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Neri Geller: não tenho tempo de ficar nas redes sociais, tenho que trabalhar, cuidar do meu mandato

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Neri Geller: não tenho tempo de ficar nas redes sociais, tenho que trabalhar, cuidar do meu mandato
(Foto: Ednilson Aguiar/ O Livre)

Da Câmara Municipal de Lucas do Rio Verde (330 km de Cuiabá) ao comando do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Governo Dilma Rousseff (PT). Produtor rural, empresário e líder de movimentos como o “Grito do Ipiranga”, realizado em 2006 contra a política agrícola e econômica do governo de Luís Inácio Lula da Silva (PT).

Em 2018, Neri Geller foi eleito deputado federal por Mato Grosso. Acabou preso pouco tempo depois do pleito, num desdobramento da Operação Lava Jato, mas a prisão foi considerada arbitrária e três dias depois o progressista foi posto em liberdade. Empossado na Câmara Federal, Geller foi escolhido, por unanimidade, líder da bancada de Mato Grosso no Congresso Nacional.

Agora, pouco mais de 70 dias após a posse, o deputado fala sobre os desafios de exercer a liderança da bancada, as ações no Parlamento Federal, o governo Jair Bolsonaro (PSL), questões polêmicas envolvendo o vazio sanitário em Mato Grosso, sua prisão e até mesmo os tuítes de colegas de bancada.

Confira as cinco perguntas que Neri Geller respondeu para o LIVRE, com bônus:

1 – Como líder da bancada de Mato Grosso no Congresso Nacional, o senhor tem a missão de indicar ao Governo Federal os nomes dos futuros representantes regionais de órgãos como Dnit e Incra. Como está sendo a escolha desses nomes, está havendo conflito ou os escolhidos serão consenso na bancada? Já existe uma definição?

Neri Geller – Eu levei os nomes que apresentados pela bancada, não faço absolutamente nada sem ter o consentimento da maioria. Isso foi discutido de forma coletiva, eu sou apenas o coordenador, não quem indica. Nos reunimos e sugerimos alguns nomes, dentro dos critérios que o Governo Federal exige, como currículo, idoneidade, capacidade técnica e ideologia alinhada com esse governo. Agora estou acompanhando as indicações na Casa Civil até termos uma definição.

2 – Ainda como líder da bancada, como tem administrado os conflitos entre os parlamentares de Mato Grosso, como por exemplo entre os deputados Nelson Barbudo (PSL) e Carlos Bezerra (MDB)?

Neri Geller – Todos os conflitos são normais, até porque estamos numa Democracia. Como liderança, estou superando isso fazendo todas as ações de forma conjunta, botando os problemas na mesa, discutindo, tomando decisões pela maioria, fazendo a coisa certa. Sou muito grato, me dão muito respaldo, todas as ações que implemento me dão ajuda, me dão suporte, independentemente de questão ideológica e partidária, estamos todos muito coesos.

Tem muitas coisas que avançaram. Estou muito confiante na questão da regulamentação da compensação da Lei Kandir, esse é um foco forte que eu tenho e todo mundo da bancada assimilou, porque Mato Grosso tem direito a cerca de R$ 4, R$ 5 bilhões da compensação por ano, senão conseguirmos todo valor, ao menos uma parte. Outro tema importante foi a questão do leilão da Norte-Sul, que a bancada acabou influenciando de forma direta para que o Tribunal de Contas da União desse parecer favorável e não cancelasse o edital de licitação. Esse foi um avanço muito forte.

As divergências a gente supera com bastante diálogo. Os temas centrais, mantenho na mesa de forma democrática, e também me coloco com firmeza de que o nosso papel como bancada não é defender A ou B, ou cargos, nosso papel é muito maior. Nosso estado é o maior produtor de soja, maior produtor de milho, tem um potencial econômico extraordinário, nós não podemos nos apegar as coisas pequenas. Então, é dessa forma que estamos superando isso, eu procuro sempre conciliar e sempre jogar com a verdade. Quando tem um problema, todo mundo se reúne, conversa, dialoga e essas divergências pontuais acabam sendo superadas pelo trabalho macro que estamos fazendo.

3 – O início do governo de Jair Bolsonaro (PSL) foi marcado por declarações polêmicas, anúncios feitos e desfeitos, queda de ministro. Na opinião do senhor, o governo já superou esse momento conturbado? Qual o balanço que o senhor faz desses primeiros meses de gestão?

Neri Geller – Nesses primeiros 100 dias do governo e 70 dias nossos com atuação parlamentar, realmente houveram muitos tropeços, o que é normal. O governo entrou e não conhece a máquina pública, até porque não vem de uma sucessão. As mudanças muitas vezes são intempestivas, problemáticas, mas nós estamos ajudando o governo, por meio do diálogo e ações concretas e já conseguimos corrigir alguns rumos.

Recentemente, por exemplo, nós, da Frente Parlamentar, enfrentamos o governo e mostramos que a aproximação com os Estados Unidos é importante, mas mais importante é a economia do nosso país e do nosso estado. Mostramos para ele que, comercialmente, hoje a China e o Mundo Árabe são muito mais interessantes do que os Estados Unidos. O Bolsonaro entendeu e recuou. Fez uma reunião com os todas as embaixadas do Mundo Árabe, cuja relação tinha ficado estremecida, e esse encontro foi importante para que a gente não perca esse mercado.

Também fomos chamados na Casa Civil e estamos bem alinhados, estamos ajudando a estruturar a base de governo para que matérias importantes para o país sejam votadas, como a questão da previdência, O governo trouxe de volta o diálogo e está começando a dar o rumo, estamos bastante confiantes. Houve muitos tropeços, mas agora o diálogo e os encaminhamentos, no nosso entendimento, estão corretos.

4 – Recentemente veio à tona uma polêmica envolvendo o plantio tardio de soja em Mato Grosso. Isso porque, a Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja) teria sugerido um novo calendário de plantio, que teria sido aprovado pela maioria dos produtores, e agora está sendo questionado pelo Indea, que promete multar quem plantar fora da época prevista em normativa. Como ex-ministro da Agricultura, produtor rural e representante do agro no Congresso Nacional, qual a opinião do senhor sobre o plantio tardio?

Neri Geller – É muito importante o produtor ter espaço e tempo para produzir a semente da segunda safra, mas mais importante que isso é preservar a sanidade ambiental e a tecnologia. Eu não estou a favor do sementeiro, mas sou a favor de que cada produtor, e a própria Aprosoja, façam uma reflexão sobre isso.

A discussão sobre o vazio sanitário tem que ser técnica. O vazio sanitário não pode ser tratado como uma questão política e também não pode ser só uma discussão econômica, do ponto de vista do produtor, de imediato, porque quando você faz a sua semente e prejudica a questão da sanidade, você está prejudicando a sustentabilidade econômica num futuro próximo.

Então, é importante que os sementeiros estejam organizados e que o nosso produtor possa salvar as suas sementes, mas dentro de um prazo. Não podemos fazer isso de forma aleatória. O Indea está correto e o sementeiro tem a sua preocupação, que também é coerente.

5 – Logo após ser eleito, o senhor acabou preso acusado de envolvimento em esquema de corrupção. Depois que assumiu o mandato, o senhor já chegou a sofrer algum constrangimento devido a este fato? Houve alguma repercussão do assunto no Congresso?

Neri Geller – Eu tive dois problemas na minha vida que me abalaram. O primeiro deles foi em 2014, quando houve a questão da Terra Prometida. Meus irmãos foram presos e saíram mais de 8 mil matérias na imprensa dizendo que eu estaria envolvido, sendo braço político e econômico de uma quadrilha. Menos de 60 dias depois eu fui completamente inocentado, com um relatório conclusivo da Polícia Federal e meus irmãos nem indiciados foram, foi uma tremenda de uma injustiça. Eu respeito a Polícia Federal, acho que eles têm que fazer o trabalho deles, mas nesse caso foi cometido um absurdo excesso.

A outra questão que me deixou muito triste e abalado politicamente, foi essa prisão no caso da Lava Jato, mais especificamente da JBS. Eu fui preso, mas não baixei a cabeça e, em menos de 24 horas, eu consegui um habeas corpus na primeira instância, que mostrou que a prisão foi completamente irregular. Saí da prisão, conversei com a imprensa e reestabeleci a verdade. Há cerca de 15 dias, o Supremo Tribunal Federal julgou esse habeas corpus e votou pela irregularidade da prisão.

Aqui no Congresso Nacional, em momento algum eu fui constrangido, pelo contrário, eu tive a confiança dos dez parlamentares que me colocaram como líder da bancada. Modéstia à parte, chego em todos os Ministérios e sou chamado de ministro, pelo trabalho que desenvolvi por Mato Grosso e pelo país.

Eu construí o maior programa de armazenagem da história do país, que alavancou a produção pelo país a fora, foram R$ 25 bilhões financiados em 15 anos. Elaborei o programa de acesso à inovação tecnológica, que financia a automação das propriedades e a agricultura de precisão, que trouxe para modernidade os módulos de produção da avicultura e da suinocultura do Sul do país. Fiz o acordo de contenção do algodão, fui lá nos Estados Unidos, na Casa Branca, com o Jato da FAB, para assinar o convênio que levou R$ 2 bilhões para o caixa dos nossos produtores e 51% desse recurso foi para Mato Grosso. Renegociei o endividamento agrícola de várias regiões, influenciei fortemente na estruturação dos portos de Miritituba (PA). Por esse trabalho, eu sou reconhecido. Tenho apoio integral e voz ativa na Frente Parlamentar, na Casa Civil, não pelo que aconteceu comigo, mas pelo que eu fiz pelo Estado e pela confiança que as pessoas tem em mim.

Nessa questão da prisão, quiseram me vincular ao Eduardo Cunha. A minha agenda é pública, durante os 11 meses que estive como ministro não recebi o senhor Eduardo Cunha nenhuma vez, eu era desafeto dele e isso é público. Também não era chegado do Rodrigo Maias. Então, eu não tenho nenhum vínculo e o mais importante disso tudo, nos depoimentos dos quatro principais delatores da Lava Jato, todos são categóricos em falar que todo tratamento que tiveram comigo sempre foi 100% republicano, que nunca tiveram nenhuma ação de propina ou relacionada a qualquer problema. Então, estou tranquilo e feliz pela forma como estou conseguindo trabalhar aqui. Nós já fizemos muito nesses 70 dias e vamos continuar fazendo muito por Mato Grosso e pelo Brasil.

Bônus – O senhor consegue acompanhar as centenas de tuítes diários do deputado José Medeiros (Pode)?

Que pergunta mais picante (rs). O Medeiros é uma grande figura, gosto muito dele, tenho uma boa relação, ele tem me ajudado, somos muito próximos, mas não tenho tempo de ficar nas redes sociais, tenho que trabalhar, que cuidar do meu mandato. Nas redes sociais, me comunico só o necessário, olho as notícias, procuro colocar conteúdo, mas não gosto de entrar em polêmica, ficar criticando os outros, faço política construindo.

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