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O que os municípios da fronteira em MT têm a aprender com Foz do Iguaçu?

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O que os municípios da fronteira em MT têm a aprender com Foz do Iguaçu?
Foto: Christian Rizzi/Gazeta Do Povo

A principal cidade paranaense da linha de fronteira é bastante diferente da principal cidade fronteiriça de Mato Grosso. Enquanto Cáceres diminuiu apenas 11% o número de homicídios, Foz do Iguaçu reduziu o mesmo índice 50%, segundo informações do Atlas da Violência de 2017.

A princesinha do Paraguai, principal e maior cidade da fronteira em Mato Grosso integra o grupo de quatro municípios cujos territórios fazem limite com a Bolívia. Mesmo com alto potencial turístico, essas cidades ainda estão expostas ao tráfico de drogas.

Foz do Iguaçu, que ficou marcada não só por suas lindas cataratas, ganhou fama também como capital do contrabando, do tráfico de drogas e de armas. Com uma escalada crescente de violência, a cidade viveu seu pior momento em 2010, quando foi considerada a 12ª mais violenta do país.

O jogo mudou com o alto investimento em segurança pública e foco no turismo. De acordo com dados do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), os investimentos em segurança chegaram a R$ 6,17 bilhões em 2016. Com a diminuição da criminalidade, os turistas chegaram com mais facilidade e menos temor.

“Há alguns anos os nossos hotéis nem sequer tinham camas, eram usadas para guardar mercadorias ilegais e drogas. Nossa então pequena rede hoteleira era usada dessa forma. Hoje o cenário é outro e nos tornamos a terceira cidade que mais recebe turistas no país”, contou Rafael Dolzan, chefe da Receita Federal na cidade, durante o Encontro Nacional de Editores, Colunistas, Repórteres e Blogueiros, que tem a participação do LIVRE.

Com uma fronteira maior do que a do Paraná, de 938 quilômetros, as cidades da linha e da faixa de fronteira em Mato Grosso têm apenas um posto de fiscalização na fronteira da Polícia Federal, em Cáceres, enquanto a aduana paranaense conta com postos em Foz e em Guaíra para uma fronteira quase duas vezes menor, de apenas 447 Km.

“Foz é um case de sucesso. Eu costumo dizer que somos o local da fronteira com talvez maior número de policiais. E os criminosos percebem isso e acabam procurando outras rotas. No caso de Mato Grosso, o tráfico de cocaína é muito forte”, explica Fabiano Bourdon, chefe da delegacia da Polícia Federal de Foz do Iguaçu.

As ações de segurança na cidade paranaense tiveram impacto também durante os preparativos para a Copa do Mundo, em 2014. O espectro do terrorismo, que ronda a tríplice fronteira, preocupou o governo e garantiu mais investimentos.

Os números positivos são também resultado da efetividade no combate ao contrabando. A Receita Federal na cidade aumentou o número número de operações integradas e contínuas, que chegaram a durar mais de 120 dias.

Mas, na avaliação dos especialistas ouvidos pelo LIVRE, o crescimento do número tanto de apreensão de drogas e armas, quanto de mercadoria ilegal, tem um efeito muito pontual, uma vez que traficantes e contrabandistas podem migrar para outras regiões de fronteira.

“Cáceres e toda fronteira de Mato Grosso com a Bolívia pode se tornar um território ainda mais vulnerável”, avisa Bourdon. Mato Grosso tem quatro municípios na linha de fronteira e outros 28 na faixa de fronteira – áreas que demandam um cuidado mais especial.

Neste território, a Polícia Federal atua diretamente com um efetivo baixo, de aproximadamente 50 homens atuando em cinco setores diferentes. A Polícia Militar conta com 90 integrantes do Grupo Especial de Segurança na Fronteira (Gefron) trabalhando diretamente na região.

Turismo
O comércio legal com o Paraguai e o turismo são uma das principais fontes da economia iguaçuzense. Com um IDH considerado bom, de 0,751, Foz é uma cidade composta por moradores de 72 grupos étnicos diferentes e que vive do turismo.

Em 2018, Conselho Municipal de Turismo de Foz do Iguaçu (Comtur) aprovou a destinação de R$ 38,8 milhões para o desenvolvimento de iniciativas de promoção e divulgação do Destino Iguaçu. A concessionária Itaipu Binacional é responsável por R$ 24 milhões, o que corresponde a 62% do valor total. O restante dos recursos tem como fonte a prefeitura e a captação junto à iniciativa privada.

O investimento é em busca de um retorno que dificilmente falha, até porque mais da metade da receita do município vem de fontes externas. A proximidade com Cidade Del Este aquece o comércio, que atrai muitos brasileiros interessados em comprar do outro lado da fronteira.

“Grande parte da nossa receita vem do turismo e dos royalties que a concessionária do Parque Nacional e da Itaipu pagam. E tem gente que visita a cidade também para fazer compras e quem vem para comprar aproveita também os atrativos turísticos”, explica Ana Fonseca, guia de turismo nascida e criada na cidade.

Em Mato Grosso a história é bem diferente: com a economia voltada à agropecuária, cidades como Cáceres aproveitam bem pouco o potencial turístico, a proximidade com o Pantanal, com a Amazônia e com a majestosa Serra de Ricardo Franco, na fronteira com a Bolívia. Parte do perímetro urbano da cidade foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2010. Além do Centro Histórico, foram tombadas fazendas, usinas, e sítios arqueológicos.

Apesar do potencial cacerense, o Ministério do Turismo calcula que Cáceres tenha um índice de competitividade de nível 3, abaixo da média geral brasileira e da média geral de não-capitais. Já Foz, está no nível 4, com um ponto a menos do nível máximo e acima das demais médias.

O diagnóstico revelou que o maior problema da cidade pantaneira é em relação ao marketing e à divulgação do turismo. Segundo o relatório, o foco na pesca esportiva, bastante sazonal, poderia ser menor, privilegiando o ecoturismo.

A cidade paranaense, no entanto, chegou ao nível máximo de divulgação e promoção dos atrativos turísticos. Segundo relatório do governo, Foz conseguiu realizar uma “gestão integrada”, composta por órgãos públicos, iniciativa privada e entidades engajadas em realizar as ações definidas.

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