Esta semana, recebi a notícia de que a Editora Abril fechara uma dezena de revistas e demitiria centenas de empregados. A história, mesmo de longe, já me deixaria triste. Qualquer jornalista brasileiro sonhou um dia trabalhar em alguma publicação do grupo. Agora, muitos desses colegas de profissão que alcançaram seu sonho não terão mais emprego. Um verdadeiro pesadelo que atinge o jornalismo.

Mas minha história com a Abril é mais pessoal e vai além do noticiado esta semana.

[featured_paragraph]Começou quando eu era muito nova e viciada nos gibis da Turma da Mônica. Ficava estática só de passar pelo prédio da editora que publicava minha leitura favorita e imaginar o que estava sendo impresso nas próximas edições. Quem eram aquelas pessoas criativas que conseguiam me entreter por horas e horas?[/featured_paragraph]

Continuou quando, anos mais tarde, descobri que era o local de trabalho do meu tio. Ele não criava meus gibis preferidos, mas colocava seu talento na edição da revista que eu via nas mãos dos adultos, a Veja. Com alguém da família dentro da editora, aquele prédio começou a entrar cada vez mais dentro da minha vida.

Seguiu com minha paixão pela Capricho, a revista que me acompanhou durante os anos turbulentos da adolescência. A publicação era minha companheira silenciosa — dava todas as respostas através das perguntas que eu não queria fazer nem para minha melhor amiga.

E se consolidou quando me tornei, aos 19 anos, estagiária da NOVA/Cosmopolitan, uma das revistas que fechou esta semana. Na NOVA, passei para o outro lado. Em vez de leitora curiosa, passei a fazer parte do time de profissionais que buscava atender aos desejos e questões da mulher moderna.

Se eu me achava ousada quando comecei a trabalhar na revista, tive logo que rever meu conceito conforme vivia a publicação que falava sobre sexo com a mesma naturalidade que de uma receita culinária. NOVA ensinava o empoderamento feminino muito antes de ser moda.

Dentro da revista, eu me transformei. Abri a mente, venci preconceitos, mergulhei em assuntos considerados tabu, me expus, mas, principalmente, aprendi. As mulheres com as quais trabalhei eram mulheres de NOVA mesmo, bem à frente de nosso tempo. A revista foi minha escola. De vida e de profissão.

Mesmo em outro país, continuei a seguir as revistas da editora.

O jornalismo brasileiro perdeu um pouco do brilho e do colorido com o fechamento das publicações. Para mim, o fim da NOVA é o fim de uma era. Não só para as mulheres, mas para minha vida também. Eu me despeço da revista com uma lágrima e minha gratidão.

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