Depois de um giro pelo centro de Cáceres (220 km de Cuiabá), onde estão edificados casarões históricos e o Marco do Jauru – monumento que simboliza o Tratado de Madri -, estacionamos no cais da Praça Barão do Rio Branco, à beira do rio Paraguai, que se agita com a passagem de embarcações.
Assim como outras pessoas que permaneciam por lá, estávamos ansiosos para encontrar uma das moradoras mais ilustres da cidade, que até há alguns dias era vista com frequência na ilha do outro lado do rio. Porém, a onça que virou atração turística, anda um pouco sumida, como conta um cacerense.
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Foi então que resolvemos ir em busca de outro milagre da natureza. A 25 km do centro da cidade, pela MT-343 (com destino a Barra do Bugres), foi como que transpuséssemos uma barreira do som: depois dos 13 primeiros quilômetros de asfalto, o barulho dos carros dá lugar ao silêncio. Por mais 12 quilômetros de estrada de chão, ouvimos apenas o canto dos pássaros e uma pequena movimentação da zona rural que em alguns pontos é banhada por riachos.
A vida corre tranquila enquanto seguimos nossa viagem rumo à Dolina Água Milagrosa, situada entre as serras do Bebedouro e Morro Grande. O ponto turístico que a cada dia recebe mais visitantes, é porto seguro de aventureiros em busca de um lugar especial para a flutuação e a prática do mergulho com cilindro. Mergulhadores já chegaram a 183 metros de profundidade desta enigmática dolina cercada por paredões, cujo lago ora é azul turquesa, ora verde esmeralda.
Muitas histórias alimentam a curiosidade de quem se envolve por seus encantos. Algumas pessoas acreditam que a fenda com o lago pode ter se formado há milhares de anos, por meio do movimento de placas tectônicas, ou que ela teria se formado com a queda de um meteoro e que o local serviria de esconderijo para alienígenas.
Hoje, qualquer humano pode usufruir do lugar, desde que esteja disposto a encarar os 154 degraus da trilha de descida. Brincadeiras à parte, os proprietários das terras onde estão a dolina, se prepararam para a exploração turística do local considerado um dos melhores pontos de mergulho de Mato Grosso. De acordo com Marcelo Cebalho há uma pequena pousada, com piscina e restaurante, que serve comida caseira preparada no fogão à lenha.
Segundo ele, o melhor período para visitar o local é de maio a outubro. “De outubro a abril, por conta do período das chuvas ela fica verde por conta da proliferação das algas e a visibilidade fica restrita”, explica. O pai de Marcelo, Loureano, destaca que na alta temporada, o melhor momento para visualização do lago é das 10h às 14h, quando o sol incide diretamente sobre ela.
Dentre outras opções, dá para alugar o snorkel, stand up paddel e caiaque.
Quanto aos valores, quem quiser passar o dia paga R$ 90 por pessoa e tem direito à flutuação, às pranchas e almoço no restaurante. Já quem optar pela modalidade de mergulho com cilindro, tem batismo com instrutor, mergulho e almoço, por R$ 350.
As visitações podem ser feitas aos sábados, domingos e feriados, mediante reserva feita pelo WhatsApp: (65) 99902-8010.
Água como poderes curativos?
De acordo com a historiadora Alaíde Montecchi Durão, desde o século XVII a Dolina servia de refúgio aos escravos das fazendas vizinhas. De acordo com a tradição oral, o nome “Água Milagrosa”, teria sido atribuído pelo fato de muitos escravos, feridos, acreditarem que as águas azuis da dolina tivessem poder curativo e aliviassem a dor dos machucados.
No entanto, em sua pesquisa ela descreve que a formação pode estar associada a pequenas falhas que provocaram o abatimento do teto de uma gruta pré-existente no local a milhares de anos, apresentando atualmente uma forma clássica de dolinização em seu estágio mais tardio.
Seo Laureano, diz que muitas pessoas até os dias de hoje seguem até lá acreditando que a água pode curar. “As filhas de doninha do Pantanal, um mito de Tanque Novo – em Poconé-, ainda vem aqui para pegar água. Tem outro conhecido nosso que estava doente e vinha até aqui para se banhar. Ele tem muita fé que essa água pode curar”.
Ele conta ainda que as terras são herança da família da mulher, Aparecida, que também divide a administração do espaço, com o marido e o filho Marcelo Cebalho. “A terra pertence à família há pelo menos uns 100 anos”, calcula.