O jogo é dinâmico e as movimentações decorrem da interação, criando estratégias alternativas, mas sem perder o objetivo principal. Muda-se a forma, mas não a essência. As peças se movimentam em silêncio contrariando e confundindo o entendimento do neófito. Cada ação é pensada para ter seu efeito no momento certo.

O bispo é muito eficiente e o jogador precisa saber usar. O “Túnel de Realidade” leva à Imunização Cognitiva que tem como “mecanismo de controle” o seguinte processo: a pessoa imunizada cognitivamente restringe seus contatos e leituras somente a pessoas e matérias que tenham ressonância com suas crenças. Sem ouvir ou ler argumentos opostos, ou simplesmente ignorando-os, fecham-se em seus grupos, pois os outros “não sabem nada”.

O convívio no grupo limitado reforça e consolida, pela repetição das mesmas ideias-pensamento que são a base do grupo, a crença já prevalecente na pessoa. Desta forma sua capacidade de raciocínio e discernimento vão paulatinamente decaindo a um nível crítico, até o ponto que fica inteiramente “imunizada”. Todavia, o curso dos acontecimentos não espera e uma hora o grupo se defronta com a realidade, que não corresponde necessariamente aos seus anseios, e o debacle é cruel. Este fenômeno aconteceu com o petismo por exemplo, e acontece rotineiramente no mesmo ciclo.

A torre não pode ficar desprotegida para quem quer sobreviver no jogo. Quem tem olhos de ver continua a se proteger, como mostrei fartamente nos artigos anteriores da série Xeque-mate. Em publicação do final de agosto foi informado que: “Recentemente, o chefe do Banco da Inglaterra, Mark Carney, apelou aos bancos centrais mundiais para que criem uma “alternativa global” à moeda americana.”

A matéria continua: “Só em abril, o Reino Unido se livrou de US$ 16,3 bilhões (R$ 67,7 bilhões) em títulos do Tesouro dos EUA.” Vejam, foram US$ 16,3 bilhões num único mês e, como mostrei, provavelmente são usados para comprar ouro ou outro lastro econômico sólido! Parece que a fé nos títulos estadunidenses só é sólida nos gabinetes de Brasília, que mantém nossas reservas totalmente dependentes destes títulos, colocando o Brasil em posição de total vulnerabilidade, mesmo eu tendo apresentado dados e evidências em meus artigos que todos os países sérios estão ancorando suas reservas em ouro, e mantendo-o sob sua custódia.

Semana passada um general do Exército Brasileiro perguntou com que recursos compraríamos o ouro? Resposta: com os valores apurados na venda dos Títulos do Tesouro Americano, como vários países importantes estão fazendo. É uma troca de ativos. Não precisa colocar um centavo!

O redator da matéria citada acima continua: “Desde a crise financeira global de 2008, os bancos centrais mundiais reduziram em sete pontos percentuais a cota-parte da participação do dólar dos EUA na estrutura das suas reservas financeiras. Em 2018, os países em desenvolvimento foram particularmente ativos na venda de dólares e das obrigações do Tesouro (títulos públicos emitidos pelo governo do) Estado norte americano. Uns, para estabilizar suas próprias moedas, outros por causa dos inúmeros conflitos (especialmente a Rússia e a China) com Washington.”. – https://br.sputniknews.com/opiniao/2019082714437080-por-que-reino-unido-pede-ao-mundo-que-crie-alternativa-global-para-substituir-dolar/.

Uma matéria de 26/08/19, num site especializado, mostrou espanto no título ao constatar que no Brasil, mesmo havendo bons índices e tendo sido aprovada a reforma da previdência na Câmara e sinalizada a aprovação de outras, mesmo assim os estrangeiros mantiveram-se longe da Bolsa de Valores brasileira, retirando volume significativo de recursos.

Ele, surpreso, após dizer que o desempenho da Bolsa superou os 10% de ganhos desde o início do ano, assim se expressou: “Porém, o investidor estrangeiro se manteve – e ainda se mantém – fora da bolsa brasileira nestes oito meses. Até o momento o saldo do “gringo” no País está negativo em mais de R$ 21 bilhões, próximo de bater o recorde da série histórica iniciada em 1996”. Será que os investidores estrangeiros não gostam de ganhar dinheiro? Onde eles conseguiriam um ganho superior a 10% em oito meses? Estranho?

Bem, o redator segue em sua análise buscando uma explicação, perplexo e desorientado, vagando nos braços da especulação, sem mostrar evidências concretas. Todavia, o que vale são fatos, aos quais o redator se dobra mais a frente: “Por aqui, o estrangeiro, que hoje representa cerca de 44% do mercado, já tirou R$ 21,4 bilhões do mercado brasileiro este ano, sendo que metade, ou R$ 10,9 bilhões apenas em agosto até o dia 22. O resultado já supera o da crise de 2008, quando em oito meses saíram R$ 16,53 bilhões do Brasil via estrangeiros.” (grifo meu).

Retiraram R$ 10,9 bilhões em 22 dias do mês de agosto mesmo o Paulo Guedes e o governo se empenhando nas reformas! Como pode ser visto tivemos uma evasão de capitais maior que em 2008. Por que será?

Todavia, se os brasileiros continuarem a entregar suas empresas baratinho, então o capital aproveita a oportunidade, dá uma “mãozinha”, como ele nota quando se refere a entrada de capital via oferta de ações. Na crise vindoura vai ficar ainda mais barato. É conhecida a manobra de “fabricar” crises para desvalorizar ativos, e então comprá-los por um preço baixo de “oportunidade”. Vindo o Xeque-mate, e sem reservas que possuam liquidez, o Brasil precisará entregar seu patrimônio baratinho em troca de “divisas conversíveis”. Um dos personagens entrevistados representa o fundo de investimento BlackRock. Para bom entendedor isto basta. Para o cego todos as evidências, argumentos e números não bastam.

As três são peças importantes: o Bispo, a Torre e o Cavalo. As ideias preparam o ambiente e minam a resistência abrindo caminho para o consentimento, a economia precisa ser forte e independente para propiciar o “pão” que não pode faltar nas horas críticas, e as Forças Armadas precisam ser poderosas o suficiente para desestimular a cobiça externa sobre o patrimônio econômico, evitando que ocorra uma ação militar concreta de tomada hostil. O cavalo precisa estar treinado e operacional.

O general Maynard Marques de Santa Rosa deixou clara a situação da capacidade de combate do Exército Brasileiro ao dizer que ele só possui munição para uma hora de guerra e o General Carlos Alberto Pinto Silva, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter) acrescentou: “Nossa artilharia, carros de combate e grande parte do armamento foram comprados nas décadas de 70 e 80. Existe a ideia errônea que não há ameaça, mas se ela surgisse não daria tempo de reagir”.

Claro como a luz do dia, não cabem interpretações. Estas declarações foram feitas a sete anos atrás, em agosto de 2012, antes dos contingenciamentos que se seguiram. Fácil imaginar como está a situação hoje. Na semana passada o Comandante do Exército determinou o fechamento dos quarteis nas segundas-feiras de setembro de 2019 para economizar água, luz e comida, no momento que se discute as ameaças estrangeiras à nossa soberania sobre a Amazônia. Que “sinal” estamos passando ao mundo? Antes não tínhamos equipamento e munição, agora também não há comida para nossos soldados.

O Brasil é a oitava economia do mundo, conforme relatório do FMI referente a 2018 e possui o 12º maior orçamento militar do planeta neste mesmo ano, com US$ 27,8 bilhões, cerca de 1,5% do PIB. Vejam na companhia de que países abaixo estamos em termos de orçamento militar e comparem nossas capacidades militares com as deles.

Logo, pelos números apresentados na publicação, exceto se forem totalmente equivocados, o problema não é necessariamente recurso. Países economicamente muito menores, e com orçamentos militares inferiores como Israel (US$ 17,8 bilhões em 2017) e Turquia (US$ 14,9 bilhões em 2017), mantem Forças Armadas em condições operacionais excelentes, possuindo caças modernos e em número relevante, embarcações com tecnologia avançada, sistemas de baterias antiaéreas de última geração e força terrestre bem equipada e treinada, enfim, Forças Armadas capazes de dissuadir pretensões hostis e defender os seus interesses nacionais.

A questão também não se prende ao percentual do PIB aplicado. Neste quesito entendo que o Brasil até poderia investir mais, algo entre 2,5% e 3% do PIB, pois países como Israel investem mais de 5%, ainda que o cenário lá seja diferente. A questão aqui é possuir e manter Forças Armadas em bom estado operacional com o orçamento atual. E o que o Brasil investe não é nominalmente pouco, pois somos o 12º maior orçamento militar do mundo. Logo, o que está havendo? Onde está alocado o dinheiro? Óbvio que a conta não fecha e o peso dos inativos isoladamente, por si só, não explica a situação. Projetos classificados entram na equação e são conhecidos. A “teoria do canivete” fala por si.

Nosso “desastre” não é “fortuito”, é fruto da última estratégia de sabotagem definida em 1982, como já citei em artigo anterior. Organizações como a Open Society Foundation de Soros ou a Antifa são pontas de lança de algo maior.

Escrevo isso com tristeza e sei que os “vibradores” poderão ficar magoados. Frequento unidades militares rotineiramente e vejo pessoalmente. Minha família tem gerações de militares em duas das forças. Mas fingir que não acontece não vai resolver. Enterrar a cabeça na areia não vai evitar que a onda venha.

Alguém em sã consciência pode conceber que os estrangeiros não sabem de nossas fragilidades? Sinto dizer, mas eles conhecem a nossa realidade melhor do que a imensa maioria dos brasileiros, e por duas razões: tem agências de inteligência eficazes e não possuem um “túnel de realidade” com filtros tão limitantes.

É por isso que o atrevimento cresce diante da vulnerabilidade crescente e relevante do Brasil, como relatei no artigo “O xeque-mate só surpreende o incauto” quando narrei que o professor de Relações Internacionais da Universidade de Harvard, Stephen M. Walt, num artigo publicado dia 06/08/19 na revista online Foreign Policy, pergunta: “Quem vai invadir o Brasil para salvar a Amazônia?”. Como ele tem juízo deixa claro que, para o “crime” ambiental relativo a emissão de gases (cujos principais poluidores são EUA, China, Índia, Rússia e Japão) não poderia ser feito a mesma coisa porque “ameaçar qualquer deles com sanções possivelmente não vai funcionar e ameaçar com uma intervenção armada é completamente irrealista”; acrescentando que no caso do Brasil é diferente, usando o seguinte argumento: “Mas o Brasil não é nenhuma grande potência. Ameaçá-lo com sanções econômicas ou o uso da força caso se recuse a proteger a floresta poderia funcionar”.

Vejam que ele foca na Torre e no Cavalo, ou seja, sanções econômicas para dobrar ou derrubar o governo, e se necessário, o uso da força. Enfim, ele deixa claro que o Brasil é presa fácil. Com os demais países poluidores, que tem armas e Forças Armadas fortes, não se deve mexer.

Em julho de 2014, de acordo com a publicação “The Jerusalem Post” o Sr.Yigal Palmor, porta-voz do ministério das Relações Exteriores de Israel, num momento de excessiva sinceridade disse que o Brasil “continua a ser um anão diplomático”. Não era para ser assim. Se tivéssemos Forças Armadas fortes eles nos respeitariam.

Aqui também não se trata da Dialética Negativa usada pelos Globalistas como arma comportamental. Estou oferecendo fatos, evidências e números para chamar a atenção de algo que já chegou, está aí. Peguem as datas e conteúdo dos meus artigos da série Xeque-mate e confrontem com os acontecimentos. Toda causa tem efeito. A série de artigos que escrevi em 2013 e 2014 visava mostrar as causas para que não chegássemos neste momento, o dos efeitos ou consequências, nesta situação.

Com uma economia totalmente vulnerável e dependente do Capital Internacional, sem reservas que tenham liquidez, e Forças Armadas em estado operacional praticamente falimentar, o Brasil não tem muitas opções para reverter o cenário. Pode desgastar, tornar o preço mais caro, mas reverter não. Dois pilares do Poder Nacional estão no chão.

É claro que todo jogo tem dois lados e muitas peças. Umas mais relevantes outras menos, mas todas tem sua função. Entender o funcionamento do jogo, as características e intenções dos jogadores, seu “modus operandi” e conhecer sua real posição nele é o primeiro passo para virar o jogo. Os líderes brasileiros têm uma enorme dificuldade nesses quesitos. Pelo fruto se conhece a árvore. Como está a resultante destes 500 anos de nossa história? Somos um país soberano capaz de proteger os Objetivos Nacionais Permanentes contra quaisquer ameaças?

O Brasil está em uma posição privilegiada no Tabuleiro? Com que poder econômico e militar o Brasil emergiu dos anos setenta e com qual está hoje? Verifique o que aconteceu da década de oitenta para cá e veja se a “estratégia” brasileira, se é que há, está sendo vitoriosa? As respostas sinceras e imparciais a estas perguntas é o que importa, são elas que levam a entender os rudimentos dos oráculos. O resto é desculpa que não muda a realidade atual. O Brasil precisa de ação. O xeque-mate está à porta.

Para entender o jogo é necessário desenvolver certas “habilidades” individuais, que são fruto de procedimentos específicos desenvolvidos desde a década de quarenta. Não vem só de leituras, Relint ou aperfeiçoamento da TAD (Técnica de Avaliação de Dados). Apenas dados não viram informações úteis sem habilidades, não são suficientes.

Ter uma concepção adequada da forma como a força se distribui no tabuleiro é essencial, senão vital. Ser um gestor de parte da Earth Corporation não é ser acionista. O exercício do poder pode criar ilusões fatais, quando não se conhece onde está o Poder Real. Ser um Secretário de Defesa da maior potência do mundo dá a sensação de estar no Olimpo, imagine então ser o Presidente? Intocável, fabuloso, quase divino. A ilusão é forte, dominadora, anestesia a razão. Eisenhower, pela formação e idade, reconheceu o terreno e movimentou as peças devagar para sentir a reação. Reclamou, alertou, ensinou, mas percebeu que não era hora de forçar as fronteiras, tinha o entendimento.

No discurso de despedida da presidência ele mostra prudência e sabedoria – vide link. James Forrestal percebeu o movimento, pressentiu o perigo, mas já era tarde. Os conhecimentos que havia transmitido a J.K. (John Kennedy), logo após a Segunda Guerra Mundial, não foram suficientes para tornar aquele jovem talentoso em um prudente e sábio jogador, pelo contrário, ele forçou demais à mão sem ter cacife para a aposta. Pensar ser ou possuir não significa ser Real.

“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas” – Sun Tzu em “A arte da Guerra”.

O efeito dominó começou, na medida que a cada movimento um novo dominó cai e empurra outro para a queda seguinte!

Todo jogo acaba ou muda de fase. O xeque-mate se aproxima.

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Luiz Antonio Peixoto Valle é Professor e Administrador de Empresas.

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