Sustentabilidade significa mais do que soluções para questões ambientais. Há mais de 40 anos, este conceito foi concebido e disseminado para além dos fóruns de especialistas, do setor acadêmico e da militância ambientalista. Hoje, representa o desafio de reinventar o presente para construir um futuro mais próspero, inclusivo, saudável e ambientalmente equilibrado. Junto à paz mundial, é prioridade da Organização das Nações Unidas (ONU). Sustentabilidade significa resgatar a qualidade de vida das pessoas e do planeta. As empresas também dependem das premissas deste conceito.

Neste contexto, existe um ator que trabalha silenciosamente, quase invisível, mas que é tão indispensável quanto as grandes empresas e corporações para que o mundo do presente e do futuro prossiga evoluindo em bases justas e sustentáveis. Estamos falando do relevante segmento dos pequenos negócios, que, no Brasil, equivale à maioria das empresas e empreendimentos (98,5%) e gera mais da metade dos empregos (54%).

Ressaltamos que esta peculiaridade não é só nossa, pois também ocorre, muito provavelmente, em todas economias do mundo. Infelizmente este segmento ainda não está na pauta dos grandes encontros e fóruns mundiais, assim como não desperta tanto interesse para estudos do setor acadêmico e do mercado.

No ano passado, conseguimos, pela primeira no país, levantar dados estatísticos sobre a adesão desse segmento à sustentabilidade e aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030 – proposta pela ONU e assumida como compromisso por 193 países-membros, em 2015, da qual o Brasil é signatário.

A pesquisa ‘Engajamento do Pequenos Negócios Brasileiros em Sustentabilidade e aos ODS’, realizada e lançada pelo Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS), em setembro, revela a contribuição deste enorme contingente de empresas (cerca de 14 milhões) tão importantes para nosso desenvolvimento sustentável.

Dentre os 1.887 empresários das cinco Regiões Brasileiras entrevistados dos quatro principais setores econômicos (agropecuária, indústria, comércio e serviços), 93% se declararam comprometidos com os princípios da sustentabilidade; 91% consideram que novas oportunidades e modelos de negócio estão surgindo da sustentabilidade; 67% buscam a preservação do meio ambiente e justiça social.

Seu papel no desenvolvimento sustentável local é incontestável: 93% contratam mão de obra local; 80% dão preferência aos fornecedores locais; e 85% apoiam a comunidade onde estão inseridos.

Estes são apenas alguns resultados do estudo pioneiro. É importante salientar que estas empresas possuem ritmo e características próprias: adotam boas práticas sustentáveis ou estão trabalhando em novos nichos da sustentabilidade, mas raramente potencializam essas iniciativas com divulgação e marketing. Certamente consumidores estão observando as iniciativas desses empreendimentos em prol do bem-estar, da qualidade de vida e do planeta.

Quando comparamos com outros países, constatamos que vários implementam estratégias de desenvolvimento baseadas no protagonismo dos pequenos negócios e ou conjuntos deles em municípios e territórios. Por serem mais flexíveis e ágeis para assimilar inovações, as rápidas mudanças de valores e os novos hábitos de consumo do que as grandes corporações, são tratados como preciosos aliados do desenvolvimento social. Afinal, como acontece no Brasil, são eles os principais geradores de empregos e renda em cidades de pequeno e médio portes e nas microrregiões.

Assim ocorre na Áustria, Itália e França, por exemplo. A vida em vilarejos prósperos – onde a economia geralmente está relacionada com a produção rural, comércio e serviços – é apoiada com educação de qualidade, infraestrutura e estímulo às ações sociais, ambientais, culturais e econômicas, com garantia de condições favoráveis para empreender.

Outro exemplo de inovação em políticas públicas, que prioriza mais do que resultados econômicos, vem do Butão. Este pequeno país budista da Ásia, com menos de 800 mil habitantes e localizado entre a China e Índia, chamou a atenção mundial ao estabelecer o indicador Felicidade Interna Bruta (FIB) – contrapondo-se ao Produto Interno Bruto (PIB), que aponta o total de produtos, serviços e riquezas gerados pelos países. O FIB mensura o bem-estar da população butanesa e é referência para a atuação do setor governamental. A iniciativa butanesa gerou estudos e iniciativas semelhantes em países desenvolvidos como o Canadá.

O extraordinário desenvolvimento com bases sustentáveis da Finlândia, ocorrido nas últimas décadas, é também um excelente exemplo. O salto deste país foi alicerçado na revolução do sistema educacional, que agregou muita inovação e eficiência para formar bons cidadãos e empreendedores capazes de assumir as oportunidades dentro e fora da Finlândia. As políticas públicas dessa nação também priorizam as pequenas e médias empresas, assim como as cidades de pequeno porte.

As iniciativas citadas neste artigo integram a programação da terceira edição do CICLOS-Congresso Internacional de Sustentabilidade para Pequenos Negócios, que será realizado nos dias 23 e 24 de maio, no Centro de Eventos do Pantanal. Este evento será uma rara oportunidade para reciclar conhecimentos e atualizar informações e referências nacionais e internacionais sobre iniciativas públicas e privadas, que objetivam transformar o mundo num lugar melhor para viver e empreender – na contramão do noticiário que apresenta, quase sempre, cenários tenebrosos da atualidade e para o futuro.

O CICLOS é um congresso bienal, realizado pelo Sistema Sebrae, organizado pelo Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS) e Sebrae MT. A programação foi cuidadosamente preparada e fazem parte dela: seis palestras magnas com palestrantes do Áustria, Brasil, Butão, Finlândia, Israel, Itália e Portugal; e 10 painéis com 36 debatedores. São aguardados em torno de 500 participantes, entre empresários, executivos, especialistas, gestores públicos, universitários, técnicos do Sebrae e interessados no tema sustentabilidade de todas as Regiões Brasileiras.

Esta edição do congresso conta com o apoio da ONU Meio Ambiente e da Águas Cuiabá. Os conteúdos estão baseados nos eixos: Pessoas, Cidades e Economia do futuro. Entre os temas a serem abordados, destacam-se: negócios inovadores e de vanguarda, o protagonismo transformador das mulheres, o empreendedorismo com propósito, empreendimentos tecnológicos, cidades empreendedoras, empresas sustentáveis, entre outros.

Cuiabá se tornará a ‘capital da sustentabilidade’, nos dias 23 e 24 de maio. Convidamos a sociedade e o empresariado mato-grossenses a participar dos diálogos inteligentes e construtivos que vão ocorrer no CICLOS 2019. Vamos estimular boas ideias, iniciativas e inovações para serem inseridas na gestão dos pequenos, médios e grandes negócios.

Vamos falar de prosperidade, felicidade, qualidade de vida e equilíbrio social e ambiental para sermos um mundo mais próspero, justo e sustentável, seguindo sempre em frente, apesar da complexidade do mundo contemporâneo. Somos todos responsáveis neste caminhar. A revolução da sustentabilidade está em andamento e, particularmente, nas mãos dos empresários, empreendedores, consumidores e cidadãos.

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Suênia Sousa é gerente do Centro Sebrae de Sustentabilidade

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