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“O corpo descoberto é matéria-prima”, diz o “artista etcetera”, Lucas Koester

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“O corpo descoberto é matéria-prima”, diz o “artista etcetera”, Lucas Koester
Foto: Aruã Calil

Por Amauri Lobo
(Especial para O Livre)

Nestes dias de noites frias e dias quentes, nossa Cuiabá se mostra um pouco mais bucólica. Da perspectiva envolvente do quintal do Espaço Mosaico, em uma tarde de sol, converso com Lucas Koester, artista que vi crescer na cena, por aqui e por ali, até que ele retornou de uma longa estadia em São Paulo com três trabalhos pra lá de interessantes nas mãos: #Nudes, Catastrophe e Bicha Tombada.

A propósito, #Nudes estará em cartaz nesta segunda e terça-feira (10 e 11), em duas sessões, às 19h e 20h30. Vai ser na Sala Anderson Flores, no Cine Teatro Cuiabá e o ingresso – sugerido – é R$ 10,00. Conheça, ou reconheça, este artista que matura sua arte bem diante de nós, agora mesmo, sob o sol cuiabano, ou pelas esquinas de São Paulo.

Lucas, quem é Lucas?

Há um tempo atrás fiz uma oficina de residência artística com Jorge Alencar e eles nos instigavam a fazer currículos honestos e diretos. Selecionar aquilo o que realmente a pessoa usa para se apresentar. Então, eu diria que Lucas Koester é uma pessoa do corpo, que pensa o corpo e como se mover e que fez a sua grande estreia dançando uma coreografia do Molejo – e coreografando os primos – para uma plateia de família alemã, num natal, quando tinha sete anos de idade. Sempre fui interessado em me movimentar e com um fascínio muito grande pela imagem. Sempre fui meio vendido por imagens… Eu tinha um pôster onde estava escrito “I hate design” que era pra eu me lembrar de comprar menos… Por isso mesmo acabei me aproximando da moda e, academicamente, eu me formei em Moda. Mas, também estudei um pouco de artes visuais e, de certa forma, creio que meu trabalho está dentro desta relação de corpo como moda. Um corpo que pensa a construção de imagem.

O que Lucas Koester faz?

Eu faço umas gambiarras de estilo, umas fotos de má qualidade, eu tropeço em escadarias e eu danço. Também produzo os amigos, mexo com design… Sou um “artista etcetera”, como diria o Ricardo Basbaum.

O que Lucas Koester não faz?

Hmmmm… Talvez eu esteja mentindo, mas também pode ser o projeto do que eu não quero fazer. Não quero ser uma pessoa que reclama e que é pessimista com relação ao futuro. Mas, próximo a estas coisas todas que têm acontecido, eu quero pensar como diz a música do Lulu Santos, “eu vejo um mundo melhor no futuro”. O que eu não faço mais neste momento é jogar a toalha de novo! Houve momentos em que eu meio que joguei a toalha, assim, me senti fraco, quis desistir de trabalhar com arte, pensei que deveria procurar outra coisa. As leis de incentivo não dão conta de todo mundo. Por ter trabalhado um tempo dentro do Sesc passei a entender o outro lado, de que a instituição mesmo sendo responsável ela não dá conta de tanta gente que, na verdade, está produzindo e que precisa continuar produzindo dentro do seu contexto e pensando nas suas próprias localidades. Qual é a dança feita no Piauí? Qual é feita no Amapá? Qual é a dança que é feita no interior de Mato Grosso? Elas são tão importantes quanto a feita no grande eixo Rio-São Paulo.

De sua perspectiva, qual a dança feita em Cuiabá?

Nossa, em Cuiabá tem muitas danças sendo feitas! São coletivos, grupos, pessoas e toda uma cena que escreve uma nova etapa da história da dança regional. Não vou citar nomes pra não cometer injustiças. Falo isso, inclusive, numa tentativa de entender e assinar meu trabalho, cada vez mais, como um artista de Mato Grosso. Quem me formou foi a minha vivência aqui. Por mais que eu, nos últimos anos, viajei bastante e pude entrar em contato com outros artistas e que foi extremamente enriquecedor, sempre serei atravessado pelas minhas vivências e formações neste Estado. Há também uma dança em Mato Grosso acaba por ser muito embasada na academia de dança, com preparação do corpo para executar coreografias e que pensa muito a dança como uma atividade extra, física, ou hobby. Isso significa dizer muita gente que faz dança não com um projeto, ou como profissão… E não tem problema nenhuma a dança que acontece como terapia, ou diversão e, inclusive para que isso aconteça, existem profissionais dentro destes meios!

Então, a dança que existe por aqui caminha cada vez mais para um lugar de respeito com os profissionais da dança, que não são apenas os educadores físicos que também são grandes profissionais, mas também falo dos artistas profissionais. É importante notar que neste Estado não existe uma formação específica em dança e, agora que existe formação em teatro com a Escola MT de Teatro, lembrando do histórico de Primavera do Leste e Alta Floresta, dos Cursos Livres, ainda assim é muito pensando em teatro. Eu estava conversando com Marília Beatriz e ela me disse que sente a falta, de novo, de “um pensamento coreográfico em Mato Grosso”. Quando ela fala isso, não fala apenas da dança, ela também está falando de um teatro que esqueceu a coreografia, porque “coreografar é desenhar no espaço” e o ator em cena também coreografa.

Três verbetes pra você se virar: Referência, deferência e preferência.

Talvez eu seja um pouco piegas neste momento, mas a minha referência vai ser uma pessoa bem referência, que é o Marcelo Evelin, coreógrafo e artista-ativista do Piauí. A minha deferência vai para quem dá aula de dança nos lugares mais afastados, pois eu acredito que a dança é uma possibilidade de mudança. Então não seria a uma pessoa em si, pois tem tanta gente por aí, nestes lugares, querendo transformar as coisas… Dentro deste universo da dança, pensando nesta preferência, com todas as possibilidades que questionamento pra cima deste verbete, mas é por uma dança verdadeira.

Foto: Elizabeth Otton

Nude?

É um gênero na arte em que o corpo descoberto é matéria-prima.

Catastrophhe?

É aquele puxão no tapete que pode ou não fazer ir direto pro chão ou, com alguma inteligência, você pode se apoiar e não quebrar nenhum osso.

Bicha Tombada?

É uma piada que, depois de algum tempo, ficou séria pra mim. Porque fiz uma piada e as pessoas riram e eu fiquei pensando: porque que estão rindo tanto? Não era pra ser tão piada assim!

Conclusões em ponto de fuga:

Nossa… Tenho tido alguma dificuldade em concluir as coisas… Mas, acho que agora, deste nosso tete-a-tete, entendo que estou muito mais interessado em cassetetes que, em francês, significa quebra-cabeças (risos).

 

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