Um relatório divulgado pelo Instituto Centro de Vida (ICV) nesta segunda-feira (8), aniversário de 300 anos de Cuiabá, revelou que para abrir espaço aos trilhos do almejado Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) foi necessário retirar cerca de 2,5 mil árvores de avenidas da cidade. A obra inacabada do pacote da Copa do Mundo de 2014 é um dos maiores “presentes de grego” que governantes já deixaram para a Capital mato-grossense.
A informação faz parte do levantamento que revela a perda de 17% de áreas verdes de Cuiabá nos últimos 30 anos, ou seja, em apenas 10% de toda a história do município. A “cidade verde” tricentenária perdeu 55.763 hectares de sua vegetação nativa. O equivalente a duas vezes e meia a extensão da zona urbana ou 714 vezes a área do Parque Estadual Mãe Bonifácia, na região do bairro Duque de Caxias.
Uma Copa do Mundo depois do prazo de entrega, a conclusão do VLT ainda é uma incógnita. O governador Mauro Mendes (DEM) informou na última quinta-feira (4), que não será possível prosseguir com o projeto. Apesar disso, tornou a afirmar que, até o final do ano, deverá apresentar uma solução para a obra.
Como resposta aos gritantes impactos da obra do governo do Estado nas principais avenidas da cidade, por onde passariam os trilhos do VLT, a Prefeitura de Cuiabá anunciou, em outubro de 2017, que plantaria palmeiras imperiais em toda a extensão da Fernando Corrêa da Costa e da “Avenida do CPA”, duas das vias mais afetada pelas obras, independentemente da conclusão ou não dos trilhos.
De acordo com o projeto do VLT, os trilhos seriam instalados, sentido Várzea Grande-Cuiabá, em avenidas como a XV de Novembro, Tenente Coronel Duarte (Prainha), Historiador Rubens de Mendonça (Avenida do CPA), Coronel Escolástico e Fernando Corrêa da Costa, na Capital, totalizando 22 km de extensão.
Outras obras
De acordo com o relatório do ICV, o impacto das obras de infraestrutura na perda de vegetação nativa na cidade pode ser observado também em outras regiões da cidade. É o caso da extensão da Avenida das Torres, inaugurada em agosto de 2008 pela Prefeitura de Cuiabá, e das margens do Rio Cuiabá.
Com 12,5 km, a Avenida Professora Edna Affi (Avenida das Torres) interligou o bairro Pedra 90 à região da Avenida Dante de Oliveira, sendo um forte vetor para o surgimento de novos bairros, ordenados e desordenados como Morada do Ouro, Jardim Vitória e Jardim Florianópolis.
“Este avanço comprometeu áreas de grande valor ambiental, como as nascentes de córregos como o do Barbado e ainda ameaça áreas já protegidas como a do Parque Estadual Massairo Okamura, que sofre com a poluição e queimadas originadas em seu entorno”, diz trecho do estudo.
Em 2017, por iniciativa do Ministério Público Estadual, foi proposta uma Ação Civil Pública pedindo a retirada de quase duas dezenas de construções irregulares erguidas à margem direita do rio Cuiabá, em um trecho compreendido entre a rotatória da ponte Sérgio Mota e o Parque de Exposições.
“As referidas obras, segundo a denúncia, ocuparam irregularmente a Área de Preservação Permanente (APP) do rio, causando impactos de grande monta e difícil reversão. Na comparação dos mapas, o avanço dos empreendimentos imobiliários sobre este trecho fica bem evidenciado, bem como a perda na cobertura verde. Também é possível identificar uma tendência de urbanização sobre antigas áreas verdes na região do bairro do Porto“.
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