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Oposição cobra investigação sobre grampos; base aliada abafa CPI

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Oposição cobra investigação sobre grampos; base aliada abafa CPI

A primeira sessão na Assembleia Legislativa depois do escândalo dos grampos vir à tona foi realizada na noite desta terça-feira, 16, depois de uma longa discussão dos deputados em reunião fechada no colégio de líderes. O assunto, que movimenta a cena política de Mato Grosso há seis dias, porém, foi praticamente ignorado pela base aliada do governo. O esquema começou nas eleições de 2014, quando Silval Barbosa era governador e Taques disputava as eleições. Em 2015, novos nomes foram incluídos nas escutas. 

Na tribuna, apenas Oscar Bezerra (PSB) tocou no assunto e se pronunciou contra a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) articulada pela oposição. Em entrevistas, outros parlamentares reafirmaram não ver necessidade de CPI, como o líder do governo, Dilmar Dal’Bosco (DEM), e o vice-líder, Leonardo Albuquerque (PSD).

“Confio no governador e nos órgãos de controle para elucidar os fatos e punir os culpados. Se isso não ocorrer, aí, sim, podemos intervir na questão”, discursou Oscar. Ele usou como exemplo a CPI das Obras da Copa, que apontou diversas irregularidades. “Se passamos quase dois anos investigando as obras da Copa e a CPI vai ser praticamente desconsiderada para retomar as obras conforme interesses, para quê fazer qualquer tipo de CPI? Acho desnecessário”, completou.

A deputada Janaina Riva (PMDB), vítima dos grampos, usou a tribuna para fazer um discurso contundente de quase 15 minutos, no qual mesclou críticas ao governador Pedro Taques (PSDB) – a quem chamou de ditador e comparou ao ex-presidente da Venezuela Hugo Chaves – e ao secretário de Comunicação, Kleber Lima, com cobranças de apuração do caso.

Janaina afirmou, sem dar detalhes, que outros dez deputados governistas foram grampeados e lamentou ainda não ter conseguido mais que cinco assinaturas para a CPI. São necessárias oito para instalar a investigação.  “É triste saber que os deputados atenderam às ordens do governador Pedro Taques de não instalar a CPI e, mais uma vez, investigar os crimes ocorridos em seu governo”, disse. “Já nem confio mais que esta Casa se utilize de um instrumento como a CPI para apurar com seriedade esse ataque à democracia”, completou.

Ela disse que vai levar o caso ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para apurar a responsabilidade do juiz que concedeu a autorização para os grampos e cobrar da Polícia Militar apuração da conduta dos policiais envolvidos no pedido de interceptação.

Machismo
Janaina afirmou também que o governo faz ataques machistas e misóginos a ela e cobrou apoio dos colegas de parlamento depois da discussão que protagonizou via redes sociais com o secretário de Comunicação Kleber Lima, na noite de domingo, 14. O secretário enviou a uma lista de distribuição no WhatsApp uma foto da deputada em roupas íntimas que vazou na semana passada acompanhada da mensagem “Quem iria invadir a intimidade da ilustre deputada se ela mesma o faz?!”

Ela também citou o apoio dos deputados de oposição Zeca Viana (PDT), Valdir Barranco (PT), Allan Kardec (PT) e Silvano Amaral (PMDB). “Além deles, não tem um colega que levante da cadeira para vir aqui defender uma mulher. Uma mulher que tem sua vida pessoal escrachada por um cidadão que nunca teve um voto sequer na vida dele. E se precisar do voto da família dele, talvez nem esse ele tenha. É difícil discutir com alguém que não tem nenhum legado a deixar”, disse, referindo-se a Kleber.

Apoio
Outros deputados de oposição também cobraram providências. “É inadmissível esta Casa não tomar um posicionamento”, disse Zeca Viana. “Este parlamento não se calará. Em breve, a verdade virá à tona e nós saberemos quem é o guardião da verdade em Mato Grosso”, prometeu Allan Kardec. O petista Valdir Barranco, por sua vez, inovou e dedicou uma poesia a Pedro Taques, fazendo uma paródia com “E agora, José?” de Carlos Drummond de Andrade.

Barriga de aluguel
As interceptações telefônicas ilegais foram autorizadas pela Justiça em uma tática conhecida como “barriga de aluguel”, quando números de telefones de pessoas comuns, sem qualquer ligação com a investigação, são colocados num pedido de quebra de sigilo à Justiça. No caso revelado, Janaina Riva e outras pessoas foram incluídas em uma investigação sobre tráfico de drogas para terem o sigilo telefônico quebrado.

Também foram alvo de grampos o advogado eleitoral ligado ao PMDB José do Patrocínio, o vereador cuiabano Clovito Hugueney (falecido), o jornalista José Marcondes “Muvuca”, o desembargador aposentado José Ferreira Leite e até mesmo a uma ex-amante do ex-chefe da Casa Civil Paulo Taques. Confira a lista divulgada pelo LIVRE. 

O caso foi denunciado pelos promotores Mauro Zaque e Fábio Galindo, que à época eram secretário e adjunto da pasta de Segurança Pública do governo estadual, respectivamente. Zaque afirma ter avisado o governador Pedro Taques, por diversas vezes, sobre os grampos. O governador afirmou que denúncias verbais eram “fofoca” e que a documentação com a denúncia nunca chegou às suas mãos.

O escândalo dos grampos, que veio à tona na semana passada, deflagrou a maior crise do atual governo, e levou à saída do advogado Paulo Taques da chefia da Casa Civil de Mato Grosso. Primo e pessoa de confiança do governador, Paulo foi, até a exoneração, o homem forte do governo. Entenda a cronologia da crise dos grampos. 

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