No jogo sempre tem o papel de cada peça. Temos falado nos artigos anteriores sobre a Torre, o Cavalo e o Bispo, bem como sobre os Peões. Mas a Rainha é muito importante. Todo jogador perspicaz observa atentamente os movimentos da Rainha, quando consegue percebê-los. Se ela se move de forma explicita algo importante vai acontecer no jogo. Todavia, ela frequentemente prefere atuar nos bastidores, colhe dados, analisa, produz conhecimento, projeta, gera linhas de ação e induz ao movimento, permanecendo sempre sorrateiramente observando. Raramente se expõe, simula, dissimula, programa e induz para que outros arquem com o ônus ou bônus aparente de sua jogada, sendo o verdadeiro elixir final reservado a ela.

Naturalmente, eventualmente, algum ativo sente o impulso de ir além do papel destinado a ele no jogo. Toma conhecimento de algumas informações e entende que merece saber mais. Nestes casos, algumas vezes, as técnicas de compartimentalização de informações, alertas, avisos e vigilância não são suficientes. Entretanto, se manter a motivação para a cooperação do ativo for significativo, então alertas e avisos não são recomendados. O ideal é um procedimento denominado Bloqueio da Percepção do Todo. Ele não é excludente, pelo contrário, é includente e cooptativo.

Este procedimento possui algumas fases, que sinteticamente, podem ser descritas da seguinte forma: a pessoa ou ativo curioso é incluído em algum programa que deve ser descrito a ele como altamente sofisticado e confidencial, com acesso restrito a ativos rigorosamente selecionados, sendo ele um deles. Devem ser demonstradas tecnologias e “realidades” que o deixem fascinado, e tudo acompanhado de uma “causa” empolgante, como por exemplo, a defesa da humanidade de uma ameaça brutal. Se a isso puder ser adicionado uma pitada de patriotismo e heroísmo, como sempre é feito, fica ainda melhor. Após algumas semanas em contato com este “programa”, especialmente formatado, o ativo está pronto para receber a informação crucial: lhe é dito que ele está no “topo” da classificação de segurança e sabe tudo de importante que há para saber, exigindo-se em contrapartida apenas sua lealdade e dedicação.

A partir deste ponto o ativo irá introjetar a “programação”, incorporando-a à sua psique, uma vez que ela ressoa com os seus padrões mentais do subconsciente e inconsciente. Tudo que ele precisava foi atendido: sentir-se um ativo valorizado, diferenciado, digno de receber um conhecimento que os “outros” não tem. Seu Ego adere imediatamente a esta abordagem. Paralelamente seus ideais de bem servir, patriotismo e a possibilidade de ver-se como um herói lutando por uma causa nobre, ainda mais de forma “anônima”, geram a “identificação” necessária, fortalecendo o elo emotivo. A racionalidade do processo, numa abordagem rasa, atende perfeitamente aos questionamentos de primeira hora.

Assim, deste ponto em diante, ocorre o Bloqueio da Percepção do Todo, ele somente “vê” o que lhe foi mostrado, sem perceber o todo, e ninguém poderá convencer este ativo de outra abordagem. Isso torna-se impossível por dois motivos: pelo “sigilo” que impede a terceiros o acesso ao ativo e sua exposição, e também porque ele se nega a comentar tais fatos, sem permitir o contraditório, uma vez que está sob juramento de sigilo. Ele acredita realmente que sabe tudo de importante que há para saber e nada mais há.

A vantagem do processo para a Rainha é que ele passa a não perguntar mais nada, não pesquisa nada, porque em tese já sabe tudo. Seus filtros do Túnel de Realidade tornam-se quase impermeáveis, robustecendo sua Imunização Cognitiva. Sempre lhe será reforçada a percepção de que ele sabe tudo e que ele é “especial”. Todavia, a tecnologia que lhe foi mostrada não é de ponta, as “realidades” que lhe são expostas foram manipuladas, as informações que recebeu estão longe de serem as da classificação de segurança mais elevada e ele é um ativo mediano, e não top como pensa. Sempre haverá um Plano B se a sua “curiosidade” voltar.

A Torre se move na dinâmica imposta pela Rainha, caminhando para o Xeque-mate. Na semana passada foi feito mais um check point. Como já comentei no artigo anterior o FED (Federal Reserve – Banco Central dos EUA) precisa desesperadamente manter os juros baixos. Isso tem sido feito de forma artificial, através de manipulações do mercado, que não refletem a dinâmica real da economia. Na economia americana consumidores, Governo e empresas estão altamente alavancados por anos de empréstimos a juros baixos, sem contrapartida em garantias de ativos reais. As receitas geradas estão abaixo da capacidade de saldar as dívidas (vide artigo anterior). Ao permitir este cenário o FED está criando uma bolha maior que a de 2008, cujos primeiros traços de rompimento apareceram na semana passada (vide https://schiffgold.com/videos/peter-schiff-the-next-crash-could-bring-down-the-fiat-money-system/).

Pela primeira vez, desde 2008, o FED de NY foi obrigado a materializar, na semana passada, uma intervenção de emergência no mercado de recompra,  realizando o que é denominado de “operação compromissada noturna” (uma operação, em sua forma,  parecida com o nosso “overnight” da década de oitenta) durante a qual o FED (Banco Central) tenta minimizar a pressão nos mercados comprando títulos do Tesouro, bem como  outros títulos, para garantir a liquidez. Esta intervenção começou no início da semana com US$ 53 bilhões, e depois foi a US$ 75 bilhões, com as posições fechadas diariamente – https://edition.cnn.com/2019/09/18/business/ny-fed-overnight-lending-rescue/index.html. Como Michael Snyder explica: “O mercado de recompra desempenha um papel crítico em nosso sistema financeiro, porque permite que nossos bancos tomem dinheiro emprestado rapidamente, e esse dinheiro é frequentemente usado para comprar instrumentos financeiros, como títulos do Tesouro” vide http://theeconomiccollapseblog.com/archives/major-red-flag-the-fed-shocks-everyone-with-an-emergency-intervention-in-the-repo-market-for-the-first-time-since-2008. Veja que este mercado que foi socorrido, precariamente e momentaneamente pelo FED, influência o valor dos Títulos do Tesouro que compõe de forma majoritária a reserva externa do Brasil.

Esta foi considerada uma intervenção que mostra rupturas no dique. “É sem precedentes, pelo menos na era pós-crise”, disse Mark Cabana, estrategista de taxas do Merrill Lynch do Bank of America – vide https://edition.cnn.com/2019/09/17/business/overnight-lending-rate-spike-ny-fed/index.html.

A pergunta é: até quando o FED vai suportar fazer intervenções cada vez maiores para manter as taxas de juros artificialmente baixas? Até quando ele consegue segurar a bolha? Será que ele vai querer segurar a bolha ou está esperando o momento certo para estoura-la?

Como dito no início a Rainha planeja, e a execução fica para as outras peças, notadamente os peões. As vezes o peão segue numa direção e, ao olhar ligeiro, parece ter sido “empurrado” de um determinado ponto, mas muitas vezes foi de outro. É necessário ir mais fundo nas análises. Recentemente foram divulgados documentos da CIA onde ficou claro que o bilionário George Soros estava financiando e direcionando Mikhail Gorbatchov durante seu movimento para extinguir a União Soviética, através de uma ONG (de fachada da CIA), conhecida como Instituto de Estados de Segurança Leste-Oeste (IEWSS, sigla em inglês) – vide http://razonesdecuba.cubadebate.cu/articulos/gorbachov-se-confiesa-el-objetivo-de-mi-vida-fue-la-aniquilacion-del-comunismo/?fbclid=IwAR0bki9tOiX2hKfzyiKu839481yC6EA97k3962Md77I5itFqFZw0kxvuWcM#.W0aSAWFvB22.facebook. A “esquerda” sempre trabalhará pensando estar servindo aos seus objetivos doutrinários, mas a “mão” que a conduz tem outra agenda. Sem dinheiro não há “revolução”.

As ações que estamos vendo no Brasil fazem parte de um contexto maior. Para soluções globais é necessário que existam problemas globais. As “queimadas” propositais, a mobilização da esquerda e da mídia, e tantos outros movimentos, preparam o terreno do jogo local, que está inserido no jogo maior.

Uma grave crise econômica, provocada pelo cenário que venho mostrando (fim do dólar como ancora, crise da dívida nos EUA, criação de uma nova moeda internacional que reflita um mundo multipolar, etc….) pegará o Brasil bastante vulnerável, e está sendo desenhada sobre medida, no caso brasileiro, para provocar desabastecimento e convulsão social. Em seguida virão as agitações, para as quais a “esquerda” é peça-chave, sendo financiada pelas organizações de sempre, e deverão estar sincronizadas com o Xeque-mate. A questão social correrá no estilo de “primavera árabe”.

Após a crise implantada o Brasil não terá reservas internacionais com liquidez para comercializar produtos, uma vez que os Títulos do Tesouro Estadunidense serão seriamente afetados. Neste cenário sobrará ao Brasil alienar seus ativos (estatais, reservas minerais etc.) pelo preço de ocasião para receber pagamentos na nova moeda a ser implantada, e assim voltar a poder comprar no mercado internacional. Os ativos se desvalorizarão tremendamente e as Estatais serão compradas por um preço baixo. O débito será feito na conta do Presidente Bolsonaro. Que Brasil emergirá depois? Bem, depende do que for feito agora.

“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas” – Sun Tzu em “A arte da Guerra”.

O efeito dominó começou, na medida que a cada movimento um novo dominó cai e empurra outro para a queda seguinte!

Todo jogo acaba ou muda de fase. O xeque-mate se aproxima.

Luiz Antonio Peixoto Valle é Professor e Administrador de Empresas.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros




Como você se sentiu com essa matéria?
Indignado
0
Indignado
Indiferente
0
Indiferente
Feliz
0
Feliz
Surpreso
0
Surpreso
Triste
0
Triste
Inspirado
1
Inspirado

Principais Manchetes