A Polícia Federal gosta de batizar operações com nomes inusitados recorrendo às vezes ao latim, outras ao grego para dar charme e visibilidade aos trabalhos. Em algumas situações busca na Bíblia expressões que remetem ou aparentam ligação com os crimes investigados.

A “Carne Fraca” é uma delas. Creio que foi inspirada no livro de Matheus (Mt 23:37-4l), quando Jesus repreendeu os discípulos, que dormiam na hora crítica que antecedia a crucificação: “Vigiai e orai”, disse ele “para que não entreis em tentação; na verdade o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. A fraqueza da carne seria, na visão do Messias, a tibieza de caráter.

O nome escolhido pela PF por certo refere-se à ganância dos empresários e dos funcionários públicos no recente episódio envolvendo os frigoríficos, que ocupou toda a mídia há poucos dias. Os primeiros desembolsavam alguns trocados para aumentar o lucro do negócio. Os outros (os fiscais) recebiam vantagens para permitir a colocação no mercado de produtos irregulares com possíveis danos aos consumidores.

Então temos três amostras de “carne fraca”: a dos empresários gananciosos a dos funcionários públicos corruptos, além da carne propriamente dita, enfraquecida pela carência de qualidade.

Faltou constar a quarta fraqueza: a dos policiais envolvidos na midiática divulgação do episódio. Eles caíram em tentação cometendo o pecado da vaidade. Se os primeiros (empresários/agentes públicos) sucumbiram à ganância, tornando-se criminosos por conta de ganhos maiores, os representantes da lei, priorizaram um minuto de glória inconsequente, que abalou a economia da nação. Parece que imputaram aos delinquentes pecados monstruosos e se esqueceram, como garante a Bíblia, que os “frutos da carne” (Gálatas 5:19) poderiam contaminá-los também.

Sim, porque pelas informações que temos até agora, não havia razão para promover o estardalhaço que ocupou o noticiário na última sexta. Só faltou o Power Point usado pelo Ministério Público Federal   no caso do Lula. Na verdade, só um frigorífico tinha problema sanitário, o que vendia carne estraga. Os outros usavam os fiscais para burlar a legislação:colocar frango no lugar de peru e injetar água na carne para aumentar o peso.

Inegavelmente a notícia foi desproporcional ao fato.A Polícia Federal fez uma investigação de corrupção dos fiscais do governo e a divulgou grotescamente como um caso de saúde pública.

Mas, da mesma forma que a ganância de alguns empresários não tem o poder de colocar no mesmo balaio todos os agentes do setor, também o deslize de poucos policiais não embaça o brilho dessa corporação, que tem orgulhado a nação com consistentes trabalhos de combate ao crime.

A crise vai passar, como quase sempre acontece, mas o prejuízo não tem volta. Logo as mídias sociais vão esquecer essa bobeira de papelão na carne, coisa absurda que nunca existiu e o consumo interno normaliza.Entretanto o governo gastará muito tempo e conversa para convencer o mundo que nossos frigoríficos são confiáveis.

Assinatura Renato de Paiva

 

 

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