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Naine Terena: “precisamos voltar nossas atenções para o plano estadual de cultura”

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Naine Terena: “precisamos voltar nossas atenções para o plano estadual de cultura”

Um dia acompanhava conversas na língua portuguesa, no outro, estava sentada embaixo de uma árvore com pessoas falando no idioma terena. A pesquisadora e arte-educadora, Naine Terena cresceu entre as idas e vindas da cidade e a aldeia. A família materna, é toda indígena e ajudou a moldar sua identidade. Já a paterna, é formada pela miscigenação de negros, brancos e também índios.

“Meu pai foi bastante atuante na militância em prol da cultura cuiabana e é artista plástico e escritor. Já minha mãe, é artesã dedicada, que valoriza suas raízes. Foi uma mistura perfeita para nortear o caminho que os filhos seguiriam, todos, envolvidos com cultura e educação”.

Naine, que acaba de retornar da Suíça, onde participou, a convite, do Verbier Art Summit, sempre esteve engajada em assuntos ligados aos povos tradicionais e à cultura popular mato-grossense.

Organizado em parceria com o diretor do museu Jochen Volz – Pinacoteca de São Paulo, Brasil – o Verbier Art Summit 2019 teve como tema “Nós somos muitos: arte, as verdades políticas e múltiplas”.

No evento, ela apresentou uma abordagem interdisciplinar ao tema, como artista, ativista e pesquisadora, cujo trabalho gira em torno da sociedade, da arte e dos direitos indígenas.

Em entrevista ao LIVRE, ela falou um pouco sobre sua trajetória, a participação no evento na Suíça e a atual conjuntura da cultura mato-grossense.

1 – Você acaba de voltar da Suíça. Fale um pouco sobre o evento e sua participação lá.

Naine Terena: Este ano o evento apostou na problematização do tema “somos muitos”. A arte move ações. Para isso, o curador Jochen Volz reuniu palestrantes de diferentes segmentos, da neuropsiquiatria a arte-ativistas. Nesse contexto, seu interesse era apresentar múltiplas verdades. Minha participação se deu porque Jochen conhece minha pesquisa, o trabalho de comunicação e ativismo.  Na palestra pública, falei do ‘silenciamento’ de narrativas dominantes e as pautas indígenas no cenário atual do Brasil, falei da atuação de artistas contemporâneas indígenas e que é hora de ocuparem espaços na história da arte.

De Cuiabá para a Suíça: Naine participou de grupos de discussões e palestrou Verbier Art Summit 2019

2 – Há uma distância muito grande entre os europeus e brasileiros quando o assunto é arte?

Naine Terena: Além da palestra, houve momentos de conversas em grupos menores. Curadores, diretores de grandes instituições, artistas, colecionadores do mundo estiveram lá. Sim, existe um choque grande, no trato com os artistas. Nos países europeus, a exemplo, investe-se na compra de obras de artes, há reconhecimento dos processos curatoriais; os artistas que ali estavam tinham seus galeristas e financiadores que possibilitam a produção de obras. Esses momentos foram marcados pela necessidade de se pensar a arte e sua ampla possibilidade de mudar o mundo.

3 – Em face dessa imersão cultural que você viveu, como você avalia a realidade cultural de nosso Estado? Retrocedemos, estagnamos ou avançamos?

Naine Terena: Ainda estou analisando. O Brasil passa por mudanças nas suas políticas culturais, na forma como se vê a arte e o artista e, até mesmo, o conceito de cultura. Isso muda a importância dela para a população e, consequentemente, esvaziará ou fomentará políticas de investimento público e privado.

Trabalho com artistas e produtores culturais em Mato Grosso. Artistas que sempre cito como arte-ativistas, por se empenharem em levar suas verdades ao público.  São criativos tanto na fruição de seus trabalhos como na forma de se manter no mercado das artes.  Então, temos de certa forma, avanços e retrocessos.

4 – Como a cultura mato-grossense pode avançar efetivamente?

Naine Terena: Nesse momento é preciso voltar o olhar para o plano estadual de cultura. Ele foi construído para pautar os 10 anos de cultura no Estado. O que está sendo cumprido deste plano?

5 – Você tem circulado muito por eventos nacionais dedicados a pensar a cultura no Brasil. Como foram suas participações mais recentes?

Naine Terena: Tenho acompanhado o movimento indígena organizado e participo de eventos de forma autônoma e contribuo dentro das minhas possibilidades.  Em novembro de 2018, fui selecionada para participar do Evento de Indústrias Criativas (MICBR), organizado pelo Ministério da Cultura. Participei de eventos de educação, ocupando lugar de fala sobre a diversidade. Um destes foi etapa preparatória para receber alunos indígenas na Unicamp. Isso, com certeza, foi um marco, pois, este ano, a Unicamp recebe seus primeiros estudantes indígenas.

Também participei de outros dois eventos da área de psicologia, um do Instituto Silva Lane e outro da Abrapso. Um marco também, pois a pauta foi a saúde mental indígena. Além disso, participei de ações da Bienal de São Paulo, fui curadora do Cine Curumim, Festival de Cinema Indígena e em eventos de alcance local. Participei do Seminário de Políticas Culturais, organizado por dois anos, no Sesc Arsenal.

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