O caldeirão ferveu na semana que passou. A greve dos caminhoneiros mostrou-nos claramente que somos um país sem qualquer planejamento estratégico. O movimento que estamos presenciando não é um movimento de partidos, de centrais sindicais. É um movimento que surgiu da insatisfação geral da população brasileira, aproveitando-se da greve de uma categoria que jogou o país na lona. Sem poder suprir o abastecimento, o Brasil, literalmente, parou. Ainda vamos levar algum tempo para calcular os prejuízos causados.

Aeroportos, hospitais, supermercados, postos de combustíveis, frigoríficos e tantos outros segmentos, com seus estoques zerados, colocaram-nos à beira do caos. Ainda é incalculável o perecimento de aves – fala-se em um bilhão – e suínos. Verduras e legumes apodrecidos bem como uma quantidade incalculável de leite foram jogados fora. 

Apesar de terem todas as suas reivindicações atendidas, anunciadas pelo presidente Temer na noite de domingo (27), e com publicação no Diário oficial, publicadas em edição extra de hoje, alguns setores insistem em manter o movimento, já sem qualquer significado. O Fora Temer, quase às vésperas da eleição, é, no mínimo, ação de líderes que apostam no quanto pior, melhor. 

Um país continental como o nosso jamais poderia deixar de planejar e implantar ferrovias e hidrovias que, a um preço muito mais barato que as rodovias, reduziriam drasticamente o custo do frete e nos colocaria em patamar muito superior para o desenvolvimento da nossa economia. A conta desse custo Brasil sempre acaba no bolso do cidadão. Já chegamos no limite. Não há qualquer explicação para trabalharmos quase seis meses para saciar a fome incontrolável, a sanha arrecadadora de impostos mal utilizados. Continuamos com a saúde sem solução, as estradas não têm manutenção adequada, serviços públicos de péssima qualidade e o que deveria o dever mínimo do Estado, nunca esteve tão longe de acontecer. A corrupção endêmica impede-nos de crescer, dominada por uma elite política que continua, apesar de todo o avanço da Lava Jato e outras ações moralizadoras, a manter a máxima do “quanto é que levo nisso”.

Reuniões de emergência, criação de Comitês de Gestão de Crise aconteceram ao longo da semana. Impressionante, o governo precisou de uma semana para reconhecer o caos e atender às reinvindicações de um setor que mobilizou toda a sociedade.

Aqui, no nosso quintal, não foi diferente. Nosso governador, além de não receber os líderes do movimento, e dedicar-se com afinco em Brasília, onde, como líder, poderia reforçar a importância de Mato Grosso na economia brasileira, preferiu continuar a busca da sua reeleição, acompanhando a Caravana da Transformação, desta vez no munícipio de Sinop, como sua principal política de governo. Viu-se, de repente, obrigado a voltar ao conforto do Paiaguás para criar o seu comitezinho de gestão da crise com chefes de outros Poderes, prefeito da capital e entidades de classe e o resultado foi que a montanha pariu um rato! Definiram editar um decreto declarando ponto facultativo nesta segunda. E só. Junte-se a isso que é uma semana quase morta pelo feriado da quinta-feira. 

Não vi, em momento algum, à exceção do senador Wellington Fagundes e do deputado Nilson Leitão, movimentação da bancada, na capital federal, participando da busca da solução para dar fim no desastroso movimento. O tempo das articulações pela busca da reeleição se sobrepôs a outros temas de menor importância.

Ninguém quer abrir mão das suas receitas. Nem União, nem Estados nem municípios aceitam fazer um corte profundo nas despesas. A máquina pública  é cada vez mais inchada, gastando mal e despropositadamente. Aqui em Mato Grosso tudo é mais caro. O ICMS, cobrado pelo governo do estado, é um dos maiores do país, além da criação constante de Fundos arrecadatórios que não dão solução para o que poderia estar em melhor situação, como a saúde pública.

Mantendo o foco no nosso quintal, já passou da hora de pensarmos seriamente em quem elegeremos para arrumar essa bagunça toda, para retomarmos a esperança de um Mato Grosso que queremos, longe, muito longe daquele que, hoje, temos.

Nas articulações para a escolha de candidatos há uma destemperança total: há um governador que vai à reeleição tentando juntar os cacos dos aliados perdidos no caminho. Seus principais aliados pularam fora e tentam formar uma aliança de oposição, assumindo uma oposição de que nunca fizeram parte. Rossato, Pivetta, Mauro Mendes, Jayme Campos, Fabio Garcia, Eduardo Botelho, outros deputados estaduais e um exército de descontentes não conseguem chegar a um denominador comum. Sonham pular todos dentro da mesma panela, só não chegam a um acordo sobre quem comandará o processo. 

Rossato e Pivetta desapareceram do noticiário. Jayme ataca Pedro, mas recua quando confrontado. Mauro que, praticamente havia desistido, volta aos ataques e continua sendo a esperança de muitos. Wellington diz que vai mas não se apresenta com convicção e a postura de quem vai, de fato, encarar a briga que ele sabe será sanguinolenta e teme enfrentar pelo seu perfil de conciliador. Já há até quem fale que há conversas entre Pedro e Emanuel Pinheiro. No meio de tanta boataria, o líder do governo na Assembleia, Wilson Santos, abre apostas garantindo que Mauro estará pedindo voto para Pedro. É esperar para ver.

Mas como em política tudo parece ser possível, não há que se duvidar que nos bastidores, nas conversas ocultas das madrugadas, estejam tentando harmonizar temperos que nunca se misturaram, em seu próprio benefício, é claro. E, assim, segue o baile.

*Ricarte de Freitas
Advogado, analista político e ex-parlamentar estadual e federal

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