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Não seja uma dama

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Não seja uma dama
(Foto: Divulgação/Pixabay)
“Qualquer coisa que você escolher, qualquer caminho que seguir, eu espero que você não seja uma dama. Espero que você encontre um jeito de quebrar algumas regras e criar um pouco de confusão. E espero que muito dessa confusão seja em benefício das mulheres”.
(Nora Ephron, escritora norte-americana)
Pensei no que Nora Ephron escreveu enquanto lia o livro Madam President, de Jennifer Palmieri. Ela estava à frente da campanha de Hillary Clinton na eleição de 2016, nos EUA.
Fica difícil colocar o tema da obra no contexto brasileiro, uma vez que já tivemos uma mulher na presidência e nem nos damos conta disso. Na verdade, passamos por cima dessa conquista como se chegar ao poder fosse a coisa mais natural do mundo.
Não é.
Mas não vou falar aqui de nossa omissão, muito menos quero entrar na seara política nacional.
Quero falar do que Palmieri observou enquanto Clinton lutava para ocupar o posto mais poderoso do mundo, a Casa Branca.
A obra é uma carta às mulheres que pretendem ser candidatas a presidente e, eventualmente, ocuparão o cargo. Nela, Palmeiri reflete o quanto nossa sociedade é contraditória. A ambição e determinação de Clinton sempre foram as forças motrizes de sua vida. Mas, por incrível que pareça, tais características a afastaram dos eleitores.
Um dos grandes ensinamentos de Palmieiri: concorde menos e chore mais. Isso mesmo, você ouviu direito. Mostre seu lado vulnerável, não finja ser de aço. Mostre que é humana como todos os outros. Mostrar fragilidade não vai prejudicar seu caminho. Afinal, eu sei, você sabe: nós damos conta do recado. Seja ele qual for.
E esteja preparada para tudo. Na busca pelo poder, seja na política ou no mundo dos negócios, você será julgada por tudo: pela agressividade para atingir suas metas, sua escolha pela maternidade (ou não), sua inteligência, seu gosto nas roupas, a cor do cabelo. Esteja pronta.
O livro traz reflexões interessantes sobre as conquistas femininas, nossas dificuldades e o preço de nossas batalhas.
Mas, a maior lição para mim, é a de questionar. Não seja resignada. Não aceite o que nos foi imposto sem ao menos refletir.
Questione. Avance. Quebre paradigmas.
Volto ao pensamento de Nora Ephron e algumas ideias me vêm à mente. Questões antigas, mas que estão enraizados no modus operandi de nossa sociedade machista. Seguem algumas que me incomodam:
Por que mulher que sai com muitos tem fama de galinha, fácil, e homem de garanhão?
Por que gostamos se o menino é assanhado, mas julgamos a menina que também é?
Por que, no trabalho, achamos estranho uma mulher na liderança, mas aplaudimos se for um homem?
Por que, em negócios familiares, é comum o patriarca delegar o comando para o filho e não para a filha?
Por que há mais homens no campo das ciências?
Por que ainda enaltecemos quem é bela, recatada e do lar?
Por que a traição de um homem é aceita e a da mulher é intolerável?
Por que a mulher perfeccionista é bruxa e o homem é assertivo?
Por que roupas curtas podem denegrir uma mulher, mas nada abala a reputação do homem?
Por que homem grisalho é tigrão e mulher, acabada?
Por que dobrinhas na barriga do homem são sexy e na mulher, desleixo?
Portanto, não seja uma dama. Quebre regras ou, ao menos, questione cada uma delas.

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