O hino nacional nunca esteve na lista de favoritos do Spotify dos esquerdistas. O governo preparou um vídeo para o Sete de Setembro, com ministros e brasileiros de todo o tipo cantando o hino. A comoção em torno do desfile chamou atenção no Brasil inteiro. Parece que houve um despertamento de um sentimento há muito esquecido, o orgulho da pátria.  

Pergunto-me se a direita brasileira entende que é parte de seu dever de movimento cultivar o orgulho nacional e o amor ao país. O slogan de Bolsonaro, “Brasil acima de tudo” incomodou muito aqueles que não reconhecem o patriotismo como uma virtude. Da mesma maneira o discurso de Trump, de proteção à América, incomoda profundamente o partido Democrata até hoje.

Esta aversão ao orgulho nacional é uma consequência direta da esquerdização paulatina que o país vem sofrendo há décadas. Parece-me que a nova direita, inconsciente deste mal,  é tão avessa ao patriotismo quanto a esquerda, ou pelo menos tem se mostrado indiferente à necessidade de restauração do orgulho nacional.  

Um sentimento nacional comum a todos é essencial na construção de uma força conservadora. Defino o conservadorismo aqui segundo Edmund Burke: uma disposição de preservar os valores sociais, a ordem,  as instituições que a garantem, o amor à nação e o que nela é nobre.

Essa disposição é  alicerçada em algumas premissas filosóficas compartilhadas pelos conservadores, e que não derivam do pensamento de Burke, mas do senso-comum judaico-cristão.

Uma delas é que a ordem social é muito frágil e pode ser facilmente aniquilada. Há que se preservar seus pilares com carinho, porque ela é sensível. É mais fácil destruir do que construir. Basta-se ler o livro de Juízes e os livros dos Reis na Bíblia para se entender bem este princípio.

Outra premissa é de que o conhecimento histórico acumulado ao longo dos séculos e décadas pela experiência conjunta de muitas gerações é nossa maior fonte de sabedoria. Mais uma premissa importante é que a inclinação humana decaída e corrupta tem que ser moldada e cerceada moralmente por instituições sólidas. A família, a religião e o amor à pátria são algumas delas.

Quando se destrói o mundo como o conhecemos, o que nos resta é o caos, não a utopia. O “conservar” do conservadorismo não se refere a manter o que é mal, como alguns críticos incapazes apontam, mas à preservação da frágil ordem social, instituições e crenças que nos livram da tragédia que seriam as guerras tribais, das trevas do obscurantismo e consequentemente do caos generalizado.  

O amor à pátria, o orgulho pelos heróis que a construíram, o respeito à história e aos antepassados são parte integral deste sentimento preservador.

Burke considerava este amor à pátria como tendo uma influência política profunda. O amor à tradição, aos costumes que nos caracterizam, e o respeito à jornada histórica que trouxe a nação até o momento em que está, compõem o alicerce da nossa identidade como povo.

Segundo Burke, foram os intelectuais  da revolução que tentaram substituir o sentimento do orgulho nacional pela abstração filosófica dos “direitos humanos.” Ao inventar esta nova referência, eles tiraram da lei qualquer âncora na realidade concreta do que era a sociedade e o povo, deixando-a subjugada apenas pelo poder do Estado, a arbitrariedade do querer dos poderosos.

Não podemos confundir, porém, o patriotismo sadio com o nacionalismo doentio do fascismo, como muitas vezes os especialistas na fabricação de espantalhos que habitam a intelligentsiaesquerdista o querem.

O patriotismo verdadeiro vai reconhecer na nação a sua diversidade étnica e cultural. Não vai associá-lo a um partido, a um modo de pensar único, ou a uma religião única. Não somos um país de cristãos brancos, nem de índios, nem de africanos. Somos um país em que muitos grupos étnicos se encontraram, alguns nativos e outros vindos de fora.

Nosso encontro foi dolorido e sangrento, mas hoje somos uma pátria generosa e hospitaleira, que conseguiu criar em seu seio uma sociedade alegre e fraternal, denunciando sempre a crueldade e a exclusão, procurando as soluções mais humanas, tolerando as diferenças uns dos outros e criando um terreno moral comum.

O problema é que a pátria, plural e livre só é possível se os pilares históricos que a conduziram à liberdade forem preservados. Esta preservação só acontece num ambiente de amor de respeito a ela. A pátria que queremos respeitar é mais do que as montanhas, vales e rios louvadas no hino, mas uma história vivida em torno de virtudes morais e valores nobres.

Num mundo ideal, o “Ministério dos Direitos Humanos” abstratos e impessoais daria lugar ao Ministério dos Valores Morais da Nação. Mas pensando que a centelha da civilidade nacional ainda tem que ser muito abanada para se tornar uma simples brasinha, não estou propondo essa ideia. Ela é apenas uma brincadeira de quem já se resignou tristemente ao estado de coisas em um país que só é patriota em dia de jogo de seleção.

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