Já pensou em ir à uma churrascaria e, ao invés de carne bovina, ser servido com um rodízio de carnes feitas com vegetais ou fabricadas em laboratório? Essa é uma realidade que está cada vez mais próxima dos consumidores e, em Mato Grosso, já é objeto de estudo.
O Estado já conta com produção de hambúrguer vegetal que, neste mês, teve a primeira exportação para a Europa. A produção é feita pela planta da Marfrig, em Várzea Grande (região metropolitana).
De acordo com a coordenadora do curso superior de Tecnologia em Alimentos da Fatec/ Senai- MT, Marcia Scabora, a produção de proteína com base vegetal – que é chamada de plant based – ou as carnes artificiais feitas em laboratório atendem a um expectativa de mercado que vem crescendo no mundo todo.
“De acordo com a FAO/ONU, até 2050, o mundo terá cerca de 10 bilhões de habitantes e a produção de proteína será um desafio até lá. Dentro deste desafio, o Brasil está entre os maiores produtores de carne e grãos do mundo”, explica Marcia.
Proteínas alternativas
Marcia Scabora explica que existem inúmeras formas de carne vegetal em desenvolvimento e cita como exemplo produtos a base de: soja, grão de bico e ervilha.
Já a carne de laboratório é uma imitação da carne animal, só que produzida de forma controlada e artificial.
Outro tipo de proteína alternativa é a que tem como base os insetos, que segundo Marcia, possuem teor de gordura, fibras e minerais.
A coordenadora enfatiza que é preciso desenvolver essa variedade de produtos com base em valores como sustentabilidade e que agregam valor alimentar. Para garantir isso, a Fatec Senai tem desenvolvido cursos MBA em alimentos – que traz em sua grade de estudos as proteínas alternativas.
LEIA TAMBÉM
Outro aspecto que este tipo de produção engloba é o fato de que o mercado vegetariano e vegano é cada vez mais crescente, além da expansão da chamada cultura “fitness”, que busca produtos saudáveis e ecologicamente corretos.
Debate político
Se as proteínas alternativas são promissoras para a economia, no ambiente político, causam estranheza – principalmente para o deputado federal Nelson Barbudo (PSL), que é pecuarista.
Em maio de 2019, ele apresentou o projeto de lei nº 2.876, que tentar proibir o uso da palavra “carne” assim como seus sinônimos e derivados como “bife”, “hambúrguer”, “filé” e “bacon” para produtos produzidos de forma artificial ou a base de vegetais.
“O grande mérito nutricional da carne é a quantidade e a qualidade dos aminoácidos constituintes dos músculos, dos ácidos graxos essenciais e das vitaminas do complexo B presentes, tendo também importância o teor de ferro”, diz o deputado na justificativa do projeto.
Para o parlamentar, a palavra “carne” está sendo utilizada de forma equivocada quando se refere às proteínas alternativas e seu projeto teria como objetivo “evitar essa grande confusão que permeia o mercado”.
Segundo ele, além de criar uma concorrência entre os produtos de origem vegetal com os de origem animal, o consumidor é induzido ao erro, por estar “ingerindo extratos, polpas de frutas e etc., que não possuem o mesmo caráter nutricional”.
E o preço compensa?
Marcia Scabora explica que o preço da proteína alternativa ainda não é o grande diferencial do produto. Como a produção ainda é basicamente industrial, o custo é elevado.
Apesar de alguns produtos a partir da carne também serem produzidos de forma industrial – como é o caso do hambúrguer – a diferença é a larga escala com a qual produtos à base de carne animal são produzidos, o que resulta em preço bem mais acessível.
Para se ter ideia dos preços, 1 kg de hambúrguer de soja custa em média R$ 41, enquanto que a mesma quantidade de hambúrguer bovino custa R$ 15.