Em 1973, morando em Brasília, caiu-me por acaso nas mãos o livro “O Despertar dos Mágicos – uma introdução ao realismo fantástico”. Escrito pelos sociólogos Louis Pawels e Jacques Bergier. Mexeu muito com as minhas crenças juvenis. Ele não trazia teorias nem pregações. Mas desmontava com precisão cirúrgica toda a lógica da minha formação religiosa iniciada lá na família mineira do interior, reforçada em colégio religioso católico e mais tarde nas vivências da moral pregada pelos dogmas.

Os dois autores, um norte-americano e o outro francês, tinham um prazer mórbido em mexer nos meus pobres neurônios. Não que eu tenha compreendido toda a profundidade do livro. Mas bastou para desmontar os meus cânones pessoais e me jogar no acaso das buscas. Nunca mais tive sossego.

Já tinha uma boa formação em História antiga e medieval. Somada à formação na história brasileira, comecei a enxergar conexões para todos os lados. E a enxergar alguma coisa fora do quadradinho da racionalidade. Os dogmas tornaram-se discutíveis. Confesso que tudo isso é muito sofrido. O intervalo entre as minhas crenças anteriores e uma possível nova posição, me deixavam muito angustiado. Meu pai questionou-me severamente a respeito. Não tinha como explicar-lhe sobre as minhas buscas e angústias existenciais. Elas são muito particulares e não se expressam por palavras. Senão por dor mesmo!

Eis que mudo-me pra Mato Grosso em 1976. No processo da divisão do Estado entre 1976 e 1979, deparei-me com estranhas coincidências que me incomodaram mais ainda. Tipo as profecias do sacerdote católico Dom Bosco, em 1896.

Segundo ele, a região Centro-Oeste do Brasil, entre os paralelos 15 e 18, próxima à cidade onde tem um lago (Brasília), se transformará no novo coração do mundo. E assim, as coincidências foram se construindo e minha cabeça subindo e descendo dentro desse tobogã de possibilidades sobre o futuro.

Já conhecia profecia de Dom Bosco desde Brasília. Aliás, a cidade é profundamente ligada ao sonho de Dom Bosco, que originou a sua profecia.

Em Mato Grosso, acompanhei passo a passo todas as evoluções anteriores e posteriores à separação física entre as regiões Norte e Sul. Separou-se muito mais do que territórios. Separaram-se culturas paulistas, mineiras e gauchescas, mais a influência guarani-paraguaia do Sul. Do Norte, a cultura garimpeiro, india borora, africana, cabocla paulista e portuguesa de bandeirantes ávidos por ouro.

Dividiu-se o Pantanal, os cerrados, as serras da fronteira seca com a Bolívia, a música chorosa das missões sulistas, e o escracho da alegria do Norte. Lá, restos da guerra com o Paraguai assombrando polcas e guarânias misturadas às dores da Guerra gaúcha dos Farrapos de 1875. No Norte o triste Chorado das mulheres escravas de Vila Bela da Santíssima Trindade. No mais os gingados a São Benedito na cultura afro-cuiabana.

Gentes também se dividiram. Morenos cá misturados e remisturados, guaranis de lá e gente loira sem se misturar. Campos gerais lá, cerrados tropicais cá.

Enfim, tema pr’outras prosas e a sua ligação com os tempos novos que virão por aí…

Assinatura Coluna Onofre

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