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“Os celulares espiam e transmitem nossas conversas, mesmo desligados” diz criador do GNU-Linux

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“Os celulares espiam e transmitem nossas conversas, mesmo desligados” diz criador do GNU-Linux

Richard Stallman está preocupado. Um dos primeiros homens a se aventurar no Vale do Silício para criar o primeiro sistema operacional aberto chamado GNU, em 1983, crê firmemente que a privacidade das pessoas está em risco.

Hoje sua criação é conhecida como GNU-Linux. “Muitos, erroneamente, chamam o sistema somente de Linux…”, se queixa Stallman. O homem conversou com o jornal El País e afirmou com todas as letras que a privacidade na era digital é praticamente inexistente.

Ele não tem celular, não quer ter fotos postadas no Facebook e afirma também sempre pagar suas contas com dinheiro vivo para que ninguém rastreie as coisas que faz em sua vida.

Controle tecnológico

“A China é o exemplo mais visível de controle tecnológico, mas não o único. No Reino Unido, há mais de dez anos acompanham os movimentos dos carros com câmeras que reconhecem as placas. Isso é horrível, tirânico!”, avisa.

O software livre é sua contribuição como programador à luta pela integridade da privacidade das pessoas.

“Ou os usuários têm o controle do programa, ou o programa tem o controle dos usuários. O programa se transforma em um instrumento de dominação”, afirma.

Ele se deu conta dessa dicotomia quando a informática ainda estava engatinhando.

“Em 1983 decidi que queria poder usar computadores em liberdade, mas era impossível porque todos os sistemas operacionais da época eram privados. Como mudar isso? Só me restou uma solução: escrever um sistema operacional alternativo e torná-lo livre”.

Foi assim que começou o GNU. Mais de três décadas depois, a Free Software Foundation, que ele mesmo fundou, tem dezenas de milhares de programas livres em catálogo.

“Conseguimos liberar computadores pessoais, servidores, supercomputadores…, mas não podemos liberar completamente a informática dos celulares: a maioria dos modelos não permite a instalação de um sistema livre. E isso é muito triste, é uma clara mudança para pior nos últimos dez anos”, diz Stallman.

“Os celulares são o sonho de Stalin, porque emitem a cada dois ou três minutos um sinal de localização para seguir os movimentos do telefone”, diz.

O motivo de incluir essa função, diz, foi inocente: era necessário para dirigir ligações e chamadas aos dispositivos. Mas tem o efeito perverso de que também permite o acompanhamento dos movimentos do portador.

“E, ainda pior, um dos processadores dos telefones tem uma porta traseira universal. Ou seja, podem enviar mudanças de software à distância, mesmo que no outro processador você use somente programas de software livre. Um dos usos principais é transformá-los em dispositivos de escuta, que não desligam nunca porque os celulares não têm interruptor”, afirma.

Para Stallman, os celulares são somente uma parte do problema. Ele está mesmo muito preocupado com o fato de diversos softwares tenham acesso à informações privadas.

“Criam históricos de navegação, de comunicação… Existe até um aplicativo sexual que se comunica com outros usuários através da Internet. Isso serve para espiar e criar históricos, claro. Porque além disso tem um termômetro. O que um termômetro dá a quem tem o aplicativo? Para ele, nada; para o fabricante, saber quando está em contato com um corpo humano. Essas coisas são intoleráveis”, pragueja.

Os grandes produtores de aparelhos eletrônicos não só apostam maciçamente no software privativo: alguns estão começando a evitar frontalmente o software livre.

“A Apple acabou de começar a fabricar computadores que barram a instalação do sistema GNU-Linux. Não sabemos por que, mas estão fazendo. Hoje em dia, a Apple é mais injusta do que a Microsoft. As duas são, mas a Apple leva o troféu”, afirma.

Para ele, o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) europeu é uma boa resposta para garantir a privacidade dos usuários.

“É um passo no caminho certo, mas não é suficiente. Parece muito fácil justificar o acúmulo de dados. Os limites deveriam ser bem rígidos. Se é possível transportar passageiros sem identificá-los, como fazem os táxis, então deveria ser ilegal identificá-los, como faz o Uber. Outra falha do RGPD é que não se aplica aos sistemas de segurança. O que precisamos é nos proteger das práticas tirânicas do Estado, que coloca muitos sistemas de monitoramento das pessoas”.

Escândalo do Facebook

O escândalo do Facebook e a Cambridge Analytica não o surpreendeu.

“Sempre disse que o Facebook e seus dois tentáculos, o Instagram e o WhatsApp, são um monstro de seguir as pessoas. O Facebook não tem usuário, tem usados. É preciso fugir deles”, finaliza.

Por fim, ele reflete que muitas pessoas oferecem esses dados com inocência e cedem informações vitais que acabam usadas para outros fins de espionagem como quando aconteceu o explosivo caso revelado por Edward Snowden no qual o governo dos EUA monitorava ativamente a vida de diversos cidadão através dos smartphones.

Fonte: A entrevista foi divulgada originalmente no site El País.

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