A eleição extemporânea realizada ontem no Estado do Tocantins, para eleger um novo governador, em mandato tampão, até as eleições de outubro, quando o eleitor tocantinense elegerá um novo , ou até mesmo reeleja o mesmo, dão a exata dimensão das peculiaridades e sandices da nossa legislação eleitoral. Não cabe na cabeça de qualquer cidadão que essa nova conta também seja paga por todos nós. Sim, todos nós, pois os recursos ali gastos – e não foram poucos – provêm do Orçamento da União através do TSE. Coisas do Brasil!!!

O resultado mostrado pelas urnas no estado vizinho nos dá uma pequena amostra do que teremos pela frente: um eleitor extremamente insatisfeito com a situação política que vivemos. O número de votos brancos, nulos e abstenções chegou a 49,33%, ou seja, quase a metade do eleitorado. Os dois que foram para o segundo turno somaram 302.033 votos , número bastante inferior aos 443.414 que, sem qualquer esperança, recusaram-se a escolher alguém que os representasse. Esse é o sentimento que vive o brasileiro de uma forma geral: pensam que não vale a pena votar para continuar tudo do  jeito que está.

O candidato mais votado no primeiro turno, Mauro Carlesse, é o maior colecionador de processos judiciais no Estado. Juntou-se ao ex-governador Siqueira Campos, também possuidor de vasta ficha judicial. Participou da eleição, também, o juiz mentor da Lei da Ficha Limpa, que amargou um triste quinto lugar com 9,91 dos votos válidos. A senadora Kátia Abreu, com apoio de Lula, ficou em quarto lugar com 15,66 % dos votos válidos.

Em outubro serão eleições gerais e a impressão de que se tem é que o exemplo de Tocantins,  com essa eleição fora de hora, é apenas uma amostra do que vem por aí… Além de Presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e deputados estaduais e é impressionante como a situação nacional se reflete no Estado. Assim como até agora não surgiu um candidato a presidente que encante e devolva a esperança de dias melhores ao eleitor, pela bagunça que vivemos nos últimos anos, com a economia quase a pique, desemprego nas alturas, políticas sociais inexistentes, culminando com uma greve de caminhoneiros que absurdamente parou, literalmente, o país, mostrando o tamanho da nossa fragilidade, o mesmo acontece no nosso Estado.

A falta de planejamento estratégico nacional repete-se aqui. Não há políticas de governo que preparem o Estado para o futuro. Os candidatos, a começar pelo próprio governador que não disse a que veio e nem mostra, como os demais, o que pretendem fazer de diferente na gestão futura.

Será que vão mentir de novo sobre a saúde, segurança, transporte e educação? O pior é que é isso, de verdade, o que o povo imagina, pelo nível de corrupção que se espalha no Estado em todos os poderes. Um ou mais escândalos novos a cada dia, além de dúvidas plantadas diariamente por toda a imprensa, sem contar as conversas em rodas de gente muito bem informada, de que o afastamento do governador virá por determinação do STJ, a pedido da Procuradora Geral da República, pelo escândalo, o maior da sua gestão: A Grampolândia Pantaneira.

Sete mil telefones de amigos, inimigos, mulheres de amigos, amantes de inimigos, além de deputados, juízes, procuradores, conselheiros do TC, jornalistas, enfim, qualquer cidadão que tivesse um celular preenchia o requisito para entrar na lista criminosa da Grampolândia, suspeita de ser liderada pelo  primo, Chefe da Casa Civil de então. Além dele, outros secretários, altos membros da cúpula da PM foram presos. Fomos, mais uma vez, líderes do noticiário político/policial do Brasil.

E os outros candidatos? Até agora nenhum, nessa época que resolveram chamar de pré-candidatura, deixaram de se dedicar à campanha que fazem normalmente sem prestar contas –  muitos com o dinheiro público -. Nenhum apresentou uma linha, sequer, que justifique o porquê de o eleitor  votar nele  e não em Taques. Corre-se o risco de se manter o atual governador, que também faz pré-campanha com dinheiro público – e muita -, encoberto pelo “grandioso” programa de saúde, apelidado de Caravana da Transformação, além de outros usos da “máquina” com fins eleitorais.

Surpreendentemente, cientistas políticos afirmam que a renovação nacional vai ser inversamente proporcional aos escândalos vividos. Ou seja: no entender desses, será a menor renovação de todos os tempos. Então prepare-se, eleitor: não votar, votar branco ou nulo é dar vida a todos que estão aí, tornando verdadeira a hipótese de renovação mínima acima levantada. Teremos mais quatro anos de chorumelas e lamentações por nossa única e exclusiva culpa. Pelo que temos hoje, não há tempero que conserte esse sabor de bílis.

*Ricarte de Freitas é advogado, analista político e ex-parlamentar estadual e federal

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