Temos sempre a ideia que tudo no exterior é melhor, inclusive o nascimento dos filhos. Pois a jornalista Patricia Poeta disse em uma entrevista que ter dado à luz no exterior a traumatizou e este talvez seja um dos motivos pelos quais não tentou uma segunda gravidez.

Eu não poderia ter concordar mais.

Explico.

Assim como ela, também tive meu filho no exterior. Mais precisamente em Boston, no Brigham and Women’s, considerado um dos melhores hospitais dos Estados Unidos e, talvez, do mundo.

“Mas você não pensou em voltar para ter o filho no Brasil?”, já ouvi de algumas pessoas.

Nunca. Nem me passou pela cabeça voltar para o parto. Talvez por ter sido inspirada por minha tia Patrícia, que deu a luz ao meu primo Ulisses no mesmo hospital, vinte anos antes.

Voltar não era uma opção. E fui em frente.

O pré-natal foi todo feito com uma médica do plano. Consultas rápidas, a ideia de que tudo era descomplicado e a cesárea nem de longe seria uma opção. Nas conversas, nunca houve a possibilidade de um parto que não fosse o natural.

Enfim, tudo parecia sob controle e a médica dizia ter o cálculo exato das minhas semanas. O seu conselho era de que, se começasse a ter contrações, corresse para o hospital.

Os dias passaram até que chegaram as benditas – duas semanas antes do previsto.

Achei que não fosse chegar ao hospital, tamanha dor. Por sorte era noite e estava com meu marido e mãe, que havia chegado no dia anterior.

Quando entrei no hospital, apesar de estar uivando de dor, tivemos que esperar para fazer a papelada. Eu nem sabia qual era meu nome na hora, menos ainda as informações mais precisas relacionadas ao seguro. Foi a primeira desumanização do processo.

Assim que entramos, outra surpresa: minha médica não estava de plantão naquele dia e outra faria o parto. Depois de quase nove meses de acompanhamento e convivência, meu filho viria ao mundo por mãos desconhecidas.

Chegamos e fomos separados da minha mãe, que precisou ficar numa ante-sala, totalmente alheia ao que estava acontecendo. Segundo ela, foram as piores horas de sua vida, não só pela dificuldade com a língua, mas simplesmente porque as enfermeiras a ignoravam.

Foram 12 horas de trabalho de parto. Tudo porque, apesar da minha dilatação, precisei tomar um antibiótico antes do parto. E tudo sem carinho, paparico ou doçura. A frieza era tão latente quanto o ar-condicionado do hospital. Era possível sentir o frio na pele, em todos os sentidos. Tudo intensificado pela barreira da língua.

Meu sofrimento era tanto que, em certo momento, implorei por uma anestesia peridural e fui atendida. Minha tortura ficou mais tolerável, mas não deixou de ser solitária. Contava com o apoio do meu marido dentro da sala e as preces da minha mãe do lado de fora. As enfermeiras e os médicos eram indiferentes à minha agonia.

No fim, deu tudo certo. Costumo dizer que foi um parto sem dor nem calor. Mas não deixou de ser uma experiência um tanto traumática.

No Brasil, certamente haverá dor, mas o parto terá muito mais amor!

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