A pandemia do novo coronavírus acendeu um alerta para o histórico de doenças crônicas em Cuiabá. O alto índice de casos graves da covid-19 aponta em uma direção: não estamos nos cuidando para evitar diabetes, hipertensão e obesidade – principais fatores de risco para a nova doença.
A situação é atestada por números de um levantamento da Secretaria de Saúde de Cuiabá. Hoje, a Capital tem 75 mil hipertensos e 25 mil diabéticos. Entre esses últimos, quatro mil fazem tratamento diário com insulina para evitar o colapso do organismo.
“São números que estão na média do Brasil. Mas numa situação extrema, como a pandemia, a situação das pessoas com doenças crônicas piora e a falta de cuidados diários para a prevenção acaba aparecendo”, diz o enfermeiro de atenção básica, Carlos Alexandre Rodrigues Silva.
Ele explica que diabetes e hipertensão são doenças que se desenvolvem lentamente e a piora do quadro, como o consumo excessivo de açúcar e sódio, geralmente pega os pacientes de surpresa.
“A pessoa pode acostumar com a hipertensão. Ela [a pressão arterial] sobe hoje de manhã e depois cai, mas no começo da tarde sobe de novo, variando de 14 a 17. Isso, ao longo do tempo, causa distúrbios e numa pandemia, o estresse diário que já existia antes é mais alto”, ele explica.
Obesidade
A hipertensão e a diabetes podem ser relacionadas a um problema que vem chamando atenção de médicos no mundo: a população está ficando obesa. No Brasil, 50% das pessoas já têm essa característica.
Em Cuiabá, conforme a pesquisa Vigitel 2019, do Ministério da Saúde, 22,5% da população tem índice corporal acima do considerado saudável. É o quinto maior número entre as 26 capitais e o Distrito Federal.
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Na análise de excesso de peso, 54% dos cuiabanos com mais de 18 anos têm esse tipo de complicador de saúde. Os casos estão concentrados na população entre os 45 e 54 anos, faixa etária com 63% da população obesa ou com excesso de peso.
“As doenças crônicas estão relacionadas a pessoas sobrecarregadas e ao sedentarismo. O estilo de vida urbano gera essa pressão, que faz cair a qualidade de vida. E o pior é que falta educação em saúde às pessoas. A pandemia é uma boa amostra disso. Já acompanhei casos de pessoas que esperam milagres, seja indo para a igreja, seja com receitas mágicas”, afirma o médico Reinaldo Gaspar Mota, membro do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Sedentarismo
Conforme a pesquisa Vigitel, apenas 12,2% dos cuiabanos praticam atividade física com exercícios moderados por até 150 minutos por semana. Um percentual que coloca Cuiabá na 11ª posição entre as capitais brasileiras e o Distrito Federal.
As mulheres são que mais se exercitam, mas com uma leve vantagem. A pesquisa identificou que 13% delas, com idade igual ou acima dos 18 anos, estavam praticando exercícios moderados, enquanto entre os homens eram apenas 11%.
Por outro lado, 46% da população global, mesmo se fazia algum tipo de exercício, o praticava em uma quantidade insuficiente para manter o organismo saudável.
“Não estamos falando de exercício para entrar forma, ir todo dia para academia. Uma caminhada pouco acelerada 30 minutos, em três vezes na semana, já é o bastante para melhorar a vida”, disse o enfermeiro Carlos Alexandre.