenheiro.

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