Todo cuiabano católico já desfrutou em algum momento da arte de Odenil Sebba. Ele é responsável pela pintura de murais em diversas igrejas de Mato Grosso, entre elas a Nossa Senhora do Carmo, em Várzea Grande (região metropolitana), um dos seus grandes orgulhos como profissional.
No local, em um mezanino de 15 por 5 metros, ele retratou a santa titular da casa, em um cenário cheio de elementos que apresentam ao fiel a alma da carinhosa cidade industrial, onde ele nasceu.
Junto com Nossa Senhora, estão a tradicional procissão religiosa feita em sua homenagem, as mulheres de Bom Sucesso, o povoado que deu início a cidade e bordadeiras.
E tudo isso foi feito, em grande parte, a mão livre. Pasmem!
Uma técnica que começou a ser rascunhada aos 5 anos de idade, em casa, nos cadernos de pinturas comprados pelo pai, até que ganhou ares de profissionalização, quando Sebba foi descoberto por um professor do ensino público.
O olhar do mestre
De acordo com Sebba, ele estava na escola e um professor faltou. Então, para não deixar as crianças sem atividade, o coordenador assumiu a turma. Contudo, como o chamado foi de “supetão”, ele não tinha um planejamento e precisou improvisar.
Pegou o giz e começou a desenhar objetos para os alunos descreverem.
“Os colegas falaram para ele que eu e meu irmão desenhávamos melhor que ele. Então, ele nos chamou a frente e nos deu o giz”, relembra Sebba.
Quando acabou a aula, o coordenador, chamado Aldo Neri, pediu para falar com os pais de Sebba. Na conversam, elogiou o talento dos meninos e deu o contado de Dalva Maria de Barros, na época coordenadora da Fundação Cultura de Mato Grosso, que funcionava no Palácio da Instrução.
“Ele falou que era um desperdício não aproveitar a nossa capacidade e, por isso, meu pai nos levou na fundação no outro dia, quando começamos as aulas. O professor representa um divisor de águas na minha vida. Já tentei procurar ele novamente, mas infelizmente não encontrei“, relata o pintor.
A inspiração sacra
Naquele período, entre 1977 e 1978, Sebba estudou com Gervani de Paula, Victor Hugo, Adir Sodré e João Sebastião. Um momento que ele considera muito rico na vida dele, mas que foi interrompido pela entrada no seminário.
“Eu não segui junto com os meus colegas, que se tornaram celebridades mato-grossenses no mundo das artes. Mas segui pintando e fiz muitos trabalhos enquanto estudava, junto com os padres salesianos”, conta.
No seminário, Sebba pintou santos e padres. Quadros que eram encomendados e distribuídos para toda a missão salesiana no país. Um trabalho que caiu no gosto dos sacerdotes, que continuaram a chamá-lo, mesmo após sair do seminário.
“Eles me chamam e me passam a ideia do que querem. Aí, eu construo na minha cabeça a composição e faço. Eles confiam no resultado porque sabem que conheço a doutrina e não farei nada inadequado”, argumenta.
E, assim, as obras do pintor várzea-grandense passaram a alegrar e decorar os colégios do grupo.
Sebba, além de pintor, também tem um forte trabalho junto da comunidade católica no setor da música. Inclusive guarda no coração quando ensaiou e participou da banda que acompanhou o papa João Paulo II, em sua visita em Cuiabá, na década de 90.
“Ele cumprimentou todos os integrantes da banda e chegou a pegar as baquetas das mãos do meu irmão para fazer um brincadeira. Foi emocionante”, recorda.
Entre rostos e luzes
A grande paixão do artista é retratar rostos, trabalhando com o desafiante jogo de luzes e sombras. Nas suas temáticas prediletas, além das religiosas, estão o dia a dia das pessoas da cidade, a cultura e a história.