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Na reta final da campanha, pesquisas podem influenciar o “voto útil” do eleitor

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Na reta final da campanha, pesquisas podem influenciar o “voto útil” do eleitor

Entre os maiores desafios para os candidatos nas eleições 2018 está a capacidade de levar os eleitores às urnas. A expectativa neste ano, porém, é de que cerca de 30% dos eleitores não compareçam às urnas ou votem branco/nulo, superando os 22% do pleito passado.

Um fenômeno constatado que deve aparecer com mais força neste pleito é o voto por rejeição – aquele em que o eleitor decide seu voto não pelo candidato em si, mas procurando a derrota do candidato que ele rejeita. Dentro deste cenário, as pesquisas de intenção de voto podem ser ainda mais definitivas. É o que defende Fernando Assunção, empresário especialista no ramo de pesquisa.

Para ele, o que se vê com muita força, tanto nas pesquisas proporcionais, quanto nas qualitativas, é o poder e a influência dessas informações gerando a volatilidade do voto.

“Nós estamos presenciando um cenário onde as pessoas não querem tanto que o candidato A e B sejam eleitos, mais do que querem que o candidato C não ganhe a eleição. Para isso, elas estão, sim, levando em consideração os dados de pesquisas, o que pode ser bastante perigoso se elas não tiverem acesso a dados confiáveis”, alerta.

Outro fenômeno que está influenciando fortemente este pleito é a abrangência das redes sociais.

“Ainda não temos um dado ou uma fonte medidora oficial, que consiga ver a conversão de fato em voto, do impacto de cada candidato na rede social. Por exemplo, o quanto um candidato tem de alcance nas redes não representa necessariamente o quanto ele terá em voto. Quem conseguir esse tipo de dado um dia com certeza vai ter muito poder na mão”, diz Assunção.

Além destes fatos, o cientista político João Edisom lembra que as pesquisas no Brasil ainda sofrem com o capitalismo, já que uma pesquisa eleitoral custa caro e quem paga quer estar à frente.

“Em nosso país temos paixão na hora de votar e o eleitor tem a tendência de não querer perder o voto, sendo influenciado diretamente pela pesquisa. O que temos que repensar é no formato como ela vem sendo desenvolvida, porque quem paga com certeza quer estar à frente e isso é possível, até porque não é vedado o uso de programas de edição de imagens na divulgação delas”, ressalta.

O cientista lembra ainda que, neste ano, a campanha eleitoral está sendo balizada por discursos extremistas e não em propostas, o que pode resultar em um governo fraco e extremamente instável.

“Não estamos discutindo política, mas sim conceitos. Não vemos propostas, mas sim liberais contra conservadores. O que temos que ter em mente também é que o conservador é liberal na economia e vice-versa. Desta forma, temos uma grande chance de que o governo que assumir sofra um impeachment logo no início do mandato”, explica, ainda lembrando que na história do Brasil o Congresso não derruba governo por crimes ou corrupção, mas sim por apelo popular.

Abstenções e nulos vão impactar na escolha

No primeiro turno da eleição presidencial de 2014, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral, foram às urnas 115,1 milhões de eleitores, sendo que 4,4 milhões votaram em branco, outros 6,7 milhões anularam e 27,7 milhões não compareceram. No segundo turno, o número de eleitores que não foram votar aumentou, chegando a 30,1 milhões. Essa quantidade de votos seria suficiente para definir quem seria o vencedor para o cargo mais importante da nação e mudar o rumo do país.

Na tentativa de alterar este cenário, a Justiça Eleitoral lançou uma campanha reforçando que “o voto é a manifestação de maior relevância na democracia, sendo fundamental para sua consolidação”.

Na campanha, a Justiça Eleitoral ainda esclarece ideias equivocadas do processo eleitoral. Por exemplo, o erro de se acreditar que a eleição poderá ser anulada se a maioria votar em branco. Essa ideia tem se propagado porque os votos branco e nulo não são levados em conta para a apuração dos resultados das eleições. A publicidade vai destacar ainda que votar em branco “não é mecanismo de protesto e só contribui para a escolha de políticos com um número menor de votos”.

Ainda de acordo com o cientista político João Edisom, neste ano, por conta das características das eleições, o número de eleitores que deixarão de escolher um dos candidatos deve ser ainda maior. “Já é uma tendência na política brasileira o crescimento desses brancos e nulos. Isso pode ser ainda mais intenso por conta das circunstâncias da campanha. Os recursos para que os candidatos divulguem as propostas estão mais escassos”.

Edisom lembra ainda que o sistema político brasileiro é mesmo feito para dificultar a compreensão do eleitorado e beneficiar uma boa fatia dos candidatos.

“O sistema político brasileiro está em crise e temos um descrédito com os governantes. Temos o episódio da prisão do Lula e vários políticos processados, como o Aécio, que devem acirrar ainda mais este sentimento”, afirma.

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