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O mistério da morte de Mané Boiadeiro, o Robin Hood cuiabano

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O mistério da morte de Mané Boiadeiro, o Robin Hood cuiabano

Francisco Chagas Rocha/Acervo

Mané Boiadeiro, o mais famoso criminoso de Cuiabá

Recorte de edição do Jornal do Dia cedida pelo colecionador Francisco Chagas Rocha. Reportagem de 1985 relembra Mané Boiadeiro como o “Robin Hood” de Cuiabá.

Muito antes do comboio chegar na cidade a rádio Voz Do Oeste já anunciava o grande feito da polícia: “Mané Boiadeiro foi morto!”, gritava estridente o locutor da emissora. A notícia vinha como um alívio para muitos cuiabanos, que viviam anos de terror com a presença e as histórias do maior criminoso de Cuiabá.

Mané ou Manoel Boiadeiro era um cuiabano cafuzo com pouco mais de um metro e meio de altura. Os assaltos e os assassinatos o tornaram um mito em Cuiabá na década de 1950 e 1960. Ele capturava gado de grandes fazendas e, segundo alguns, matava os proprietários que resistiam ao roubo. O bandido tornou-se ainda mais temido depois das sucessivas fugas da polícia.

“Não se saía de casa à noite. O que se falava é que a mãe dele fazia reza e que com isso ele conseguia fugir dos policiais. Quando a polícia vinha ele se transformava em toco, em cachorro preto ou desaparecia, mas ninguém pegava”, conta Irene Oliveira Rodrigues, hoje com 73 anos.

“A gente andava na rua com medo porque ligava o rádio e uma hora ele estava no Araés, outra hora no Coxipó e outra hora em Várzea Grande. Aí começaram a dizer que a polícia cercava ele, ele virava um cachorro preto e fugia. Eu ficava com muito medo”, reitera o funcionário público aposentado José Soares, com 70 anos de idade.

Soares e Irene estavam no meio da multidão que assistiu à chegada do comboio. A caminhonete da polícia desceu o Morro do Seminário em direção à Prainha. A cabeça do morto pendia ensanguentada na carroceria do automóvel e o corpo de Mané era exibido com orgulho para a população.

O desfile fúnebre seguiu na avenida Getúlio Vargas até o cemitério da Piedade. A polícia usou a estrutura de um pequeno necrotério que havia por lá para continuar exibindo o bandido derrotado. Não contavam, porém, que muitos dos que foram assistir ao desfile conheciam pessoalmente Mané Boideiro.

“O corpo ficou por lá um bom tempo, mas todo mundo que entrava para ver saía dizendo que não era ele. Era um homem alto e barbudo e mais branco. O Mané era bem negro e baixinho”, relembra Irene.

Robin Hood Cuiabano

O fato de ter o “corpo fechado” fazia de Boiadeiro um herói das classes mais baixas, como se fosse imbatível para aqueles que não tinha muito como enfrentar os mais poderosos. Enquanto para alguns ele era um facínora assassino e impiedoso para outros Mané agia como um “Robin Hood” cuiabano.

“O Manoel era tropeiro que vinha do antigo bairro de Barcelos, ele roubava dos ricos de Cuiabá para ajudar os menos favorecidos, pegou esta fama porque os incomodava”, conta Wilson Segóvia, que diz ter conhecido o famoso herói pessoalmente.

Na edição de 29 de dezembro do Jornal O Dia, uma reportagem especial é dedicada a Mané Boideiro. No texto intitulado “O Robin Hood cuiabano”, um dos entrevistados ressalta: “Ele roubava para dar aos outros, não ficava com nada.”

Mas há quem discorde dessa fama. Muitos dos que viveram na época dizem que Boiadeiro não era só um ladrão de gados. De acordo com estes relatos, o criminoso assassinava os fazendeiros da região a sangue frio. sem dar qualquer chance de defesa. 

“Ele era um facínora, um assassino. Foi o responsável pela morte do senhor José de Oliveira e quase matou também a esposa dele, Rita de Oliveira. Ela viveu anos com uma perna amputada pelo tiro que levou após o assalto na fazenda onde eles viviam”, recorda Irene Rodrigues, que diz ter conhecido pessoalmente os familiares das vítimas de Mané. 

Mito e realidade

Segundo o historiador Aníbal Alencastro, é difícil distinguir o que é lenda e o que é verdade na história de Mané Boiadeiro justamente por conta da dificuldade de se obter informações à época e da velocidade com que os boatos se espalhavam. Mas uma coisa é real: o corpo exibido pela polícia não era o do mais procurado criminoso daqueles tempos.

“A polícia tinha um medo enorme dele. E essa caçada se tornou também uma questão de honra. Por isso é compreensível que eles tenham matado o homem errado”, comenta ele.

Se é assim, resta uma dúvida: quem foi morto no lugar de Mané? Mané ainda está vivo? Se está, onde mora e se esconde? 

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