De volta aos artigos, dada a insistência de alguns amigos, sempre lembrando do meu grande amigo e incentivador inicial, o saudoso jornalista Marcos Coutinho, coloco novamente minha colher de pau em meio a tantos temperos que, individualmente, podem ser maravilhosos, mas, sem a devida harmonização, correm o risco de tornarem-se extremamente indigestos, podendo causar grande malefício  a quem se arriscar a provar a guloseima finalizada.

José Pedro Taques assumiu o governo em janeiro de 2015. Consagrado pelas urnas, transformara-se no cavaleiro audaz que vinha tirar Mato Grosso de anos de escuridão, onde a corrupção endêmica já parecia não ter como ser combatida. Éramos um Estado condenado, sem a menor perspectiva de voltar aos tempos em que Mato Grosso nos enchia de orgulho.

Com maioria retumbante na Assembléia Legislativa aprovou o que quis, trajando a toga que durante tantos anos foi seu principal símbolo, na brilhante carreira que construiu no Ministério Público Federal. Mostrava subliminarmente a  marca de que viera para mudar. Acreditou, de verdade, que era o Senhor de todas as tarefas, aquele que viera para proporcionar um Tempo de Transformação.

Amigos, correligionários, antigos companheiros já não mais importavam e os servidores públicos, tão importantes na construção da sua vitória, já não mais eram sequer ouvidos. A briga pelo RGA foi o primeiro sinal de incompetência para gestão e inapetência para o diálogo, além de transformar-se em uma luta inglória. O resultado foi a perda, talvez irrecuperável, de um segmento tão importante não só no processo eleitoral mas também na construção de políticas públicas.

A gestão desastrosa causou-lhe enorme dano: o Orçamento de 2015 que à Assembléia fora devolvido para alterações sugeridas por seu corpo técnico, uma vez que fora elaborado pela equipe do ex- governador,  e o de 2016, de sua inteira responsabilidade, trouxeram  clareza cristalina que era um governo sem comando, sem uma equipe experiente em gestão pública e sem política.

O fantasma do atraso de salários de servidores, inativos e aposentados,  pesadelo maior e inimaginável por muitos anos, estava de volta, e o desespero começou a tomar conta de todos. O tempo passou, o mandato passou, a esperança passou e a saída encontrada para o injustificável atraso, continuava, como continua, em culpar os governos anteriores, com maior contundência o governo Silval Barbosa a que ele sucedeu.

Na verdade o Governo de Transformação não disse a que veio. Fez o que não deveria e não fez o que prometeu

Não repasse do duodécimo aos Poderes, não pagamento das emendas parlamentares, não pagamento a fornecedores, isso e muito mais fatos, criaram um ambiente de desconfiança, de discórdia e de desconforto entre os poderes constituídos. É um governador isolado, sem amigos e sem aliados que estejam dispostos a mostrar a cara em sua defesa.

A saúde nunca esteve em tamanho caos. Hospitais regionais,  hospitais filantrópicos, Pronto Socorro Municipal, enfim, todas as unidades de saúde em todo o estado vivem em estado de calamidade. Para piorar para o Cavaleiro é que já começam a pipocar na redes sociais as promessas incapazes de serem cumpridas feitas na campanha.

E isso causa um efeito devastador!

Descobriu-se que a corrupção na SEDUC continuava correndo solta, agora com denuncias de pagamento de propina, para pagar contas da campanha do atual governador. Secretários presos, Polícia Militar envolvida num escândalo da mais alta gravidade, a Grampolândia Pantaneira,  que além de colocar num mesmo balaio, parentes, altos funcionários, membros do MP e, pior, ainda sem solução, chega à porta do principal  gabinete do Palácio Paiaguás. Isso sem falar nas malfadadas “pedaladas” com utilização irregular do Fundeb, objeto de CPI em curso na Assembléia Legislativa.

Não se pode esquecer, também, da novela catastrófica do VLT, da vergonha da Arena Pantanal, das obras inacabadas do aeroporto, COTs, do córrego Mané Pinto entre outras tantas.

Mas José Pedro não se entrega. Não desiste. E  cada acusação parece dar-lhe  nova energia e usa a propaganda oficial para dizer à sociedade que nunca se fez tanto na história deste Estado.

Mas e daí? Passaram-se quase quatro anos, estamos entrando em novo período eleitoral e não se tem absolutamente nada de novo, nenhuma luz no fim do túnel. Pedro é candidato à reeleição, com possibilidade de ganhar por WxO, pois, por incrível que pareça, ninguém, dentro das desorganizadas oposições, apresenta-se com consistência, capaz de enfrentá-lo. Mas isso é assunto pra semana que vem, quando avaliaremos a mistura dos temperos daqueles que sonham com a vaga do Paiaguás.

*Ricarte  de Freitas é advogado, analista político e ex-parlamentar

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