Crônicas Policiais

“O que eu quero é que a Justiça seja feita”, diz mãe de crianças assassinadas

Crime aconteceu há 16 anos, em Cuiabá, e as investigações devem ser reabertas após o principal suspeito ser absolvido por falta de provas

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“O que eu quero é que a Justiça seja feita”, diz mãe de crianças assassinadas
(Ilustrativa/Pixabay)

A expectativa era sair pela porta do Fórum de Cuiabá com o sentimento de “justiça feita”. A realidade foi outra: o chão sumiu com o veredito de absolvição do suspeito pelo crime. Agora, Maria Inês de Araújo, 49, revive toda a dor, ainda mais forte, de ter perdido dois dos quatro filhos: Kelly Araújo da Silva, 13, e Keverson Araújo da Silva, 8.

“As crianças não mereciam o que foi feito com elas e nenhuma mãe merece, também, viver isso que eu vivo há tanto tempo”, ela diz, ainda sem saber quem foi o responsável por tamanha atrocidade.

Memória dolorosa

Auxiliar de serviços gerais, Maria Inês trabalhava bastante para conseguir sustentar os filhos. Era pouco o tempo que conseguia ficar em casa. Até que, em dezembro de 2004, perdeu o casal de filhos mais novos.

Kelly e Keverson foram encontrados enterrados próximo ao Rio Cuiabá, no Jardim Colorado.

À época, a família morava com os pais de Maria Inês, no bairro Santa Isabel. O avô resgatou a filha e os netos de um ambiente conturbado. “O pai das crianças bebia muito e judiava de mim”, ela conta.

Sobre Kelly, a mãe conta, era uma garota muito acanhada, mas já dava sinais de querer conhecer o mundo fora de casa. Uma vez, Maria Inês até a repreendeu e avisou dos perigos que poderiam existir da porta para fora.

“Disseram no julgamento que ela tinha muitos namorados. Eu não sabia disso, porque eu não conseguia ficar de olho o tempo todo, por conta do trabalho”, lamenta.

Já Keverson ainda vivia grudado à mãe. “A gente era muito apegado um ao outro”.

A saudade fica ainda maior porque Maria Inês ainda vive na mesma casa, mas agora sem o outro casal de filhos, que já seguiu o próprio caminho. Também sem os pais, que faleceram.

Suspeito absolvido

Passados quase seis anos das mortes, o vaqueiro Jovelino Lopes Viegas foi preso e apontado como o suposto autor dos crimes. À época, em 2010, quando foi ouvido pela Polícia Judiciária Civil (PJC), chegou a fazer uma confissão. Mas era por outro duplo assassinato, ocorrido em janeiro de 2005, em General Carneiro (a 452 km de Cuiabá).

O delegado Adilson Gonçalves, que atuava em Barra do Garças (519 km de Cuiabá), e interrogou o suspeito, lembra que percebeu que a narrativa se mostrou bastante truncada.

Nos relatos, o homem sempre se remetia ao crime praticado contra as irmãs Kelly Priscila da Silva Rosa, 13, e Luana Natielly da Silva Parteck, 8. Jovelino, inclusive, cumpre pena por essas mortes.

“Ele apresentava dificuldade em se localizar no tempo e no espaço. Não me lembro quem era o delegado de Cuiabá que estava com o caso, mas avisei pessoalmente sobre essa confusão”, afirma Gonçalves, hoje delegado aposentado.

O julgamento do vaqueiro aconteceu 11 anos após a prisão, nesta semana. O Ministério Público Estadual e a Defensoria Pública pediram a absolvição de Jovelino. Alegaram as  inconsistências das provas.

“Quando eu o vi, eu chorei. Chorei por tristeza pela morte das crianças e por pensar no que elas passaram”, comenta Maria Inês. “Tudo isso mexeu e mexe muito com o meu psicológico”, afirma.

(Foto: Reprodução)

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Retomada das investigações

Com a absolvição de Jovelino, o MP solicitou a retomada das investigações da morte de Kelly e Keverson. À época do crime, o pai das crianças chegou a ser considerado um suspeito. “Isso foi dito quando aconteceu, mas ninguém falou mais nada ou provou”, lembra Maria Inês.

A auxiliar de serviços gerais espera que as apurações sejam mesmo retomadas, mas se mostra temerosa em não conseguir ver um final para essa história. “A justiça é muito lenta, levou tanto tempo para chegar até ontem e olha o resultado”, diz entristecida. “Talvez, se tivéssemos dinheiro, já teriam ido atrás”.

A PJC informou que ainda não recebeu nenhuma notificação judicial para a reabertura do caso.

“A gente cuida tanto, dá amor e chega alguém para fazer isso. É absurdo. É preciso fazer justiça”, cobra a mãe.

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