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Pesquisadoras brasileiras desenvolvem pão com farinha de barata

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Pesquisadoras brasileiras desenvolvem pão com farinha de barata

A questão alimentícia de abastecimento para o futuro da humanidade é uma preocupação global servindo de tópico para debates e encontros de líderes mundiais, anualmente. O medo da insuficiência de produção para abastecer mais de sete bilhões de humanos é uma das prioridades para cientistas encontrarem soluções eficazes.

Saindo na dianteira, o Brasil já conseguiu desenvolver um pão rico em valores proteicos feito com da farinha de barata desidratada. A criação é de pesquisadoras da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), no Rio Grande do Sul.

O cardápio alimentar humano tende a sofrer mudanças radicais até 2050 por conta do aumento da população mundial em, ao menos, 32%, totalizando 9,7 bilhões de pessoas. A refeição do futuro será baseada no consumo de insetos, já que as criaturas possuem grande valor nutritivo e existem em abundância, além da facilidade de produção.

Baratas cinéreas

Por mais nojento que possa parecer ser ingerir um inseto popularmente conhecido por ser sujo, entenda que as baratas usadas na pesquisa são as baratas cinéreas – diferentes das baratas urbanas. Essas criaturas são de origem africana e produzidas em cativeiro, em ambientes higienizados, para o consumo humano.

Escolher a barata como o inseto base da pesquisa não foi mero acaso. As pesquisadoras reconhecem a enorme carga proteica das criaturas que chegam a superar até mesmo às de carnes bovinas. Além disso, a barata é um inseto que preservou muitas de suas características genéticas ao longo de milhões de anos.

“Alguma coisa muito boa elas possuem para passarem pela evolução sem precisar se adaptar aos ambientes”, afirma a engenheira de alimentos Andressa Jantzen da Silva Lucas, uma das responsáveis pela pesquisa, ao lado da engenheira de alimentos Lauren Menegon de Oliveira.

BBC Brasil

Como funciona?

As baratas são adquiridas em um criadouro certificado pela Anvisa em Betim, Minas Gerais. De lá, as baratas são enviadas já mortas para o comprador, embora haja a opção de comprá-las vivas, dificultando o transporte. Como o mercado de comércio de baratas não é comum no Brasil, o preço da mercadoria é elevado: custa R$ 200 por quilo.

Chegando ao laboratório, os insetos são triturados em um moinho de bolas, os fragmentando em partículas pequenas que então são peneiradas para manter consistência homogênea. Para criar a massa, 90% de farinha de trigo é misturada com 10% de farinha de barata desidratada.

Apenas com a adição dos 10% da farinha de barata, o teor de proteínas no pão aumentou em 133%. Um pão tradicional de 100g, sem baratas, tem apenas 9,7 gramas de proteínas, enquanto o de barata consegue ter 22,6 gramas. Uma diferença extremamente considerável.

Além disso, as pesquisadoras conseguiram até mesmo reduzir a quantidade de gordura na receita em 68% por conta da gordura natural já presente na farinha de barata.

A pesquisa garante que não diferença de aroma, sabor, textura e cor do pão de barata em relação ao pão normal.

O futuro é agora

Segundo Ênio Cardillo Vieira, nutrólogo eprofessor da UFMG, o futuro reserva diversas espécies de insetos que serão industrializados para o consumo humano como grilos, formigas, vespas, gafanhotos e até mesmo aracnídeos como aranhas e escorpiões:

“O nosso problema de aceitação dos insetos é uma questão cultural, mas, muitas vezes, os insetos são transformados em pó e nem percebemos o que eram antes. São necessários 250 metros quadrados de terra para produzirmos 1 kg de carne de boi, enquanto precisamos de apenas 30 metros quadrados para produzirmos 1 kg de insetos. O mesmo vale para a água: precisamos usar 20 mil litros de água na produção de 1 kg de carne bovina, contra mil litros para 1 kg de insetos”, afirma o professor.

Inclusive, o Brasil tem tudo para se tornar um líder no mercado de produção e exportação de insetos para consumo humano. O tema será discutido pela Asbraci (Associação Brasileira de Criadores de Insetos) que realizará já em novembro um congresso sobre o tema em Minas Gerais. O nosso clima favorece muito a criação de insetos, garantindo uma produção sustentável e de baixo custo.

BBC Brasil

Os Insetos no Brasil e no Mundo

Como muitos já sabem, o consumo de insetos já é realidade em diversos países asiáticos. Nesse ano, as criaturas também foram catalogadas como alimento na Europa. Já na Espanha, mercados de grandes redes oferecem produtos do tipo para o consumidor final.

Mesmo após o grande sucesso do pão de barata, as pesquisadoras Andressa e Lauren não vão encerrar a pesquisa agora. Já existem estudos encaminhados para avaliação de consumo humano como o grilo preto e o tenébrio comum (larvas de besouro). Diversos outros alimentos poderão ser sintetizados a partir desses bichos como óleos, farinhas, azeites, entre outros.

Por enquanto, por mais que você queira, não é possível comer pão de barata hoje no Brasil. A Anvisa ainda não possui pedidos para regulamentar o produto para o consumidor final. Por enquanto, os insetos ainda estão restritos a dieta de animais de produção e corte, servindo como uma poderosa base de melhoramento nutricional de produtos animais comuns.

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